Lives de Ciência

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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Entrevista com um neurocientista - Márcio Flávio Dutra Moraes

Com a publicação do manifesto "Eu apoio a Ciência Brasileira" em que um grupo de pesquisadores brasileiros na área de neurociências criticam o Prof. Dr. Miguel Nicolelis, quis esclarecer alguns pontos.

Por email, entrei em contato no dia 23/fev/2013 com um dos signatários do manifesto, o Prof. Dr. Márcio Flávio Dutra Moraes, da UFMG, cuja equipe também desenvolve projeto de neuroprótese de sensor de infravermelho. Abaixo segue a entrevista gentilmente concedida pelo Dr. Moraes.

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GR. Antes de mais nada, poderia nos contar resumidamente a trajetória de Núcleo de Neurociências da UFMG e como foi o convite para sua participação no comitê gestor do INCeMaq?

MM. Muito resumidamente, o NNC é um grupo de pesquisa multidisciplinar formado atualmente por 5 docentes, 17 alunos de pós-graduação, 3 pós-docs além de vários alunos de IC e estagiários. O grupo foi formalmente criado em 2000 com o seu credenciamento no Diretório de Grupos de pesquisa do CNPq. (ver www.nnc.ufmg.br para mais detalhes). O grupo possui diversas cooperações nacionais e internacionais, está vinculado a uma PG nível 7 CAPES e possui diversos projetos aprovados em andamento (p.e. participação na criação-implementação e coordenação do Centro de Tecnologia e Pesquisa em Magneto Ressonância – CTPMAG: http://www.nnc.ufmg.br/CTPMAG).
Quanto ao convite, eu estava fazendo um sabático na Inglaterra (King’s College London) quando fui convidado pelo Prof. Dr. Sidarta Ribeiro para fazer parte da escrita e submissão ao CNPq de um projeto para o INCT (o INCeMaq). Para contextualizar, na época, um ex-aluno meu de doutorado realizava seu Pós-Doutorado no ELS-IINN; hoje o Prof. Dr. Vinícius Rosa Cota é docente da Universidade Federal de São João del Rei. Uma vez aprovado o INCT, os líderes de grupos de pesquisa que empenharam suas equipes para executar partes do projeto foram convidados a compor o CG.

GR. Quais eram exatamente as atribuições e o modo de funcionamento do comitê gestor do INCeMaq? Somente o coordenador convocava as reuniões? Havia comunicação fora das reuniões - por meio de e-mails, telefones, pessoalmente?

MM. Quanto às atribuições do CG de qualquer INCT, peço gentilmente que consulte o CNPq e/ou outros INCTs que possuam páginas na internet. O INCeMaq foi formado por um grupo de colegas pesquisadores com os quais me sentia muitíssimo à vontade, extremamente competentes, abertos à colaboração e promoviam um ambiente informal e agradável. Já conhecia pessoalmente alguns dos membros do CG; os demais conhecia pela reputação na comunidade científica nacional. Dito isto, apesar das comunicações e convocações formais serem feitas pelo coordenador, que era também muito acessível, todos mantínhamos um relacionamento profissional e pessoal muito saudável.

GR. No manifesto é revelado que houve apenas duas reuniões entre 2010 e 2012. O que foi tratado na segunda reunião?

MM. Sobre o assunto do INCT, especificamente, peço que procure o Prof. Dr. Antônio Roque (também do CG) para esclarecimentos. Sinto-me pouco à vontade de falar sobre reuniões reservadas que envolvem outros colegas cientistas colaboradores do INCeMaq.

GR. No comunicado do desligamento dos membros do comitê gestor foi mencionada a razão do ato? O senhor tem informações a respeito do funcionamento atual do INCeMaq? Houve algum desentendimento anterior ao desligamento entre os membros do comitê gestor e o coordenador do INCeMaq?

MM. Novamente, não gostaria de mudar o foco do problema em questão. A carta divulgada não fala sobre isto.

GR. Qual foi a reação de V. Sra. e equipe diante do anúncio do trabalho de Nicolelis com implantes intracranianos ligados a sensores de infravermelho? O senhor chegou a entrar em contato com Nicolelis?

