Parece haver uma tendência de queda geral na busca por 'ciência' ou 'science' e a intensidade de pesquisa é fortemente influenciada pelas férias escolares: sofrendo uma forte depressão nas férias de inverno e de verão (especialmente nas de verão, mais prolongadas - entre dezembro e fevereiro no Brasil e entre fim de maio e meados de agosto nos EUA).
Figura 1. Padrão de pesquisa pelo termo 'ciência' no Google a partir do Brasil.
Figura 2. Padrão de pesquisa pelo termo 'science' no Google a partir dos EUA.
Tanto no Brasil como nos EUA, não são os estados particularmente mais populosos e economicamente significativos que se destacam nas buscas.
Será que o padrão é gerado por trabalhos escolares encomendados aos alunos?
Em Portugal, essa distribuição não é tão evidente (Fig. 3).
Outros termos relacionados a disciplinas escolares, como 'matemática', 'biologia' e 'geografia', seguem o mesmo padrão (Figs. 4a-c).
Figura 4. Padrão de pesquisa pelos termos (a) 'matemática', (b) 'biologia' e (c) 'geografia' no Google a partir do Brasil.
Muitos termos não relacionados a disciplinas escolares apresentam padrões diferentes. Como o caso de novela, futebol e viagem (neste último caso, o padrão é o inverso - picos de busca justamente nos períodos de férias escolares) (Figs. 5a-c). Mas 'economia', segue o padrão de redução de buscas nas férias (Fig. 5d).
Figura 5. Padrão de pesquisa pelos termos (a) 'novela', (b) 'futebol', (c) 'viagem' e (d) 'economia' no Google a partir do Brasil.
Como férias escolares coincidem com férias letivas no ensino superior, isso pode explicar o padrão de 'economia' condizem com o de disciplinas do ensino básico. Termos 'TCC' e 'direito' (Figs. 6a-b) apresentam a mesma distribuição de frequência de buscas.
Figura 6. Padrão de pesquisa pelos termos (a) 'TCC' e (b) 'direito' no Google a partir do Brasil.
Alguns termos científicos mais específicos, como 'DNA', 'nanotecnologia', 'aquecimento global', 'transgênicos' (Figs. 7a-d), seguindo igual tendência, parecem indicar que suas buscas são motivadas por trabalhos escolares/acadêmicos. O caso de 'transgênicos' é ainda mais extremado - caindo a zero durante o período de férias. O grande momento da pesquisa sobre 'aquecimento global' foi em 2007, quando houve o relatório do 4o IPCC em que se chegou ao amplo consenso científico sobre o 'aquecimento global antropogênico' e houve grande cobertura midiática.
Figura 7. Padrão de pesquisa pelos termos (a) 'DNA', (b) 'nanotecnologia', (c) 'aquecimento global' e (d) 'transgênicos' no Google a partir do Brasil.
Esses resultados podem indicar que não devemos ser tão otimistas com resultadosdados de pesquisa de opinião que descrevem o brasileiro como interessado em ciências. Mesmo que o universo dos que têm acesso regular à internet e saibam usar os mecanismos de busca seja restrito, entre esses - em geral com melhores condições socioeconômicas - o interesse parece se resumir a resolver tarefas escolares. Termos como 'novelas' e 'futebol' mostram que, quando há interesse, os internautas brasileiros sabem como buscar mais informações (ou ao menos tentar encontrá-las).
Uma ampla cobertura midiática, sem surpresas, afeta o interesse das pessoas em obter informações mais detalhadas.
A tendência geral de queda das buscas por temas ligados às ciências talvez se deva a uma modificação demográfica das pessoas que acessam a internet, com uma diluição da fração de acadêmicos e estudantes (por favor, não falem em orkutização... ops!).
Alguém a fim de fazer um levantamento mais sistemático e aprofundado sobre o tema? (Deve valer pelo menos um TCC.)