Lives de Ciência

Veja calendário das lives de ciência.

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Gene Repórter ano 10


Hoje completa 9 anos da primeira postagem aqui no GR. Ou seja, estamos agora no ciclo do décimo ano deste blogue.

Em uma rápida conta de engenheiro, não sou a metade da pessoa que costumava ser: cerca de 60% das células que constituíam meu corpo em 27 de novembro de 2008 foram substituídas desde então.

Ainda não existia o Whatsapp (lançado em 24 de fevereiro de 2009), possivelmente hoje, o principal serviço de comunicação instantânea entre os brasileiros, com 120 milhões de contas verde-amarelas. O sistema operacional Android (liberado em 23 de setembro de 2008) tinha poucos meses. A Uber (março de 2009) ainda seria fundada. A Tesla já existia há muito tempo (ao menos em termos tecnológicos - fundada em julho de 2003), mas Elon Musk, no pior ano de sua vida, havia acabado de assumir o comando da empresa (outubro de 2008) e entre novembro e dezembro uma injeção de 50 milhões de dólares da Daimler salvaria a empresa da falência.

A revista Ciência Hoje e Unesp Ciência ainda existiam em versões impressas. Aliás, a Unesp Ciência não, ela só seria lançada no ano seguinte. Desde então, houve um desmonte das editorias de ciência nos principais veículos (dentro de um cenário maior de crise geral no jornalismo). E mesmo os blogues passaram por sua crise de crescimento (e dos eventos mais recentes dessa crise representado pelo fim do Scienceblogs americano e ao mesmo tempo em que parece crescer os condomínios institucionais acadêmicos) e vimos uma diversificação de mídias de divulgação científica na internet: com podcasts e vlogs (a comunidade cresceu a ponto de iniciativa do ScienceVlogs surgir para congregar os vlogueiros de ciência em pt-br), e fora dela, com festivais, cafés e saraus.

O cenário atual para as ciências é tenebroso. Não apenas no Brasil, mas particularmente grave por estas bandas com sucessivos cortes bastante duros no financiamento público para as atividades de ensino e pesquisa. Suscitando vários eventos mundiais e nacionais de mobilização, particularmente no âmbito das Marchas pela Ciência.

Esta crise pelo menos estimulou um debate sobre a necessidade de maior divulgação das ciências, ainda que deva demorar uma ação mais efetiva ou mesmo um planejamento dessas ações. E, também em um cenário mais amplo da crise econômica, ela acabou afetando vários planos para canais de divulgação científica - com o encolhimento das verbas publicitárias que despontavam ao fim de 2014. Não temos ainda modelos de negócios que permitam muitos viverem disso por conta própria. Adsense e cliques não pagam mais o suficiente, veiculação direta de publicidade nos canais igualmente é limitada (em alguns casos, como podcasts as agências ainda não sabem como quantificar e qualificar a audiência; no caso do YT, as métricas são bastante ricas e detalhadas, mas os algoritmos não são muito generosos com canais de ciência - é preciso subir vídeos quase que diariamente, a economia da atenção torna a concorrência severa com distratores como mergulhos em tanques de banho recheados com compostos de propriedades reológicas e colorimétricas suspeitas).

A produção de material de DC se diversificou. Porém, a transformação passou a exigir um nível de sofisticação que envolve muito trabalho. Muito trabalho e baixa remuneração. Quando não obriga a que o divulgador pague do próprio bolso para produzir sua peça: equipamentos de áudio e vídeo, equipe para diagramação, edição e mixagem... Há poucas e concorridas bolsas e editais para DC.

O que reservará o décimo ciclo que ora se inicia? O que poderemos fazer para melhorar a conjuntura em que torna a DC tão necessária e ao mesmo tempo tão difícil?

Experimentos estão sendo feitos: vaquinhas e patronatos, o velho pedido de doação, assinaturas de newsletter, organização em cooperativas de freelances, abertura de EMEIs, venda de brindes e quinquilharias geek, cursos e palestras... Veremos o resultado deles futuramente. Que sejam positivos.

Um ótimo novo ciclo a todos!

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Divagação científica - divulgando ciências cientificamente 32

Minhas anotações de AbiGhannam 2016 que traça alguns perfis de comunicadoras de ciências na internet.

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AbiGhannam, N. 2016. Madam science communicator: a typology of women’s experiences in online science. Science Communication 38(4): 468-94. DOI: 10.1177/1075547016655545

Entrevistas via skype com 43 comunicadoras de ciência (escolhidas em votação aberta pelo twitter: as pessoas poderiam indicar até 5 nomes que considerassem de mais destaque; de 170 citadas no total, 64 foram contatadas, com 43 aceitando responder).

Quatro perfis foram considerados (Fig. 1):
.Expressiva/escapista (E/E): comunicação sobre temas complexos por necessidade pessoal ou desejo de fugir do cotidiano;
.Advogada/normalizadora (A/N): normalização da experiência científica para os outros na sociedade para que se identifiquem mais com as ciências ou as aceitem ou defesa de uma causa científica para fazer com que as pessoas se conscientizem da importância e ajam;
.Edutainer (Et): comunicação de tópicos simples com o objetivo de educar as pessoas através do entretenimento;
.Performer/compartilhadora (P/C): comunicação de tópicos básicos de ciência, focado na própria inclinação natural de compartilhar informações com os outros.

Figura 1. Tipologia de comunicadoras científicas online. Eixo horizontal: foco da comunicação; eixo vertical: seleção de temas. Fonte: AbiGhannam 2016.

A Tabela 1 resume as características demográficas e profissionais das entrevistadas.

Tabela 1. Demografia e características das tipologias das comunicadoras. Fonte: AbiGhannam 2016.

Características demográficas Total E/E A/N Et P/C
N 43 10 11 14 8
Idade média (anos) 39,5 45,2 36,9 37,25 39,3
Mais nova 25 35 27 25 25
Mais velha 73 61 55 60 73
Não respondeu 2 0 0 0 0
Etnia
Branca 37 7 9 13 8
Afroamericana 3 2 1 0 0
Hispânica 0 0 0 0 0
Asiática 1 0 1 0 0
Indígena 1 0 0 1 0
Não respondeu 1 1 0 0 0
Estado civil
Mora junto 3 1 2 0 0
Casada 24 6 5 8 5
Solteira 14 2 4 5 3
Não respondeu 2 1 0 1 0
Filhos
Sim 20 6 3 6 5
Não 23 4 8 8 3
Comunicação online
Blog 37 10 10 10 7
Escrita 24 4 7 10 3
Extensão (outreach) 14 0 5 5 4
Formação
Ciências 35 8 9 10 8
Outra 8 2 2 4 0
Outras responsabilidades
Ainda fazendo ciências 16 7 4 2 3
Foi cientista e não é mais 19 1 5 8 5
Nunca fez ciências 8 2 2 4 0
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quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Fim de uma era.

O ScienceBlogs americano encerrou suas atividades ao fim de outubro passado, num Dia das Bruxas, antevéspera de Finados. Sem anúncios grandiloquentes, apenas murmúrios lastimosos de seus blogueiros em tweets relembrando a aventura que foi fazer parte de um marco na divulgação científica na era digital, um dos primeiros condomínios e, durante um tempo, uma das principais referências mundiais em blogues de ciências. Tendo legado deixado uma versão alemã e uma brasileira (o Lablogatórios, condomínio formando em 2008, seria renomeado ScienceBlogs Brasil em 2009 após acordo com o pessoal da SEED, responsável, então, pelo SB matriz: SB-us): ambos sobrevivem ao projeto pai e continuam (o vínculo sempre foi mais unicamente o nome, não havia nenhuma forma de controle editorial por parte da matriz - embora quando, em 2011, o SB-us passou para o controle da National Geographic, ao menos a parte comercial, havia a possibilidade dos projetos filhos também se beneficiarem do acordo: como o direito de utilizarem de imagens da NatGeo).

As postagens não são mais acessíveis no site do SB-us: clicando nos links, o leitor é redirecionado para os novos endereços dos blogues que costumavam ser hospedados no condomínio. Não há nenhum aviso oficial.

Chad Orzel, físico químico, autor do blogue "Uncertain Principle" e que esteve desde o início do SB-us, escreve sobre sua longa passagem pelo condomínio (atualmente escreve para o site da Forbes), mas aparentemente também não tem os detalhes por trás da decisão do encerramento do projeto.

A crise geral dos blogues não deixou o SB-us incólume. Dependendo do serviço utilizado, a estimativa de tráfego mensal é de cerca de 500-600 mil a 1,5-2 milhões de visitantes/mês no último ano. São números respeitáveis, mas aparentemente não o suficiente para se manter como uma empreitada economicamente viável nos Estados Unidos. De todo modo, representa uma estagnação ou declínio frente a cerca de 2 milhões visitantes/mês que havia atingido já em 2010.

Ao mesmo tempo em que quase sempre havia uma ampla liberdade editorial dos blogueiros, parece que sempre foi complicado tornar o SB-us um projeto verdadeiramente rentável. Um infame episódio foi a malfadada tentativa de atrair anunciantes permitindo que mantivessem um blogue dentro do condomínio. A Pepsi criou dentro do SB-us um blogue sobre nutrição, o que causou desconforto em vários blogueiros da casa, e muitos se desligaram do projeto. A parceria acabou naufragando. Mas para PZ Meyers, do Pharyngula, um dos principais nomes do SB-us até sua saída em 2011, o principal problema foi quando do acordo com a NatGeo. Para o biólogo, a imposição de uma padronização da diagramação e uma supervisão editorial mais estrita tolhia essa liberdade. Ele acabou fundando um novo coletivo, o Freethought Blogs. O SB-us readquiriria independência um tempo depois (não sei precisar o momento em que o acordo com a NatGeo se encerrou - se eu conseguir levantar esse dado, atualizo a postagem), mas sem o vigor inicial.