MM. Fiquei muito surpreso. O trabalho que vinculamos ao INCeMaq no início da escrita do projeto (meados de 2008) estava relacionado à utilização de estimulação elétrica profunda para supressão e predição de crises epilépticas. Esta escolha era mais lógica pois já tínhamos resultados positivos e, portanto, uma maior segurança quanto à prestação de contas do projeto. De fato, publicamos vários trabalhos com esta ideia nos anos seguintes, todos com reconhecimento declarado ao INCT (ver publicações no meu CV). Contudo, depois da aprovação do INCeMaq, nos reunimos em 2010 e decidi mostrar algo em que estávamos (no NNC) trabalhando, que considerávamos de mais alto risco de sucesso mas de grande repercussão para as neurociências. Não houve apoio para incorporar isto ao INCT e portanto, retornei para meu grupo de pesquisa dizendo que não havia interesse de vincular o referido projeto ao INCT. Não escrevi diretamente para o Prof. Nicolelis pois considerei que não havia muito o que conversar. Entenda, os aspectos legais deste processo me interessam muito pouco, estava entre colegas de trabalho, comungando de um mesmo projeto, com financiamento comum e, sem nenhum outro comunicado, vi uma de nossas linhas de pesquisa publicadas em âmbito internacional. Nossa equipe de trabalho no NNC é muito motivada, o que ajuda a lidar com o baque desta ordem, mas ainda assim é muito desagradável. Se o Prof. Nicolelis tivesse me dito na época que a ideia era interessante e que gostaria de compartilhar resultados, o que era exatamente o que eu estava fazendo (reunião de 2010) sobre uma linha que NÃO SABIA E AINDA NÃO POSSO AFIRMAR QUE ESTAVA SENDO FEITA EM QUALQUER OUTRO LUGAR DO GLOBO, nós poderíamos ter discutido parcerias e estreitado colaborações. Nunca sofri situação parecida na minha carreira (sou Pesquisador Produtividade I do CNPq), não é o caso de publicar em congresso e ter seu trabalho feito por outro grupo, o trabalho foi apresentado a portas fechadas para colegas colaboradores de um mesmo projeto INCT.

GR. Como surgiu a ideia em sua equipe do experimento de neuroprótese com sensor de infravermelho? No projeto de sua equipe, o estímulo dá-se na região do complexo amigdaloide; no trabalho da equipe de Nicolelis, na região do córtex táctil. Essa diferença pode ser considerada significativa nos designs dos projetos?

MM. A realidade da pesquisa em território brasileiro é bem diferente. A UFMG não tem ainda uma estrutura de apoio técnico em bio-engenharia para construir equipamentos, software e eletrônica embarcada para um experimento customizado em neurociências. Desta forma, os amplificadores que registram o sinal captado do receptor de IV(infra-vermelho), os estimuladores de IV, o sistema de recompensa e estimuladores elétricos controlado por computador tiveram que ser desenhados e construídos no NNC. A ideia do experimento é antiga, anterior a 2009, discutida em reuniões com alunos de PG do NNC na época; contudo, os primeiros resultados são de 2009 quando a primeira versão do Harware e Software ficaram prontas. Com relação à sua pergunta sobre a metodologia e o alvo anatômico da estimulação, permita-me fazer uma analogia didática da razão da escolha de uma área poli-modal. Imagine se você tivesse um celular que vibrasse toda vez que você apontasse ele para um determinado emissor de IV, mexendo o celular seria possível encontrar a origem do sinal emitido, correto? Contudo, isto não seria exatamente um sexto-sentido, pois o que existe é a percepção de um tremor (estímulo tátil) que controla sua interação sensório-motora para otimizar a resposta do sinal captado pelo sensor. O experimento do Prof. Nicolelis estimula diretamente o córtex primário deste sentido sensorial. Nossa escolha de uma área poli-sensorial, que recebe informação de todos os demais sistemas sensoriais, foi baseada na ideia de verdadeiramente construir um sentido sensorial novo (artificial) que poderia se integrar aos demais 5 sentidos. Nesta linha de raciocínio, o termo sexto-sentido para o caso de estimulação de uma área sensorial primária seria inadequado; sinestesia, ainda que discorde, talvez fosse mais apropriado. Apesar desta ser uma importante diferença conceitual, a metodologia é muito parecida e se baseia fortemente em uma integração sensório-motora complexa que resulta do implante físico do receptor de IV cirurgicamente na cabeça do animal. Uma informação importante sobre a metodologia é que posso garantir e comprovar que o que foi feito e está em andamento na UFMG não recebeu qualquer interferência internacional e, sem questionar o mérito de uma afirmação de igual teor de outros grupos, é original e concebida integralmente em território nacional.

