Em um trabalho publicado em 2012, o cartógrafo Ian Muehlenhaus, da University of Wisconsin, examinou os efeitos que diferentes modos de apresentar informações em mapas tinham sobre a percepção das pessoas. Os estilos cartográficos utilizados foram o de autoridade, discreto, propagandista e sensacionalista.
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De autoridade (authoritative): estilo de visualização científica, segue as normas acadêmicas para gráficos e mapas. Exemplo de uso: maioria dos mapas produzidos por órgãos governamentais com fins de legais e de subsídio a políticas públicas. (Fig. 1.)
Discreto (understated): estilo minimalista; dados são simplificados e em pequena quantidade, mostrados de modo básico, deixando de lado nuances e informações adicionais; a aparência é limpa e sem texturas. Exemplo de uso: maioria dos mapas vetoriais da Wikipédia. (Fig. 2.)
Propagandista: os dados são apresentados de modo altamente enviesado (ainda que possam ser cartograficamente adequados) com ênfase no extremo da hierarquia visual para que a mensagem não seja perdida. Textos com palavras fortes são usados nos títulos, legendas e outros locais do mapa. Exemplo de uso: mapas governamentais divulgados para angariar apoio da população para os esforços contra o inimigo durante a Segunda Guerra Mundial. (Fig. 3.)
Sensacionalista: combina a sobrecarga de informações de um mapa de autoridade com o viés de apresentação do mapa propagandista. Exemplos de uso: ilustrações acompanhando peças publicitárias. (Fig. 4.)
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Um mapa de cada estilo foi produzido representando os níveis de radiação em diferentes áreas dos Estados Unidos que seriam atingidas em um hipotético acidente nuclear em uma usina no estado de Washington. Voluntários visualizavam os mapas e respondiam a um questionário online que avaliou: 1) a crença nos dados mostrados nos mapas; 2) o impacto dos mapas nas visões pessoais sobre a energia nuclear; 3) a confiança nos mapas; 4) a preferência sentimental pelos mapas e 5) o quão memoráveis eram os mapas. As questões dos itens 1 e 2 foram respondidas após os voluntários verem um dos quatro tipos de mapa; as de 3 a 5 após verem os quatro tipos de mapa.
Das 112 respostas válidas, cerca de 2/3 eram de homens e 1/3 de mulheres. E cerca de 80% eram jovens de 18 a 25 anos. 8% eram extremamente contrários à energia nuclear, 18% contrários, 18% um pouco contrário; 20% indiferentes; 25% um pouco a favor e cerca de 11% a favor. Não houve nenhum que se declarasse extremamente a favor.
A crença em que a região em que o respondente morava seria atingida no caso do hipotético acidente foi similar aos que viram os mapas do tipo: discreto, sensacionalista e de autoridade; mas a crença de "certeza absoluta" chegou a 60% entre os que viram o mapa propagandista, contra cerca de 20 a 27% entre os que viram outros estilos de mapa. Em todos os tratamentos houve um aumento da posição de oposição à energia nuclear. Em ordem crescente de aumento da oposição: de autoridade, discreto, propagandista e sensacionalista.
65% dos respondentes consideraram estilo de autoridade como o mais confiável, seguido do sensacionalista: 23%, discreto: 7% e propagandista: 5%. 36% gostaram mais do de autoridade, 26% do sensacionalista, 20% do propagandista e 18% do discreto. 46% consideraram que o tipo propagandista era o mais memorável, 28% o discreto, 14% o sensacionalista e 12% o de autoridade.
Em relação à retórica dos mapas, Muehlenhaus conclui que:
- "O feio é memorável." Mapas com design desagradável mais provavelmente se fixam por mais tempo na memória.
- "O viés é atrativo." Mapas apresentação de dados mais ostensivamente enviesados são mais bem apreciados.
- "Ignorância é confiança." Mapas com menos detalhes e menos dados são mais convincentes para a maioria dos leitores.
Referência
Muehlenhaus, I. 2012. If Looks Could Kill: The Impact of Different Rhetorical Styles on Persuasive Geocommunication, The Cartographic Journal 49(4): 361-375, DOI: 10.1179/1743277412Y.0000000032
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Upideite(17.nov.2022): Há, claro, algumas limitações em relação ao estudo. Não apenas a restrição do fato de amostra não ser aleatória nem representativa (as repostas das mulheres, p.e., são diferentes das respostas dos homens e há um viés de maior participação de homens entre os voluntários, além da maior concentração etária na faixa dos jovens adultos em relação à população em geral); mas a natureza do questionário é de autoavaliação. P.e., o fato de as pessoas dizerem que algo é memorável, não quer dizer necessariamente que esse algo será o mais lembrando depois de um tempo. Isso seria um ponto a se testar.
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