A filósofa Janet D. Stemwedel - que mantinha o blogue Adventure in Ethics and Scienc -, em seu perfil no twitter, rememorou o sentimento de comunidade que havia no início. Acabou se afastando em 2010, insatisfeita com o gerenciamento do projeto que, segundo ela, estaria mais preocupado em gerar um tráfego intenso para o SB-us, mesmo valendo-se de manter um tanto artificialmente polêmicas entre seus blogueiros e outros de fora. À época de sua saída, Bora Zivkovic, do A Blog Around the Clock, também criticava o crescimento do SB-us em número de blogues - cerca de 90 em 2010 - e a perda do sentimento de comunidade e o desgaste das relações.

Embora seja muito triste que um dos pioneiros cerre suas portas, deixa frutos importantes. Não apenas toda uma geração de importantes comunicadores e divulgadores de ciência como Ed Yong ("Not Exactly Rocket Science") e Brian Switek ("Lealaps") passou por lá, como serviu de inspiração para outros projetos, como o Blogs de Ciência da Unicamp e o próprio Lablogatório que viraria o Scienceblogs Brasil. Em tempos em que a divulgação de ciências na internet flui e se diversifica - podcasts, Youtube, facebook, twitter e outras mídias sociais... - o legado do ScienceBlogs americano fica.

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Ciência: a longa (longa) marcha 3

Ao contrário da segunda edição, desta vez houve um pouco mais de tempo para uma organização mais digna desse nome para a marcha, um pouco mais de um mês (contra os quatro dias daquela).

Devido ao meu grau de envolvimento pessoal nesta edição (na primeira não participei em nada da organização - fui inicialmente como participante e literalmente no meio do caminho me converti a repórter; na segunda, apenas tentei iniciar os preparativos e depois saí em desesperada tentativa de divulgação), não pretendo fazer um relato pormenorizado - seria mais um ato de propaganda do que de descrição mais fiel dos fatos.

Deixo aqui apenas alguns registros da manifestação e uma ou outra observação.

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3a Marcha pela Ciência.
08 de outubro de 2017. Avenida Paulista. São Paulo/SP.

(Crédito: autoria própria.)

*Pelo vídeo dá pra ver que o tamanho do público é maior, e bem, do que o reportado em alguns sites noticiosos, né, O Globo?* No vídeo, o cone de sinalização fornece uma boa referência dimensional - sua altura é de 75cm. Conta de engenheiro. Levaram cerca de 7 segundos pra atravessar a faixa. A faixa tem cerca de 4 metros, então dá uma velocidade média de cerca de 2km/h da caminhada. São cerca de 3 minutos pro cortejo passar, que dá cerca de 103 m de comprimento da passeata. Com uma distância média 80 cm entre as fileiras, são umas 129 fileiras de pessoas. Sendo cerca de 10 pessoas por fileira, teremos cerca de 1.290 manifestantes. Com uma propagação de erros nas coxas diria que: 1.290,0±193.5 presentes seria uma estimativa razoável. Ou, mais condizente com a precisão possível: M = 1.300±200 [IC95%: 900-1.700]. Não fosse a forte chuva pela manhã, talvez tivéssemos um número até maior. Mas, felizmente, não choveu durante o evento como era a previsão (um participante da Marcha pela Ciência torcendo contra uma previsão científica, sim).

*No meio do deslocamento, cruzamos com duas outras manifestações de outra natureza - e bem menores numericamente (felizmente, dada a natureza de pelo menos uma delas). Segundo relatos - que reputo confiáveis - houve provocações por parte dos integrantes dessas outras manifestações (uma delas eu vi, na verdade; mas eram provocações sem sentido, já que não éramos contrários à religião deles; já da religião de outra, que pedia golpe militar, queríamos distância) em direção à marcha pela ciência, mas não houve incidentes de qualquer um querer comprar briga (no máximo, alguma devolução verbal de provocação). A polícia, na primeira passagem por uma das manifestações que vinha pela outra pista da Paulista, chegou a formar um cordão ao longo do canteiro central da avenida. A presença dessas outras manifestações não chegou a frustrar a realização da Marcha pela Ciência, mas obrigou a um desvio do percurso na volta.

*Houve um certo número de pessoas que acabaram chegando já depois que o pessoal havia se dispersado - pouco depois das 16h30.

*A Banca da Ciência fez sucesso e acabou ficando até mais tarde - umas 18h - pra atender o público.
Crédito: Paulo Borges/Banca da Ciência.
*As palavras de ordem que achei as melhores: "Sem ciência é zika", "Sem ciência a terra é chata". Tem um duplo sentido que é verdadeiro (ou quase) nos dois casos, é curto e fácil de entender.

*Mesmo que possamos considerar esta marcha bem sucedida (há gente ainda reclamando do tamanho de participação alcançada), ela com certeza não é o fim. A marcha ainda é longa, muito longa, o primeiro alvo é tentar evitar mais cortes ainda no orçamento da ciência e educação. Hoje, a SBPC e associadas participaram de uma audiência pública no Congresso para mais recursos para a área. A marcha, especialmente em São Paulo, não é uma reivindicação salarial - a maioria dos professores continuam a receber seus salários - o risco é de não haver mais verba pra pesquisa: para bolsas dos alunos e dinheiro para equipamentos e suprimentos. Em São Paulo, os institutos de pesquisa estão com um quadro que não é renovado há um bom tempo e que vem sendo reduzido mais e mais com a ausência de novos concursos e aposentadoria dos antigos pesquisadores.

*A marcha precisa do apoio de um amplo setor - dentro e fora da academia. Nesta edição esteve presente, por exemplo, a SOS Mata Atlântica.
*A necessidade de integrar uma diversidade de atores implica também em aceitar e conviver com uma diversidade de visões. O que cria também algumas tensões. Num cenário de polarização, temos que reaprender a conviver com as diferenças de opinião (sim, excetuando-se as bizarrices criminosas dos fascistas). Esse enfrentamento, se mantido em um nível respeitoso, é até saudável. Havia divergência desde quanto a cor da camisa (a organização sugeriu - sugeriu, não impôs como condição para participação na marcha - uma cor escura, mas havia quem quisesse cor clara e manifestando contrariedade nos comentários dos canais de comunicação da organização do evento) até detalhes de pauta (a pauta geral do evento foi necessariamente limitada e sem grandes detalhamentos pela necessidade de poder congregar o maior número possível de frentes).

*Se há necessidade de se tirar lições disso, é exatamente das discordâncias em vários aspectos entre os participantes e o fato de a Marcha ter ocorrido sem incidentes maiores. É uma demonstração de que essa divergência respeitosa é possível, especialmente em nome de um objetivo em comum. Não precisamos concordar em tudo, não precisamos abafar essa divergência; basta apenas cultivar o respeito mútuo e estar disposto a dialogar civilizadamente. Ao diálogo, então. E mais protestos.

*Claro que terá ainda havido falhas na organização. Estamos melhorando. Ainda que faltem recursos, tudo é um processo de aprendizagem. Ouvir as críticas, aprender com elas também é parte dessa aprendizagem. (Bem como descartar as críticas desinformadas. Se acha 1.200 pessoas ainda muito baixo, ok, podemos discutir isso; mas reclamar que apenas 200 apareceram, não.)

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Veja a cobertura da imprensa:
Estadão (08/out/2017): Marcha pela Ciência reúne cerca de mil pessoas na Avenida Paulista (Cuidado! contém paywall poroso!)*
Folha (08/out/2017): Pesquisadores e estudantes marcham na Paulisa contra cortes na ciência (Cuidado! contém paywall poroso!)

À medida que saírem relatos dos participantes em seus canais de divulgação científica, acrescento a esta postagem.

Alô, Ciência? (10/out/2017): Por que marcham os cientistas?
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Obs: Com muito afinco - envolvendo troca de mensagens até de madrugada em várias ocasiões -, grande parte do sucesso desta terceira edição é para ser creditada ao trio que comandou também os preparativos da primeira: Dayane Machado, Flávia Virginio e Natalia Pasternak Taschner.
The Powerpuff Girls: created by Craig McCracken/©1998- Cartoon Network.
Figura 1. Núcleo central da organização da 3a. Marcha pela Ciência. Da esquerda para a direita: Flávia Virginio, Natalia Pasternak Taschner, Dayane Machado.

Só um exemplo do que elas fizeram. Um pouco antes do dia do evento, lanço verde para elas a ideia de convidarmos os nobelistas que assinaram a carta para o presidente sobre a crise na ciência brasileira para fazerem um vídeo para a Marcha. Em vez de inventarem uma desculpa de que seria complicado, de que eles diriam não (o que era bem provável - afinal, quem éramos nós?), que havia pouco tempo (todas desculpas razoáveis, ainda mais que estão muito ocupadas com outras tarefas acadêmicas)... elas compraram isso de modo entusiástico. Em poucos minutos - no meio da noite já! - prepararam um texto em inglês e enviaram para 22 dos signatários (de um deles - um nonagenário - não conseguimos obter o endereço eletrônico) um email com o pedido. Sim, esse foi o tamanho da nossa cara de pau. Alguns responderam e, como previsto, declinaram (o que é mais do que compreensível, e somente a delicadeza de responder já mostra que se trata de outro nível). Mas eis que ninguém menos do que Claude Cohen-Tannoudji, um dos vencedores do Nobel de Física em 1997, e o principal abaixo-assinado da carta aberta, faz um vídeo falando sobre a preocupação deles com a ciência do Brasil. Aí corre fazer a tradução pra publicar. O vídeo era pesadinho, ainda que curto (dá pra notar pela qualidade da imagem, embora o áudio sofra um pouco). Tentei subir a legenda, mas falhei miseravelmente (o facebook não me deixou subir o arquivo srt). O Luciano Queiroz, do Dragões de Garagem, renderizou outro vídeo com legendas incluídas, e subimos para a página da Marcha pela Ciência - São Paulo.