GR. Os pesquisadores signatários do manifesto mantêm alguma rede entre suas equipes coordenando seus trabalhos em um projeto maior fora do INCeMaq?

MM. Não posso e não devo responder em nome dos outros signatários. Mas posso dizer que o NNC possui vários projetos financiados, que somados são muitíssimo inferiores ao liberado para qualquer INCT, mas que nos permitem investir em alguns protocolos/experimentos de alto risco.

GR. Gostaria de acrescentar alguma observação a respeito do que não foi abordado acima?

MM. Não quero deixar você esperando mais tempo por uma resposta, por isto paro por aqui. Mas me faço disponível para continuar esta conversa em outra ocasião. Ressalto, contudo, que o objetivo de divulgar o incidente não foi a de contestar o trabalho científico de um excelente pesquisador (prova disto é que o Prof. Nicolelis é uma das principais referencias citadas em nossos trabalhos e é citado em diversas palestras que dou ao redor do Brasil); mas de proteger grupos de pesquisa brasileiros muito competentes, assegurando um financiamento contínuo e duradouro, que independa do Líder ou do indivíduo para garantir seu sucesso. O INCT foi idealizado exatamente para este fim, o episódio mostra que o Brasil tem que tomar muito cuidado com investimentos que podem acarretar conflito de interesse entre a promoção pessoal do coordenador e a finalidade última de crescimento institucional com formação de recursos humanos (no caso, alunos envolvidos no projeto aqui no NNC).

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Ex-integrantes do comitê gestor do INCeMaq lançam séria acusação contra Miguel Nicolelis

Em manifesto reproduzido no blogue coNeCte (da Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento), pesquisadores brasileiros, ex-integrantes do comitê gestor do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) "Interfaces Cérebro-Máquina" (INCeMaq), acusam o neurocientista Prof. Dr. Miguel Nicolelis, coordenador do INCeMaq, de agir em proveito próprio em prejuízo da ciência brasileira. Textualmente, dizem: "Ao privar a Ciência Brasileira de uma parceria justa e prometida, o INCeMaq, na figura do seu coordenador Prof. Miguel Nicolelis, não agiu pelo interesse coletivo, como seria de se esperar de um coordenador de Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia, mas exclusivamente em proveito próprio."

Um projeto similar ao divulgado recentemente pela equipe de Nicolelis sobre implante de sensor de infravermelho conectado ao cérebro teria sido apresentado em 1 de julho de 2010 durante reunião inicial do comitê gestor do INCeMaq. Pelo manifesto, Nicolelis à ocasião nada teria comentado a respeito de desenvolvimento do trabalho que viria a ser publicado na Nature Communications.

Os pesquisadores tomam o cuidado de não imputar acusação de plágio ou roubo de ideias. Mas se questionam por que Nicolelis nada teria dito, nem proposto uma parceria com a equipe do Prof. Dr. Márcio Flávio Dutra Moraes da UFMG.

A perna de indício que usam para sustentar a acusação de se aproveitar do INCeMaq para proveito próprio, no entanto, parece-me infundada. Diz o manifesto: "Utilizar a produção de um laboratório no exterior como justificativa para prestação de contas de um financiamento nacional tem grande potencial de comprometer o trabalho sério e sólido das agências de fomento brasileiras nas últimas décadas" - em relação à indicação da afiliação do primeiro autor, Eric Thomson, como quadro do IINN-ELS. Em primeiro lugar, Eric Thomson faz parte do quadro do IINN-ELS como pesquisador associado desde agostosetembro de 2011*. Mas, principalmente, qual o indicador de que Nicolelis esteja utilizando produção no exterior como justificativa em prestação de contas de financiamento nacional?

Tentarei obter mais detalhes com os envolvidos. Caso consiga, publicarei as informações e versões aqui  no GR.

(Via @besteves.)

Upideite(23/fev/2013): Nicolelis informa, via twitter, que enviará resposta para o blogue da SBNEC.
Upideite(25/fev/2013): Na página do IINN-ELS no facebook, a equipe de Nicolelis publica respostas ao manifesto dos ex-integrantes do INCeMaq. Um assinado pelo diretor do instituto, Rômulo Fuentes**, e outro, por Eric Thomson. Em relação à neuroprótese de sensor de infravermelho, o grupo de Nicolelis vêm desenvolvendo a ideia desde pelo menos 2006.
Upideite(25/fev/2013): corrigido a esta data.
Upideite(25/fev/2013): O Prof. Dr. Márcio Dutra dá mais detalhes sobre a questão.
Upideite(26/fev/2013): Herton Escobar, do Estadão, publica reportagem sobre o manifesto e entrevista com Nicolelis.
Upideite(26/fev/2013): Herton Escobar publica resposta do CNPq referente ao INCeMaq.
Upideite(27/fev/2013): Prof. Dr. Vinícius Rosa Cota (orientado do Prof. Dr. Márcio Dutra e do Prof. Dr. Sidarta Ribeiro*), da UFSJ, faz sua análise do caso.
Upideite(01/mar/2013): O Prof. Dr. Antonio Roque dá mais detalhes da questão.
*Upideite(01/mar/2013): adido a esta data.
**Upideite(01/mar/2013): O texto de Fuentes foi editado para correção da separação dos parágrafos e republicado aqui.
Upideite(03/mar/2013): Reportagem da Folha de São Paulo sobre o caso.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Satélite Coletor de Dados 1: 20 por 1

O Satélite Coletor de Dados 1 (SCD-1) completou, dia 9 de fevereiro, 20 anos do lançamento. E continua na ativa, coletando e retransmitindo dados ambientais de mais de 500 plataformas terrestres em território brasileiro. 19 anos além do projetado inicialmente.


Não é o primeiro satélite brasileiro em órbita - em 1985 o satélite Brasilsat 1 (mais tarde renomeado Brasilsat A1) foi lançado por um foguete francês Ariane 2/3 a partir da Guiana Francesa. Mas o Brasilsat 1, assim como o 2, foi comprado de uma empresa canadense (Spar Aerospace). Os quatro satélites Brasilsat da série B foram parcialmente construídos no Brasil - sendo os B1 e B2 testados no Laboratório de Integração e Teste do Inpe. O SCD-1 foi o primeiro totalmente produzido no Brasil.

Até agora o SCD-1 é o ponto alto do Programa Espacial Brasileiro, iniciado em 1961 como Missão Espacial Brasileira e substituída em 1979 pela Missão Espacial Completa Brasileira, que tinha como um de seus objetivos, o desenvolvimento de quatro satélites inteiramente nacionais: na concepção, produção e lançamento. Embora concebido, produzido, testado e operado em solo nacional, o lançamento foi realizado pela Nasa por meio de um foguete Pegasus disparado a partir de um B52, por conta dos atrasos no desenvolvimento do Veículo Lançador de Satélite nacional.

Seu irmão gêmeo, o SCD-2 foi lançado com sucesso em 22 de outubro de 1998. A bordo de um Pegasus.

O domínio do ciclo completo, com lançamento através de tecnologia nacional tem encontrado vários problemas: de contratempos a desastres. Em 2 de novembro de 1997, o SCD-2A foi destruído junto com o VLS-1 logo após lançamento. Em 11 de dezembro de 1999, o Satélite de Aplicações Científicas 2 (Saci-2) foi perdido com a destruição do VLS-1 também pouco após o lançamento. (O Saci-1 havia sido perdido pouco antes, após uma lançamento bem sucedido, a bordo do foguete chinês Longa Marcha 4B, em em 14 de outubro de 1999.) A tragédia sobreveio em 22 de agosto de 2003, com a explosão em solo do VLS-1 na base de Alcântara-MA, matando 21 pessoas participantes do projeto. De acordo com o Programa Nacional de Atividades Espaciais 2005-2014, o VLS-1 deveria estar operacional a partir de 2007, o que, sabemos, não ocorreu. Em 2010, a nova previsão para o primeiro lançamento do VLS-1 com colocação de satélite em órbita era para 2014.