Claro que um evento deste tamanho envolveu o trabalho de muita gente, mas seria complicado listar aqui toda e cada contribuição. A começar pelos que contribuíram ao Catarse (um sucesso que superou a meta - a propósito, de todo modo ainda é possível contribuir: os valores que sobrarem depois da fatura das despesas serão transferidos para um fundo gerido pela Aciesp para utilização em outros eventos pró-ciência), aos que assinaram o Manifesto pela Ciência, aos que ajudaram na divulgação, aos que fizeram a distribuição do material de divulgação, etc, etc. Além claro de todo o restante do pessoal da organização e coordenação.
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*Upideite(10/out/2017): Há erro também na matéria de O Globo quando informa que a SBPC organizou. A SBPC apoia a marcha, mas não organiza. As instituições realizadoras foram a Aciesp e a APqC. O Estadão cometeu erro complementar, atribuiu a organização à SBPC e à APqC - incluiu a SBPC incorretamente e omitiu a Aciesp.

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Por que Gallus gallus domesticus atravessou a rua? Ciência&humor: dá samba?

Minha apresentação das palestras que dei para o 15o Congresso de Iniciação Científica em Ciências Agrárias, Biológicas e Ambientais do Instituto Biológico de São Paulo (12 a 14 de setembro de 2017), no dia 13 (qua) e também o 25o Simpósio Internacional de Iniciação Científica e Tecnológica da USP da Escola de Enfermagem - 1a fase (14 de setembro de 2017), no dia 14 (qui).




Reciclei alguns slides de apresentações anteriores, claro. Não vamos desperdiçar elétrons à toa.

Agradecimentos também ao Atila Iamarino, que me indicou pro SIICUSP/EE. A Carol Medeiros está nos agradecimentos dos slides, mas repito aqui, pela indicação pro CICAM/IB.

domingo, 3 de setembro de 2017

Ciência: a longa (longa) marcha 2

Desta vez foram menos participantes em São Paulo, mas acho que se obteve um impacto até maior junto à população.

O tempo ajudou e no sábado dia 02 de setembro, ao contrário do dia da primeira Marcha pela Ciência em São Paulo, não choveu. E também não era emendado com feriado como foi em abril. Mas a segunda edição da Marcha na capital paulista contou com menos tempo de organização ainda do que na anterior. Se o tempo de um mês já foi curto para a edição de 22 de abril, imaginem que desta vez decidiram na terça, dia 28 de agosto, que o evento seria no sábado, dia 02 de setembro. E a coisa é ainda pior se considerarmos o tempo em que se estava cogitando a organização da marcha em São Paulo: no sábado, dia 26, frente a um pedido no grupo da Marcha pela Ciência no Brasil no facebook (o evento no Rio já havia sido definido há bem mais tempo) resolvemos tentar criar um grupo para tocar a manifestação paulistana (inicialmente, tentou-se via Whatsapp, mas não estava funcionando e mudamos pra um grupo no facebook mesmo)*. Sem data definida para quando seria.

Toca enviar email para associações científicas e a acadêmicas ainda no sábado e no domingo. Até a segunda feira somente a Aciesp havia respondido (e positivamente). Conseguimos a confirmação da adesão logo depois da ANPG. Ou seja, ainda não havia se consolidado nem a articulação dentro da comunidade científica para a marcha em São Paulo quando acabaram decidindo pela data. Eu estive fora o dia 29 de agosto (terça) e nem acessei a internet. Quando volto no fim da tarde e abro o grupo, já haviam fechado a data, no sábado (dia 02 de setembro)* mesmo, e criado a página de eventos.

Ok. Não havia mais nada a ser feito a não ser tentar loucamente divulgar para o máximo possível de pessoas. Convidei para o evento todos os meus conhecidos no facezucko que eu achava que estariam em um raio razoável para poderem ir à marcha. Divulgadores científicos, compreensivelmente, ficaram aborrecidos com o modo súbito com que definiram a data. (Não estou completamente por dentro dos eventos que levaram à essa definição. Mas há uma preocupação forte na SBPC e na comunidade científica brasileira com os cortes - e a versão inicial da lei orçamentária para 2018 parece tornar a situação do financiamento da ciência brasileira ainda pior. Uma demonstração era necessária antes da votação e definição da LOA 2018. E possivelmente quiseram dar um alcance maior coordenando com o evento carioca. Além de São Paulo e Rio, programaram para a mesma data: Porto Alegre, Brasília e São Luís; Natal escolheu dia 04 de setembro.)

Dadas essas circunstâncias, meio que de brincadeira, defini um corte pessoal de 10 pessoas (mais ou menos o tamanho do número de participantes dos organizadores da marcha em São Paulo) como critério para sucesso: se aparecessem 11 ou mais gatos pingados, eu me daria por satisfeito. De terça a sexta pouco mais de 400 pessoas haviam confirmado presença na página do evento no fb (em abril, das cerca de 1.500 confirmações, umas 300-500 pessoas apareceram de fato). Até às 15h30 (o evento havia sido marcado para começar às 15h), não mais do que umas 50 pessoas estavam sob o vão do Masp, local definido para o protesto. De fato, até umas 14h50, havia somente um manifestante - eu. Mas, enfim, para meu critério já era um sucesso, porém o clima era de um certo constrangimento e a sensação era de que a manifestação havia fracassado (alguns até foram embora nesse tempo). Pouco a pouco, porém, foram chegando mais gente. Até as 16h00 deveriam ser algo como 150 pessoas.

Não havia programação definida e nem previsão de deslocamento. Mas, na hora, decidiu-se coletivamente subir do Masp até o prédio do escritório da Presidência da República (na esquina com a rua Augusta). A PM fez a escolta e duas pistas foram fechadas localmente para a passeata. Alguns carros passaram buzinando em apoio ao protesto, vários transeuntes pararam pra acompanhar e registrar com seus celulares, eu flagrei pelo menos um lendo os cartazes com palavras de ordem e denúncia contra os cortes e a situação da ciência no Brasil, um ciclista e alguns passantes levantaram o braço agitando-o em apoio durante o trajeto. Acho que decisão de se deslocar acabou acertada, ainda que alguns tenham chegado ao Masp depois que saímos e achado que a manifestação já houvesse acabado. (Não deu tempo nem de organizar um canal de mídia social que fizesse atualização em tempo real da movimentação.)

A primeira marcha ficou concentrada no Largo da Batata, sem deslocamento. Embora os 150-200 manifestantes da edição de setembro sejam significativamente menos numerosos, acho que o deslocamento criou um maior impacto junto à população e uma maior visibilidade.

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O fórum permanente criado pela SBPC com as entidades científicas associadas para discutir a crise na ciência brasileira poderia ser ampliado para incluir entidades não-estritamente acadêmicas, como representantes da comunidade de divulgadores da ciência, do movimento estudantil e sindical, de ONGs ambientalistas, entidades da cultura e outras. É preciso uma articulação e diálogo mais amplo e fluido para um movimento mais robusto - há fortes interseções da C&T com educação, meio ambiente e até cultura.

Upideite(03/set/2017): Veja também
03.set. Carlos Orsi. Ciência marcha em legítima defesa.
04.set. Maurício Tuffani/Direto da Ciência. Marcha pela ciência precisa dizer #vemprarua para os próprios cientistas.
04.set. Daniela Klebis/Jornal da Ciência. Pesquisadores denunciam situação crítica em 2a. Marcha pela Ciência no Brasil.

*Upideite(03/set/2017): adido a esta data.

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Como é que é? - Mulheres evitam empregos estressantes?

O famigerado memorando que levou à demissão de um engenheiro da Google causou alvoroço (para contexto, recomendo o post do Carlos Orsi remetido lá embaixo). Entre textos e textões contra e a favor da demissão, contra e a favor das ideias defendidas no memorando (basicamente que diferenças biológicas entre homens e mulheres devem dar conta da baixa presença feminina na áreas de computação), críticas à cobertura da imprensa, análises do suporte científico apresentado... queria analisar mais detalhadamente um ponto que foi expresso na tal comunicação do engenheiro.

Em um momento, o documento insinua que as mulheres, com maiores tendências ao neuroticismo - um traço de personalidade que indica maior sensibilidade à ansiedade, ao medo, à solidão, à frustração... -, evitariam cargos que as expusessem a mais estresse, porque elas, na média, saberiam lidar menos bem do que os homens, e como a área de tecnologia envolveria muito estresse, a baixa participação feminino seria devido a isso - e não a um sexismo consciente ou inconsciente que barraria sua entrada.

Para colocar isso à prova, aproveitei-me do levantamento anual do Business Insider das profissões mais estressante. Peguei as edições de 2015 a 2017, um total de 38 ocupações foram arroladas - nem todas presentes nos três anos - e utilizei a média de pontuação dada (de 0, nada estressante, a 100, o máximo de estresse) e comparei com a razão sexual dos trabalhadores na área (quando não havia dados diretamente disponíveis, utilizei-me do proxy da população de alunos de graduação). Encontrei os dados da razão sexual para 28 das 38. Dessas, em 16 delas há mais mulheres do que homens, em 12, há mais homens. Se multiplicarmos a fração de mulheres/homens pelo índice de estresse avaliado para cada profissão, a média das 28 com dados para isso, para as mulheres, é de 48,8 pontos e, para os homens, de 46,2 pontos: em um índice que podemos chamar de S (de 'stress). (Tabela 1.)

Caso o argumento do memorando fizesse sentido, era de se esperar uma participação média bem inferior de mulheres nessas profissões tidas por mais estressantes - o que se refletiria em um S sensivelmente menor para as mulheres-, o que não parece ocorrer.




Veja também:
Carlos Orsi (11.ago.2017): O memorando do cara do Google: ofuscados pela ciência.

Obs: Os dados referem-se ao mercado dos EUA.

Upideite(05/set/2017):
Algumas pessoas objetaram que a lista elaborada pela O*NET e publicada pela Business Insider é baseada em um questionário em que os próprios funcionários respondem à pergunta sobre o quão importante é a resistência ao estresse no trabalho que desenvolvem. Não é um problema - se isso significasse que as mulheres, supostamente menos resistentes ao estresse, tendessem a reportar níveis mais altos, então nesse caso, a lista deveria ser dominada por ocupações em que as mulheres são a maioria. O que não ocorre tampouco.

De todo modo, uma lista alternativa de profissões por estresse a que os trabalhadores se expõe é da CareerCast.com. O estudo analisa 11 fatores como: necessidade de viajar com frequência, exposição da vida à risco de morte, necessidade de cumprir prazos, demandas físicas, lidar com o público e outros. A versão de 2016 é apresentada na lista abaixo ordenada do mais estressante para o menos.



Entre as 20 mais estressantes, consigo recuperar dados sobre a razão sexual para 17. Em 7 há mais mulheres e em 10 há mais homens. Entre as 30 primeiras, são 25 com dados sobre a razão sexual: em 11 há mais mulheres e em 14 há mais homens.

Novamente, sem indícios de que as mulheres sistematicamente evitem as profissões mais estressantes.

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Divagação científica - divulgando ciências cientificamente 31

Minhas anotações de Dahlstrom 2010 e 2012 sobre a influência do papel de causalidade de uma informação em seu efeito persuasivo.

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Dahlstrom, M.F. 2010. The role of causality in information acceptance in narratives: an example from science communication. Communication Research 37(6); 857-75. DOI: 10.1177/0093650210362683.

Dahlstrom, M.F. 2012. The persuasive influence of narrative causality: psychological mechanism, strenght in overcoming resistance, and persistence over time. Media Psychology 15(3): 303-26. DOI: 10.1080/15213269.2012.702604.

Dahlstrom 2010
Sujeitos: 56 estudantes de graduação em um universidade americana do meio oeste; idade 19,53 (±0,72) anos, 56% mulheres.

Tratamentos: Inserção de asserções em trecho causal, em trecho não causal, sem inserção das asserções. Texto de estímulo básico (narrativa de fantasia sobre piratas inexperientes em busca de tesouro - a fim de evitar controvérsias correntes e ocultar a intensão de persuasão) com 6 slots para inserção de asserções sem alteração de sentido: 18 asserções no total. Comprimento total dos textos: 3.758; 3.763; 3.769 palavras.

Resultados:
.lembrança ('recall'): causal - M=0,46(±0,32); não-causal: M=0,29(±0,22); ausente - M<0,01(±0,04).
<0 0="" 1="" a="" codificada="" diferen="" e="" em="" entre="" lembran="" n="" o="" os="" p="" resposta="" sem="" significativa="" sim="" total="" tratamentos.="">.veracidade percebida ('perceived truthfulness'): causal - M=5,26(±1,12); não-causal - M=4,93(±0,97); ausente - M=4,53(±0,83). veracidade percebida total sem diferença significativa entre os tratamentos. (resposta codificada de 1 a 7: 'absolutamente falsa', 'provavelmente falsa', 'não sei', 'possivelmente verdadeira', 'provavelmente verdadeira', 'absolutamente verdadeira').
.moderadores: transporte ('transportation', grau de envolvimento mental do indivíduo com o mundo da narrativa): M=4,37(±0,76; α=0,76) (medida em escala de 12 itens); ideologia política: M=3,55(±1,46) e religiosidade: M=3,98(±1,98) (medidas em item único com escala de 7 pontos - maiores os valores mais conservadora a visão e maior a importância da religião). Sem efeito significativo sobre as questões de interesse.

Dahlstrom 2012
Sujeitos: 92 estudantes de graduação, idade 19,95(±1,75) anos; 66% mulheres. Participaram do estudo em troca de créditos extras. Intervalo de 2 semanas entre a realização dos testes e resposta ao questionário de acompanhamento.

Tratamento: três tipos de narrativa-estímulo - localização da asserção: causal, não-causal, ausente; dois tipos de intervalo para a resposta - imediato, com atraso (duas semanas).
Texto narrativo ficcional curto para ser lido como entretenimento (a respeito de um funcionário de um centro de ciências, Lucas, em competição com um museu próximo para atrair mais visitantes para sua exposição do Dia da Terra); 17 asserções anti-ambientais falsas sobre as quais os participantes mais provavelmente teriam crenças preexistentes (p.e. "Deixar o computador ligado a noite toda economiza mais energia do que desligá-lo e religá-lo de manhã" ou "Áreas urbanas e agrícolas atualmente correspondem a menos de 15% da área disponível").
Localização causal: eventos que incidem na cadeia de causa-e-efeito principal dentro da narrativa (causa a ocorrência de eventos futuros); localização não-causal: afirmativas que incidem foram da cadeia principal causal, sem impacto sobre eventos futuros; localização de ausência: asserção não incluída no texto da narrativa.
Tamanho total do texto: 2.974; 2.986 e 2.965 palavras.

Avaliação de crenças contraditórias preexistentes: nova escala de paradigma ecológico (Dunlap et al. 2000): maior pontuação, crenças pró-ambientais mais fortes (desafiadas pelas asserções apresentadas no estudo).

Resultados:
.lembrança imediata: causal - M=0,52(±0,33); não-causal - M=0,21(±0,26); ausente - M<0,01(±0,03). Teste global significativo: F(2,194)=153,91, P<0,01, η2=0,61; Mcausal>Mnão-causal significativo: F(1,97)=85,32, p<0,01, η2=0,47; Mcausal>Mausente significativo: F(1,97)=276,02, p<0,01, η2=0,74; Mnão-casal>Mausente significativo: F(1,97)=77,61, p<0,01, η2=0,44.
.lembrança com atraso: causal - M=0,28(±0,29); não-causal - M=0,11(±0,18); ausente - M=0,02(±0,07)
.veracidade percebida imediata: causal - M=4,85(±1,58); não-causal - M=4,48(±1,35); ausente - M=3,66(±0,84).Teste global significativo: F(2,180)=47,39, p<0,01, η2=0,35; Mcausal>Mnão causal significativo: F(1,90)=12,43, p=0,01, η2=0,12; Mcausal>Mausente signficativo: F(1,90)=75,32, p<0,01, η2=0,46; Mnão-causal>Mausente significativo: F(1,90)=41,00, p<0,01, η2=0,31.
.veracidade percebida com atraso: causal - M=4,82(±1,43); não causal - M =4,36(±1,21); ausente - M=3,86(±1,10).

Contraste da lembrança correspondente prevê o contraste da veracidade percebida: t(87)=2,91, p>0,01. Hipótese de que a lembrança medeia a percepção de veracidade é corroborada.

Quando a unidade de análise foi a causalidade:
- transporte não apresentou efeito significativo sobre a lembrança: t(75)=1,32, p=0,19;
- visão pró-ambiental não apresentou efeito significativo sobre a lembrança: t(69)=1,15, p=0,26;
- transporte não apresentou efeito significativo sobre a percepção da veracidade: t(75)=-0,34, p=0,73;
- visão pró-ambiental não apresentou efeito significativo sobre a percepção da veracidade: t(69)=-1,94, p=0,06.

Quando a unidade de análise foi a narrativa toda:
- maior o transporte, maior a lembrança: t(75)=2,35, p=0,02;
- maior a visão pró-ambiental, maior a lembrança: t(75)=2,47, p=0,02;
- transporte não apresentou efeito significativo sobre a percepção da veracidade: t(69)=1,58, p=0,12;
- maior a visão pró-ambiental, menor a percepção da veracidade (as asserções eram todas antiambientais): t(69)=-3,20, p<0,01.

Tempo:
.lembrança causal: queda significativa [F(1,91)=61,56; p<0,01; η2=0,40];
.lembrança não-causal: queda significativa [F(1,91)=26,25, p<0,01; η2=0,22];
.veracidade percebida causal: sem efeito significativo [F(1, 82)=0,84; p=0,36; η2=0,01];
.veracidade percebida não-causal: sem efeito significativo [F(1, 86)=0,93; p=0,34; η2=0,01].
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segunda-feira, 8 de maio de 2017

Divagação científica - divulgando ciências cientificamente 30

Minhas anotações de Winter et al. 2015 sobre o efeito de apresentações de incertezas em textos sobre estudos científicos nas atitudes dos leitores. 
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Winter, S.; Krämer, N.C.; Rösner, L. & Neubaum, G. 2015. Don’t Keep It (Too) Simple: How Textual Representations of Scientific Uncertainty Affect Laypersons’ Attitudes. Journal of Language and Social Psychology 34(3): 251-72. doi: doi.org/10.1177/0261927X14555872.