Considerando-se, ainda, todas as limitações orçamentárias ao longo desses anos e os embargos das nações detentoras da tecnologia, o fato de haver dois satélites inteiramente tupiniquins em órbita - um deles há duas décadas - é surpreendente. Não fora essa hora extra, hoje não haveria mais nenhum satélite 100% brazuca funcional em órbita - os CBERS, família bem mais sofisticada, são fruto da cooperação sino-brasileira.

A saga do Programa Espacial Brasileiro é uma grande representação da capacidade brasileira em C&T. De um lado mostra a qualidade e capacidade dos recursos humanos - que extraem leite de pedra conseguindo resultados inacreditáveis frente ao que tem disponível; de outro, mostra toda a limitação material e financeira a que está sujeita a ciência verde-amarela, mesmo em áreas consideradas sensíveis e estratégicas.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

interCiência: calibrando os chutes

O Gene Repórter participou da ação interCiência do Scienceblogs Brasil. Como os textos enviados não foram identificados, a brincadeira é adivinhar quem é o autor de cada um.

Nos textos há pistas variadas, como escolha dos temas e dos termos, estilo de escrita e composição do texto, uso de imagens, etc. Mas não são fáceis de se usar por portarem uma ampla variação: muitos blogueiros ocultos saíram de sua área de conhecimento habitual para escrever um tema mais adequado ao blogue receptor (como um ou uma profissional da área de psicologia a falar sobre biologia sintética), podem ainda ter misturado com o estilo do autor do blogue receptor e incluído pistas falsas.

  1. 42 vezes 42 - Gene Repórter 
  2. A dança do sexo (com vídeos!) - 42
  3. As Origens do Emaranhamento - Ecce Medicus
  4. Em algum lugar do passado… molecular - Ciência ao Natural
  5. Injustiça Fisiológica - Ciensinando
  6. Os meus dias já foram mais pequenos - Curioso Realista
  7. Neurobiologia Sintética - SynbioBrasil
  8. Por quem os sinos dobram. Longa vida a Bell. - Caderno de Laboratório
  9. Procrastinação, ou o porquê desse post estar dois dias atrasado - CogPsi
  10. Rastro de Mercúrio - Rastro de Carbono
  11. São Michael, padroeiro dos inventores - O Divã de Einstein
  12. Walt Disney, Motörhead e Fungos - Rainha Vermelha

Abaixo uma nuvem de palavras das postagens mais recentes dos blogues e dos textos publicados através do interCiência.




Figura 1. Nuvens de palavras dos textos dos blogues participantes (à esquerda) e do texto do blogueiro oculto (à direita) no blogue correspondente. Nuvens geradas com o Wordle.

Visualmente é difícil associar qual texto do interCiência pertence a qual blogue. Mas é possível se fazer uma comparação quantitativa, sob o raciocínio de que a escolha de palavras em um texto, em parte, está ligada ao autor (seu vocabulário operacional, seus modos característicos de expressão). Também é possível fazer uma comparação quantitativa de parâmetros de complexidade do texto: tamanho dos parágrafos, uso de parênteses, comprimento das sentenças, igualmente sob o raciocínio de que tais características não são aleatórias e revelam o estilo de expressão do autor. Na Figura 2, o resultado de uma análise comparativa de complexidade.

Figura 2. Análise de complexidade (parâmetros utilizados: tamanho de frase, de parágrafo, pontuações - vírgulas, dois pontos, ponto e vírgulas e exclamações). Em vermelho, valores acima de valor arbitrário de corte; em azul, valores abaixo de valores arbitrário de corte: quanto mais próximo de 0, mais similares os parâmetros de complexidade dos textos.

Em termos de complexidade*, o texto do interCiência publicado no blogue Rastro de Carbono (RC) é mais similar aos textos normalmente publicados no blogue SynbioBrasil (SB - e menos similar aos textos publicados aqui no GR). O texto no Ecce Medicus (EM) tem uma complexidade mais parecida com a dos textos do Caderno de Laboratório (CL - e mais diferente dos textos publicados no Rainha Vermelha - RV). E assim por diante.

Obviamente aqui é uma análise bastante simplificada. O tamanho amostral dos textos também é bastante limitado (10 textos normais dos blogues e apenas um texto do interCiência). É possível maior sofisticação, com calibração de pesos de cada fator - p.e., procedendo-se à maximização da verossimilhança com teste contra outros textos dos blogues - e uma amostragem mais ampla.