Amostra: 78 adultos falantes de alemão (65 mulheres; 13 homens; idade: 40,27±6,04 anos), pais de filhos de ate 18 anos, recrutados via lista de emails e fóruns de discussão online para pais (incentivo de participação: sorteio quatro prêmios de 125 EUR em créditos para uso em site de e-commerce para os que fornecessem email válido em formulário à parte). Escolaridade: 32, nível superior; 26, ensino médio completo; 20, nível de escolaridade inferior ao ensino médio completo.

Textos: Os participantes foram designados aleatoriamente para lerem artigos científicos online, em forma de publicação de blog, sobre os efeitos de video games violentos sobre crianças e adolescentes de um de quatro diferentes níveis de expressões sobre incerteza científica.
.Unilateral/básico: Texto básico unilateral sobre os perigos dos jogos de computador em estilo relativamente neutro sem intensificadores ou palavras vagas ('hedges'): (p.e. 'Um estudo experimental mostrou que jogos realistas com conteúdos violentos podem aumentar o nível de agressão dos jogadores');
.Unilateral/taxativo('assertive'): Versão unilateral sobre os perigos dos jogos de computador com expressões assertivas (p.e. 'sem dúvida', 'Estudos recentes claramente demonstram que...') e intensificadores como 'definitivamente' ou 'altamente (perigosos)';
.Unilateral/vago('hedge'): Versão unilateral sobre os perigos dos jogos de computador com imprecisões lexicais 'lexicals hedges' (p.e. 'em parte', '[perigo] potencial' ou 'poderia') referindo-se a afirmações interpretativas bem como a sentenças curtas sobre as limitações (p.e. 'Foi mencionado que este estudo compara apenas três jogos específicos, significando que ainda há questões em aberto');
.Dois lados: Um outro argumento sobre os efeitos positivos dos jogos de computador foi incluído à versão unilateral vaga de modo que esta versão representa uma argumentação com ambos os lados. Para controlar o efeito da ordem de apresentação, metade dos participantes nesta condição recebeu o argumento pró no começo do texto e a outra metade recebeu o parágrafo adicional ao fim do texto.
.O conteúdo básico (introdução sobre o crescimento dos jogos de computador e três argumentos/parágrafos sobre os efeitos negativos) e os argumentos principais foram os mesmos em todas as condições.
.Estudo piloto prévio testou as forças dos argumentos para que não houvesse um desbalanço entre as versões.

Características dos leitores
.Necessidade de cognição ('need for cognition'): A tendência dos leitores em gostar de pensamentos complexos e se engajar neles foi medida com a escala NC de Cacioppo e Petty (1982): 16 itens como 'Eu somente penso tão profundamente quanto preciso' ('I only think as hard as I have to') (código-revertido) ou 'Eu realmente gosto de tarefa que envolve trazer novas soluções para os problemas', com respostas de 1 a 5. A média dos itens foi usada para produzir um escore NC (α de Cronbach = 0,82; M = 3,76±0,51).
.Crenças epistemológicas ('epistemological beliefs'): Para medir as visões sobre a natureza da ciência e do conhecimento dos participantes, foi usado o questionário de Hofer (2000) de crenças epistemológicas. Os participantes deveriam responder com o grau de concordância (1 = discorda totalmente; 5 = concorda totalmente). 8 itens da dimensão 'Certeza do conhecimento' (p.e. 'A verdade é imutável neste tema' ['Truth is unchanging in this subject'] Outras dimensões foram de justificação do conhecimento (4 items: p.e. 'Respostas corretas neste área são mais uma questão de opinião do que de fato'), fonte doconhecimento (4 itens: p.e. 'Às vezes você deve aceitar as respostas dos especialistas nesta área, mesmo se você não as entender') e se a verdade pode ser atingida (2 itens, p.e 'Os especialistas nesta área podem, no final, atingir a verdade').
.Nota: a consistência interna dessas subdimensões foram questionáveis.

Medidas das variáveis dependentes
.Avaliação dos textos pelos leitores
.8 itens de diferenciações semânticas ('semantic differentials'): não confiável-confiável ('credible'), baixa qualidade-alta qualidade; mal escrito-bem escrito; não útil-útil; desagradável-agradável ('likeable'), não compreensível-compreensível; ruim-bom; não recomendável-recomendável - em escala de 7 pontos).
.Os itens mostraram alta consistência interna:  α de Cronbach = 0,95.
.Não houve diferenças significativas na avaliação dos textos pelos leitores entre os tratamentos: todos consideraram-nos bons. Média = 5,53±1,12.
.Atitudes dos leitores em relação ao tópico
.Jogos de computador: 5 itens em escala de 7 pontos de grau de concordância: 'jogos de tiro em primeira pessoa como Counter-Strike deveriam ser proibidos', 'Jogos de computador têm efeitos negativos sobre crianças e adolescentes', 'Jogos de computador violentos treinam crianças e adolescentes para a violência', 'Jogos de computador violentos não são um probelma para o desenvolvimento dos adolescentes' (codificação reversa) e 'Gastar muito tempo no computador tem efeitos negativos no desempenho escolar das crianças'.
.α de Cronbach =0,71. Média = 5,01±1,15.
.Mídia violenta: 6 itens: 'Levando tudo em conta, penso que conteúdos violentas de mídia têm uma influência negativa sobre crianças e adolestentes', 'Conteúdos violentos de mídia aumentam a probabilidade de comportamento agressivo em crianças e adolescentes', 'Para mim, o consumo de conteúdos violentos de mídia é inofensivo' (codificação reversa), 'O consumo de conteúdos de mídia podem ter efeitos negativos sobre o desenvolvimento de crianças e adolescentes', 'Crianças e adolescentes não devem consumir conteúdos violentos de mídia' e 'O consumo de representações de violência na mídia pode ser razoável para crianças e adolescentes aliviarem a agressão' (codificação reversa).
.α de Cronbach =0,84. Média = 5,73±1,11.
.Consumo geral de mídia por crianças e adolescentes: 4 itens em escala de 7 pontos de diferenciais semânticos: não perigoso-perigoso, positivo-negativo, inofensivo-danoso ('harmless-harmful'), razoável-não razoável.
.α de Cronbach =0,91. Média = 3,98±1,09.

Resultados
.Os homens apresentaram uma visão menos negativa em relação aos jogos de computador do que as mulheres. No entanto, o tamanho amostral de homens foi relativamente baixo.
.Em indivíduos com maior necessidade por cognição, a apresentação de mais de um lado dos efeitos de jogos de computador levou a uma atitude menos negativa em relação a esses jogos. (b = −1,33±0,47, t = 2,85, p = 0,006). (Fig. 1.)
 
Figura 1. Efeito da apresentação unilateral (one-sided) ou dos dois lados (two-sided) dos efeitos de jogos de computadores violentos no comportamento de crianças e adolescentes em pessoas com baixa (low NC) e alta (high NC) necessidade por cognição. Fonte: Winter et al. 2015.

.Efeito similar foi observado entre os leitores com crenças epistemológicas mais sofisticadas. (b = −1,49±0,44, t = 3,41, p = 0,001). (Fig. 2.)
 
Figura 2. Efeito da apresentação unilateral (one-sided) ou dos dois lados (two-sided) dos efeitos de jogos de computadores violentos no comportamento de crianças e adolescentes em pessoas com crenças epistemológicas complexas ('sophisticated') e simples ('naive'). Fonte: Winter et al. 2015.


.Não se observou efeito significativo do uso de 'imprecisões lexicais' ('hedges') na atitude dos leitores.
.O texto unilateral assertivo apresentou um efeito negativo: diminuindo a atitude negativa dos leitores a respeito dos jogos violentos em relação ao controle. (β = -0,269; p = 0,049 - deve-se notar, no entanto, que os autores não parecem ter feito nenhuma correção do nível de significância em função das múltiplas comparações.)

quinta-feira, 27 de abril de 2017

Ciência: a longa (longa) marcha

Há gente frustrada com o público de cerca de 500 participantes em São Paulo e uns 400 no Rio de Janeiro na Marcha pela Ciência do último dia 22.abr. Sabine Righetti, da Folha de São Paulo, por exemplo, classifica de fiasco. Sua base de comparação são o número de pesquisadores na USP: cerca de 6.000 docentes, além de por votla de 36.000 pós-graduandos e 50.000 alunos de graduação. E os cerca de 40.000 manifestantes nas marchas de Washington e de Chicago.

Também é possível se olhar para a metade cheia do copo: a participação foi do nível da de Genebra, com umas 600 pessoas. Em Rio e em São Paulo, choveu (em São Paulo, um pouco mais do que uma garoa) e fez um certo frio. No Brasil todo era um sábado ligado a um feriado de uma sexta. Em São Paulo, a organização contou com menos de um mês; o comitê não possuía nenhuma experiência anterior em manifestações dessa natureza (algum leitor atento poderá confirmar se este é o primeiro protesto de cientistas por meio de demonstrações públicas no Brasil); apesar de alguns apoios como da SBPC, da ANPG e da Aciesp*, a verba foi bastante limitada e os organizadores tiveram que bancar do próprio bolso muitas despesas. (Uma das marchas americanas conseguiu levantar mais de 100.000 USD. Quantia várias ordens de grandeza acima das arrecadadas em todas as 25 marchas no Brasil.) Frente a essas dificuldades - além da relativamente baixa cobertura pré-marcha por parte da imprensa.

Um levantamento comparativo mais extensivo haverá de ser feito em algum momento futuro. Uma parcial rápida indica que a Folha de S. Paulo, segundo seu acervo online, houve apenas duas menções à "Marcha da Ciência" antes do dia 22.abr. Uma única vez à marcha no Brasil, apenas à de São Paulo, em texto de Reinaldo José Lopes, "Ciência Degolada", de 9.abr o texto é sobre a situação precária da ciência no país, principalmente frente aos cortes em vários níveis governamentais, a marcha paulistana é mencionada somente no sétimo parágrafo. No Estadão impresso nenhum resultado é obtido em relação ao impresso; no online também há apenas duas referências antes do dia das marchas, uma de Lúcia Guimarães sobre as marchas agendadas no mundo e na véspera, no blog de Herton Escobar, o vídeo do presidente da ABC (Luiz Davidovich), convocando os cientistas à participarem dos protestos. O New York Times, por outro lado, apresentou uma cobertura pré-marcha bem mais ampla com pelo menos 7 notícias e artigos de opinião (inclusive contrários às manifestações dos cientistas).

Considerando-se esse quadro, é possível até se considerar as marchas no Brasil como um sucesso, ainda que não estrondoso.

Mas agora é observar os desdobramentos. A marcha mundial estendeu-se para uma Semana de Ação; no RJ alguns eventos como um debate na Coppe/UFRJ e manifestação no LNCC em Petrópolis; e também no SE, com debate na UFS. Outras ações estão em discussão. Por isso, para a SBPC, a marcha foi apenas o pontapé inicial da mobilização da ciência brasileira.

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O meu relato sobre o ato em São Paulo pode ser lido em "Marcha pela Ciência se espalha no mundo com pautas locais", reportagem para a revista Pesquisa Fapesp, em coautoria com a bióloga e jornalista Maria Guimarães, editora da versão online da publicação.

O que acrescento aqui é que:
.(pelo menos) uma pessoa presente, sem formação em ciências naturais (bacharel em Direito), reclamou do uso de jargões nos discursos;
.no discurso, a única manifestação de uma pessoa que provavelmente não era cientista (nem pós-graduando ou aluno de graduação em ciências) - embora o fato de ser um vendedor de ambulante não afaste totalmente a possibilidade - foi em relação à defesa feita pela Profa. Dra. Eleonora Trajano do uso de animais na pesquisa e no ensino superior; o vendedor pediu o microfone - a organização não quis atender em um primeiro instante, mas ante da insistência acedeu - e disse que os animais poderiam ser substituídos por políticos, o que, para nem tanto surpresa de minha parte (mas certamente bastante constrangimento), foi aplaudido por vários dos presentes;
.a hesitação da organização acabou sendo contraditória no sentido de que os cientistas saíram do laboratório exatamente para interagir com a população não-cientista;
.uma tônica dos discursos acabou centrando-se no obscurantismo (desde o negacionismo climático à crença em poderes de cristais) - como relatado pelo jornalista Herton Escobar no Estadão;
.de minha parte acho que é um enquadramento não muito produtivo dos discursos quando se pretende entabular um diálogo com o público numa posição tão da torre de marfim: "nós estamos certos, ouçam o que temos para falar e obedeçam";
.a maior parte do público presente parece ter sido mesmo composta por já "convertidos": os próprios cientistas e alunos de pós e de graduação;
.mas houve, pelo que me relatou o pessoal das barracas, sim, a participação de pessoas que não eram da academia: crianças e transeuntes curiosos que se aproximaram para saber o que ocorria na praça;
.se contarmos com essa circulação de pessoas que não ficaram o tempo todo, é possível que um número substancialmente maior do que as 500 pessoas estimadas tenham participado da marcha em São Paulo.
.o único político que vi por ali foi o ex-senador e atual vereador Eduardo Suplicy.**
.houve momentos de tensão entre a comissão organizadora e alguns oradores, especialmente os que se inscreveram durante o evento, após os discursos programados, quando suas falas ecoavam críticas nominais ao governo federal (geralmente seguida de manifestações de vários presentes gritando a palavra de ordem "Fora, Temer") - a organização interrompeu alguns discursos para frisar que se tratava de uma manifestação apartidária (um compromisso assumido com os organizadores da March for Science de Washington).**

*Upideite(29/abr/2017): Corrigido a esta data. Obrigado, Flávia Virgínio Fonseca.
**Upideite(30/abr/2017): adido a esta data.

 Veja também:
Paulo Jubilut/Biologia Total (24/abr/2017): O que a Ciência representa para você?
Natália Pasternak Taschner (25/abr/2017): Marcha, chuva e fogo.

domingo, 23 de abril de 2017

SUS e "Medicina Alternativa": Plantas medicinais e fitoterapia

Continuando a série sobre as PICs - práticas integrativas e complementares - no SUS, vamos analisar o que a literatura científica traz a respeito de uso de plantas medicinais e fitoterápicas e sua eficiência na prevenção e cura de doenças.

.plantas medicinais e fitoterapia
>O que é?: "terapêutica caracterizada pelo uso de plantas medicinais em suas diferentes formas farmacêuticas, sem a utilização de substâncias ativas isoladas, ainda que de origem vegetal". PNPIC/MS 2006.
(O fitoterápico é "o medicamento obtido empregando-se exclusivamente derivados de drogas vegetais. É caracterizado pelo conhecimento da eficácia e dos riscos de seu uso, assim como pela reprodutibilidade e constância  de sua  qualidade. Não se considera fitoterápico aquele que, na sua composição, inclua substâncias ativas isoladas, de qualquer origem, nem as associações destas com extratos vegetais." Netto et al. 2006. Ao contrário das plantas e suas partes in natura e preparados caseiros, o fitoterápico é um medicamento e para sua comercialização é preciso registro na Anvisa, com comprovação de sua eficácia e só pode ser prescrito por um médico.)
>Status: funciona a depender da planta, do preparado e da condição.
É ofertado pelo SUS como PIC desde o estabelecimento do PNPIC em 2006.
WHO Monographs on Selected Medicinal Plants. Série de monografias.
>> A OMS tem publicado uma série iniciada em 1999 de coleção de monografias sobre plantas medicinais selecionadas (de uso amplo em todo o mundo) com o nome, descrição, usos terapêuticos, efeitos adversos e referências da literatura cienífica. Até o momento são 4 volumes (somando 117 monografias) da série principal, mais um volume, de 2010, com 30 monografias sobre plantas medicinais utilizadas em países recentemente independentes e da Europa Central e do Leste.
Bent, S. 2008. Revisão da eficácia e segurança de 10 plantas medicinais mais utilizadas nos EUA.
>>funciona: soja para hipercolesterolemia;
>>possivelmente funciona: Gingko biloba (demência, claudicação), alho (hipercolesterolemia), erva-de-são-joão (St. John's wort: depressão leve a moderada), kava kava (ansiedade);
>>não funciona: soja para sintomas da menopausa.
>>ausência de indício sólido para: Echinacea (infecção do trato respiratório superior), ginseng (desempenho cognitivo e físico), hortelã-pimenta (peppermint: dor de estômago, síndrome do intestino irritável), gengibre (náusea);
>>sem dados de qualidade: camomila (insônia, problemas gastrointestinais);
Alexandre et al. (2005a) e Alexandre et al. (2005b) revisam os estudos para 8 plantas de maior uso no estado de Santa Catarina:
>>funciona: kava (ansiedade, mas mais estudos necessários para efeitos a longo prazo)
>>possivelmente funciona: gingko (claudicação, Alzheimer e demência em pessoas idosas), hipérico (depressão leve a moderada), castanha-da-índia (insuficiência venosa crônica;
>>ausência de indício sólido para: valeriana (distúrbios do sono), alcachofra (hipercolesterolemia), ginseng (desempenho cognitivo e físico), maracujá (ansiedade).
Nota: A despeito da grande diversidade e do intenso uso popular de plantas medicinais no Brasil, há poucos trabalhos publicados de consolidação de estudos sobre o tema. Carvalho et al. 2008 fazem um levantamento dos fitoterápicos registrados na Anvisa, as espécies com maior número de registros de derivados foram: gingko (Ginkgo biloba), castanha da índia (Aesculus hippocastanum), alcachofra (Cynara scolymus), hipérico (Hypericum perforatum), soja (Glycine max), valeriana (Valeriana officinalis), ginseng (Panax ginseng), sene (Cassia angustifolia, Cassia senna e Senna alexandrina), cimífuga (Cimicifuga racemosa), guaco (Mikania glomerata), espinheira-santa (Maytenus ilicifolia), boldo (Peumus boldus), guaraná (Paullinia cupana). Destes, apenas guaco, espinheira-santa e guaraná são nativos da flora brasileira, o que parece ser um bom indicativo da falta de pesquisa no país. Rodrigues et al. 2011 relacionam 26 plantas comumente utilizadas como medicinais no Brasil paras as quais há trabalhos relatando efeitos embriotóxicos, teratogênicos e/ou abortivos.

Parte 3: Musicoterapia.

quinta-feira, 13 de abril de 2017

Marcha pela Ciência no Brasil

No dia 22 de abril (Dia da Terra), deverá ser realizada em mais de 500 cidades do mundo a March for Science.

Inicialmente foi convocada para um protesto em Washington, DC, nos EUA, contra as ações do presidente americano hostis às pesquisas sobre mudanças climáticas, sendo a agenda da marcha a defesa de adoção de políticas públicas baseadas em evidências, transparência governamental, garantia do financiamento público das ciências e o combate ao negacionismo - climático e da evolução - demonstrado por membros importantes da nova administração federal dos estêites.