Veremos como esta análise se sai caso os verdadeiros autores dos textos sejam revelados futuramente. Algumas comparações podem ser feitas com outras informações:
1) a estrutura do texto publicado no RC é muito similar aos textos do SB (textos divididos por intertítulos e estes com determinado tamanho de fonte e em negrito);
2) o texto publicado no Curioso Realista (CR) está em português de portugal e, entre os participantes, é a variante usada nos textos do Ciência ao Natural (CN): a similaridade na complexidade, no entanto, não foi das maiores (na verdade, os textos de CN se aproximam mais ao texto publicado aqui no GR);
3) o texto no RV foi produzido por alguém ligado à microbiologia (além do próprio autor do RV, o autor do CR é microbiólogo): o índice de complexidade também não foi particularmente similar;
4) o único que trabalha com física entre os participantes da primeira rodada é o autor do CL; a similaridade maior é com o texto publicado no EM (que é sobre física; outro texto com a mesma temática foi publicado no próprio CL);
5) O texto publicado aqui no GR é mais similar aos textos do blogue 42 e a temática são exatamente curiosidades sobre o número 42;
6) O texto no SB foi escrito por alguém ligado à psicologia e à neurobiologia; entre os blogues participantes, são psicólogos os autores de O Divã de Einstein (DE) e de CogPsi (CP). Os textos de CP têm uma boa similaridade com o publicado no SB;
7) No CP, o texto é sobre psicologia, mas não é particularmente similar aos textos de DE (é mais similar aos textos de CR em complexidade);
8) No 42, o tema de sexo de animais e vídeos de aranhas remete ao RV; embora não seja particularmente similar no índice, a maior similaridade é com os textos do RV (e muito próximo com os do RC);
9) No Ciensinando (CE), o texto é sobre fisiologia, tema explorado no EM. Mas o valor não é muito similar, aproxima-se mais do 42.

Se essas informações estiverem corretas, mesmo uma análise bastante simples como a feita aqui, embora muito longe da perfeição, parece não ser completamente furada.

E você, leitor, leitora, quais os seus chutes? (Os dados brutos que usei para a análise estão aqui.) O Scienceblogs Brasil dará um exemplar de O Livro dos Milagres (de Carlos Orsi) para quem acertar o maior número de autores: saiba mais aqui.

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*A metodologia foi bastante simples - ainda que um tanto braçal. Foram contados (com ajuda da função de busca em processadores de texto) os números de palavras, parágrafos, linhas e pontuações. Parâmetros como tamanho de frase (dividindo-se o número de palavras pelo número de pontos), tamanho de parágrafo (dividindo-se o número de linhas pelo de parágrafos), índice de vírgulas (número de palavras sobre o de vírgulas), de parênteses, de dois pontos, de ponto e vírgula e de exclamações foram calculados e comparados: para cada par de blogue e texto do interCiência publicado, foi considerada a soma dos módulos das diferenças relativas entre os parâmetros. Se a complexidade for exatamente a mesma, a soma deve ser zero. Quanto maior a diferença, maior a soma.

Upideite(05/fev/2013): Aqui como seria a previsão final baseada unicamente em critérios de complexidade:
Será? (Tem pelo menos um que muito provavelmente está errado, no entanto.)

Upideite(06/fev/2013): As chances de se acertar ao acaso ao autores dos textos:

0 (acerto): ~34%; 1: ~37%; 2: ~20%; 3: ~7%; 4: ~2%; 5: ~0,4%; 6: ~0,07%; 7: ~0,01%; 8: ~0,002%; 9: ~0,0003%; 10: ~0%; 11: 0% (exatamente 0, é impossível se errar somente 1); 12: 1/12! = 1/479.001.600

Abaixo, tabela com as previsões e os resultados do interCiência:

Tabela 1. Desempenho da análise de complexidade na atribuição de autoria aos textos do interCiência.
blogue previsão resultado acerto
42 RC
CE DE EM 0
CL GR
CN CE CE 1
CP CR 0
CR RV CN 0
DE CN 42 0
EM CL
GR 42 0
RV EM CR 0
RC SB
SB CP CP 1

total

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