Rapidamente ganhou apoio de comunidades científicas por todo o globo. Não apenas em solidariedade, mas também por agendas locais próprias.

No Brasil, a SBPC e várias instituições científicas e pesquisadores têm promovido a versão nacional com a Marcha pela Ciência no Brasil. Por enquanto são 13 cidades brasileiras em que estão previstas a realização de manifestações na data. Cada local tem seu próprio conjunto de reivindicações e pontos de protestos, mas o grande motivador é a contrariedade em relação às ações do governo federal, que têm enfraquecido a ciência brasileira. Particularmente o anúncio de contingenciamento de até 53% em relação ao orçamento inicialmente previsto para pastas e projetos relacionados à CT&I ((R$ 4,6 bi sobre R$ 8,7 bi)): para o MCTIC, o corte é de até 44% (um corte de até R$ 2,2 bi sobre orçamento inicial de R$ 5 bi).



Ano passado, após o anúncio da fusão entre o MCTI e o Ministério das Comunicações, houve um protesto em São Paulo, mas com pequena adesão. Desta vez, com a concretização de muitos temores externados à época e a mobilização mundial, espero que a história seja outra. (Embora eu seja cético quanto aos resultados efetivos que deverá ser obtido.)

Veja também:
.Reinaldo José Lopes/Folha de São Paulo (09/abr/2017): Sob terra arrasada, ciência do Brasil precisa de caminhos para se reinventar. (Cuidado! Contém paywall poroso.)
.Reinaldo José Lopes (20/abr/2017): Marche pela ciência, Brasil!!! (vídeo)
.Marília Fuller/Scientific American Brasil (s.d.) Cientistas de treze cidades brasileiras se juntam a movimento mundial e marcham em 22 de abril.
.SciCast Debate (13/abr/2017): Ciência, Política e Bolha Acadêmica.
.José Orenstein/Nexo Jornal (18/abr/2017): Como os cientistas reagem ao menor orçamento federal para a área em 12 anos.
.Isaac Roitman/Política Brasileira (11/abr/2017): Marcha pela Ciência.
.Edna Ferreira/Nossa Ciência (20/abr/2017): Nordeste participa da Marcha pela Ciência.
.Herton Escobar/Imagine Só (21/abr/2017): Convocação para a Marcha pela Ciência. (Cuidado! Contém paywall poroso.)

sexta-feira, 7 de abril de 2017

SUS e "Medicina Alternativa": Homeopatia

O Ministério da Saúde (MS) anunciou que o Sistema Único de Saúde passa a oferecer 19 tipos de práticas integrativas e complementares - PICs - (14 novas práticas foram incluídas pela Portaria nº 849/2017) no âmbito da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares - PNPIC.

Segundo o MS, PICs: "buscam estimular os mecanismos naturais de prevenção de agravos e recuperação da saúde por meio de tecnologias eficazes e seguras, com ênfase na escuta acolhedora, no desenvolvimento do vínculo terapêutico e na integração do ser humano com o meio ambiente e a sociedade".

Parece uma iniciativa meritória, mas alguma crítica tem sido gerada, especialmente no meio cientófilo, pelo uso de dinheiro público em técnicas sem respaldo científico. Defensores, por outro lado, afirmam que estudos foram feitos comprovando a eficácia. Outros defensores (às vezes os mesmos) dizem que seria uma visão reducionista pensar a saúde apenas em termos de técnicas cientificamente testadas e seria apenas uma validação do poder do establishment científico e da indústria da saúde.

Mas o próprio MS justifica as PICs como sendo: "tratamentos que utilizam recursos terapêuticos, baseados em conhecimentos tradicionais, voltados para curar e prevenir diversas doenças como depressão e hipertensão". Se a alegação é de que curam e previnem doenças, é bom que curem e previnam doenças. Além disso, as PICs, também denominadas de "medicina tradicional" e "medicina complementar e alternativa" (CAM, na sigla em inglês), não são pobres coitadinhas, é um setor da própria indústria da saúde e um bem grande. (Apenas nos EUA, em 2009, a CAM correspondeu a gastos pela população adulta de US$ 33,9 bilhões. É um montante que colocaria fácil a CAM entre as maiores empresas farmacêuticas do mundo. Mesmo que esse montante seja diluído entre um grande número de empresas e indivíduos, mostra que a as "medicina alternativa" é uma indústria solidamente consolidada e que movimenta muito dinheiro.)

Então, embora não esgotando a questão, há, sim, necessidade de se examinar a validade de tais práticas.

Disclêimer: Não sou da área da saúde, procurarei nesta série de postagens, então, trazer o que a literatura científica tem de consenso mais atual. Darei preferência a meta-análises (que fazem um apanhado estatístico em cima de uma coleção de estudos individuais menores) e revisões sistemáticas (o autor ou os autores da revisão colige/m os melhores estudos e procura/m extrair uma conclusão geral) sempre que estiverem disponíveis no Google Scholar. Se tiverem alguma referência melhor, por favor, fiquem à vontade para indicar nos comentários.*

.homeopatia
>O que é?: proposta de tratamento através de administração de formulações ultradiluídas (diluição sucessiva em álcool ou água, moléculas do princípio ativo podem não estar mais presentes na solução final) de compostos que se supõe produzir sintomas similares à doença que se pretende combater quando administrada em indivíduos saudáveis. Vide, p.e., Jonas et al. 2003.
>Status: não funciona além de nível de placebo.
É ofertado pelo SUS como PIC desde o estabelecimento do PNPIC em 2006.

NHMRC (Austrália). 2015. 57 revisões sistemáticas (176 artigos):
>>sem efeito além de placebo para: vegetação adenóide infantil (crescimento anormal das tonsilas adenóides por trás do nariz), asma, ansiedade ou condições relacionadas ao stress, diarréia infantil (homeopatia clínica), dor de cabeça e enxaqueca, dor muscular tardia, indução ou abreviação do trabalho de parto, dor durante tratamento dentário, dor por circurgia ortopédica, movimentos intestinais lentos no pós-operatório da circurgia de íleo, síndrome pré-menstrual, infecções do trato respiratório superior (como resfriado), verrugas.
>>ausência de indício sólido de efeito para: rinite alérgica, transtorno de déficit de atenção ou hiperatividade em crianças, contusão (bruising), síndrome de fatiga crônica, diarréia infantil (homeopatia individual), fibromialgia, ondas de calor (hot flushes) em mulheres que tiveram câncer de mama, infecção por HIV, doenças similares à gripe, artrite reumatóide, sinusite, distúrbio do sono ou do ritmo circadiano, estomatite por quimioterapia, úlcera.
Mathie et al. 2016. Meta-análise com 54 estudos RTC (ensaio clínico controlado e aleatorizado)
>>ausência de indício sólido de efeito para: asma alérgica, toxicidade de arsênico, infertilidade feminina/amenorréia, gripe, síndrome do intestino irritável, dor muscular, dor pós-operatória, rinite alérgica sazonal. (É encontrado algum efeito positivo no geral, mas que pode ser atribuído ao viés de publicação - maior tendência a publicar estudos com resultados positivos - e à baixa qualidade dos estudos.)
Nota: Uma famigerada (famosa/infame a depender da pessoa) meta-análise é a de Linde et al. 1997. Ali, o grupo conclui que a homeopatia teria um efeito maior do que o placebo (embora não conseguissem detectar superioridade em nenhuma condição clínica específica). O mesmo grupo, Linde et al. 1999, reanalisou os dados levando em conta a variação na qualidade dos estudos, e observaram que estudos com mais qualidade (aleatorização dos grupos, design duplo cego, descrição dos desistentes e dos removidos dos estudos...) tendiam a reportar menores efeitos da homeopatia. O que os levou a dizerem: "It  seems,  therefore,  likely  that our  meta-analysis at  least  overestimated  the  effects  of homeopathic treatments." ["Parece, então, provável que nossa meta-análise tenha pelo menos superestimado os efeitos dos tratamentos homeopáticos".] Shang et al. 2005 voltam à questão da qualidade dos estudos sobre homeopatia e sua relação com o resultado. Considerando apenas os estudos com grande número de participantes e de boa qualidade metodológica, os 8 estudos sobre homeopatia (de 110 analisados) apresentam uma razão de chances (odd ratio) de 0,88 (IC 95% 0,65–1,19) - praticamente igual a uma razão de 1,00 quando o tratamento homeopática é indistinguível do placebo (note-se que o valor 1,00 está dentro do intervalo de confiaça). Para os tratamentos convencionais, em 6 estudos de alta qualidade (de 110), o OD é de 0,58 (0,39–0,85) mostrando claramente o efeito superior do tratamento sobre o placebo. Hahn, RG. 2013 critica a análise do gráfico em funil ('funnel plot') de Shang por misturar diferentes doenças: o poder estatístico ('power') de estudos em que se esperam efeitos maiores tende a ser diminuído por razões éticas, enquanto estudos em que se esperam efeito menores necessitam de poder estatístico maior, as meta-análises deveriam se focar, assim, em doenças específicas para comparação, em vez de juntar todas em uma análise só; Hahn também critica o fato de mais de 90% dos estudos acaberem sendo descartados. Em sendo válidas as críticas de Hahn, no máximo, até 2013, a situação seria que não haveria demonstração sólidal de que a homeopatia não funcionasse além do placebo; porém, significaria apenas que tampouco não haveria demonstração sólida de que a homeopatia funcione além do placebo. A meta-análise de Mathie 2016 e a revisão de NHMRC 2015 levam em conta doenças específicas.

Parte 2: Plantas medicinais e fitoterapia.

*Upideite(11/abr/2017): adido a esta data.

Upideite(13/mar/2018): o MS anunciou a inclusão de outras 10 PICs.

Upideite(20/mar/2018): Veja também.
Pirula. 20.mar.2018. Pseudociência no SUS. (vídeo)
Frank Jaava. 24.mar.2018. "Pseudociência no SUS"? Resposta a Pirula. (vídeo)

sábado, 1 de abril de 2017

É mentira, Terta? - Semente animal

Insetos da ordem Phasmatodea são um dos exemplos mais populares de camuflagem, com espécies que assemelham a ramos verdes ou secos de plantas - conhecidos como bichos-pau - ou a folhas, igualmente verdes ou secas - conhecidos como bichos-folha.

Mas a camuflagem não se restringe à fase móvel. Os ovos também apresentam adaptações que emulam partes de plantas - no caso, sementes.
Figura 1. Semente de mamona (Ricinus communis) com
elaiossomo em forma de carúncula. Fonte: Wikimedia
Commons
.

Figura 2. Ovos de fastamatódeos.
Fonte: Wikimedia Commons.
Muitas espécies de plantas são adaptadas de modo a terem suas sementes dispersas por formigas - são  mirmecocóricas. As sementes possuem uma estrutura carnuda conhecida como elaiossomo, rica em óleos (Fig. 1). Essas sementes são carregadas pelas formigas até os formigueiros, onde os elaiossomos são consumidos e as sementes são descartadas - ou acumuladas em câmaras do próprio formigueiro, ou em montículos do lado de fora. Assim as sementes são protegidas de predadores, de incêndios florestais e são espalhadas pela mata.
Figura 3. Estrutura do ovo de Haaniella erringtoniae,
espécie malaia. Fonte: Wikimedia Commons.

Ovos de fasmatódeos (Fig. 2, 3) apresentam uma estrutura similar, denominado capitulo, que também é rico em óleos. Pelo menos para algumas espécies, os ovos costumam ser carregados pelas formigas. Mas os detalhes da relação entre os fasmatódeos e as formigas ainda não estão completamente esclarecidos.

Figura 4. Fêmea de bicho-pau golias,
espécie australiana: Eurycnema goliath.
Fonte: Wikimedia Commons.
Stantom et al. (2015) testaram o papel dos capítulos dos ovos da espécie australiana Eurycnema goliath (Fig. 4), bicho-pau golias, removendo a estrutura dos ovos e anexando-as a esferas de poliestiremo. Os ovos (19 de 50) e as esferas (27 de 50) com o capítulo anexado foram transportados pelas formigas, enquanto os ovos (2 de 50 transportadas) e esferas (1 de 50 transportadas) sem o capítulo foram ignorados.

O grupo analisou também a composição dos óleos presentes nos capítulos dos ovos e constatou que é muito similar aos óleos nos elaiossomos das sementes mirmecocóricas, com predominância de ácido oleico, palmítico, linoleico, esteárico e γ-linoleico.

Não se sabe ainda o destino dos ovos carregados pelas formigas - se permanecem nos formigueiros e lá eclodem ou se são removidos ou mesmo se consumidos pelas formigas (embora, neste caso, a taxa não deve ser muito alta, do contrário, a característica tenderia ser eliminada evolutivamente). Há ainda o rsico de ser predado por aves granívoras - e não parece haver resistência dos ovos à passagem pelo trato digestório (Shelomi 2012).

quinta-feira, 30 de março de 2017

Divulgação científica = garoto de recados?

Nem ia comentar sobre a publicação pela Rádio USP/Jornal USP de matéria do jornalista Ciro Marcondes Filho, professor da ECA/USP, requentando desinformação a respeito do piriproxifem e microcefalia. O máximo que fiz foi atualizar uma das postagens em que analisava a indagações a respeito do composto e da formulação Sumilarv. O Jornal da USP deu espaço para o texto de contestação feita pelo imunologista Jean Pierre Schatzmann Peron, professor do ICB/USP e membro da Rede Zika. Esse texto originalmente foi publicado no Café na Bancada. Na página com a reprodução da coluna de Marcondes, o Jornal da USP apensou também manifestações de algumas pessoas - a maioria da comunidade uspiana - rebatendo e criticando o teor original.

O que me chamou atenção, no entanto, foi a resposta do Professor Marcondes a essas críticas. Diz ele:

"Convém reforçar que o trabalho da divulgação científica é chamar a atenção da sociedade para questões emergentes e atuais. Ela apenas repassa aquilo que preocupa os cientistas e que pode ter, por isso, efeitos sociais maiores. Não lhe cabe discutir se a constatação, no caso, da associação argentina de médicos, é justa ou não; essa tarefa é da Academia, a quem compete, em fóruns próprios, apresentar as demonstrações em contrário."

Com todo o respeito profissional que o jornalista mereça, aqui tenho que discordar fortemente. O trabalho do divulgador de ciências não é apenas repassar a preocupação dos cientistas. Cabe, sim, ao divulgador estar capacitado para discutir as alegações; ou, no mínimo, então, trazer a visão corrente das ciências, p.e., entrevistando pesquisadores confiáveis (que pesquisem o tema e, preferencialmente, que tenham uma boa reputação acadêmica - podem até eventualmente serem relativamente desconhecidos; mas certamente deve se evitar aqueles que têm uma reputação ruim por publicar trabalhos metodologicamente falhos ou, pior, por fabricar dados ou forçar conclusões que não se sustentam nas observações disponíveis).

No caso em questão há duas agravantes: a primeira é que é um tema requentado. Já tem todo um ano em que inicialmente o questionamento veio à tona e houve toda uma discussão e contra-argumentações, inclusive com dados novos confirmando a relativa segurança do composto (e mais, o autor ignorou as publicações com resultados que indicam claramente que o ZIKV está envolvido causalmente na microcefalia das crianças afetadas). E, em segundo lugar, o autor dá como fonte um sítio web de reputação duvidosa, conhecido como sensacionalista e pouco zeloso na apuração dos fatos - se é que faz alguma (poderia pelo menos haver se baseado no próprio relatório da Reduas, organização argentina que alegou problemas com o piriproxifem).

Já discuti aqui no GR, o papel (ou, antes, os papéis) da DC: como watchdog e como relações públicas das ciências. Trazer irrefletidamente como boa ciência uma alegação sem fundamento não cumpre nem um nem outro papel. É perdoável cair em erros por confiar em fontes reputadas, no consenso científico, na ciência mainstream: que não são infalíveis, mas têm mecanismos para diminuir as chances de falhas e, principalmente, de corrigir as falhas. Mas já é meio forçar a amizade republicar sem analisar mais detidamente alegações de fontes marginais, que desafiam o que é bem estabelecido em ciências: quase nunca têm esses mecanismos de correção e checagem (não vão às fontes originais, não estudam a metodologia, não perguntam para profissionais da área se as alegações fazem sentido...)

Se é verdade que, como diz Marcondes, um dos papéis da DC é de "chamar a atenção da sociedade para questões emergentes e atuais"; o divulgador deve trazer questões que realmente são emergentes e atuais. Isto é, há um julgamento do divulgador sobre o que é um tema emergente e atual. Não é um simples garoto de recados que repassa o que quer que lhe ponham em mãos; cabe analisar se a pretensa informação é realmente candente, é realmente importante, é realmente relevante, é realmente um questionamento válido.

E, se questionado a respeito da candência, da importância, da relevância e, mais do que tudo, da validade da informação, o divulgador haverá de ou admitir o erro (todo mundo erra às vezes) ou colocar a sua apuração* sobre a candência, importância, relevância e validade na mesa, defendendo-se com base nos elementos apurados. E não com base em jogar a batata quente pra outrem (no caso, a Academia) e lavar as próprias mãos. O que piora é que a Academia *havia* feito sua parte e, nos fóruns próprios (i.e. em artigos publicados em revistas com revisão por pares e indexadas), apresentado demonstrações em contrário (Albuquerque et al. 2016 -  os autores analisaram a incidência de microcefalia em cidades pernambucanas e não encontraram correlação com uso de piriproxifem, e Dzieciolowska et al. 2017 - em que não obtiveram alterações do tamanho cerebral ou do padrão de expressão gênica no órgão em larvas de peixe paulistinha). Embora na verdade o ônus da prova coubesse a quem alega: deve, antes, haver uma demonstração em fórum próprio da possibilidade de ligação entre o composto e a má formação (a bem da verdade, até houve alguns artigos em defesa da tese, como o de Truong et al. 2016, que detectaram efeito neurotóxico do piriproxifem em larvas de peixe paulistinha, mas em contrações muito acima das utilizadas na profilaxia contra mosquitos).

*Obs: A ausência de apuração adequada se constata em vários pontos:
1) A própria publicação da nota com a desinformação;
2) A publicação *um ano depois* do caso já ser discutido;
3) A ausência de contraponto como as contestações científicas em artigos publicados;
4) O fato de ter que publicar uma errata a respeito da ligação (que não há) da Monsanto com o larvicida;
5) Não ser o primeiro caso de publicação de alegações sem base e sensacionalistas:
6) Uso de fontes inadequadas (no caso, um site sensacionalista).

Veja também o que a DCsfera anda falando sobre o tema:
Jean Pierre Schatzmann Peron/Café na Bancada. 21.mar.2017: Mitos desmistificados! Piriproxifeno e a microcefalia.
Carlos Orsi. 23.mar.2017:  O baixo-ventre da divulgação científica.

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