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sexta-feira, 20 de setembro de 2013

VEI, de boa. E lá vamos nós outra vez com bactérias alienígenas*

Sim, há uma boa dose de preconceito e de simplificação. Mas, na falta de um maior embasamento analítico, pode-se usar o fluxograma abaixo para fazer uma primeira filtragem a respeito de estudos na área da astrobiologia/exobiologia.


Figura 1. Fluxograma para triagem de notícias a respeito de vida e espaço.

O diagrama acima já ajudaria, de cara, a não termos que comentar sobre um estudo que conclui que formas de vida "chovem" a partir do espaço trazidas por partículas de poeira de cometas.

Época: "Cientistas britânicos dizem ter achado na atmosfera vida originada fora da Terra"
UOL: "Ingleses dizem ter provas de vida alienígena que veio parar na Terra"

Só o jornalista Salvador Nogueira, em seu Mensageiro Sideral, lança um tom de questionamento a respeito.

O Journal of Cosmology não tem a melhor reputação entre os cientistas - nem mesmo entre os do ramo da astrobiologia - com frequência, artigos estranhos a respeito de formas de vida alienígena são publicados lá.

De um lado nem dá para dizer se as formas analisadas são de origem orgânica. É possível que sejam. Mas o argumento para refutar origem terrestre é extremamente débil.

Partículas da superfície de nosso planeta frequentemente são lançadas a grandes altitudes em nossa atmosfera. Por vulcanismos, por impactos de bólidos extraterrestres e até por fenômenos atmosféricos. Os autores alegam que, nos três anos anteriores à coleta das partículas, não houve um grande evento de vulcanismo na região de lançamento- mas erupções vulcânicas de VEI (índice de explosividade vulcânica) 4 (capazes de levar à injeção de material na estratosfera) tem ocorrido em uma média de 2 erupções por ano desde 2008 nessa magnitude e, uma vez na estratosfera, o material pode se espalhar rapidamente.

Não é que a panespermia seja uma hipótese de todo má. Não é que não possa haver vida no espaço. Mas é preciso muito cuidado no teste de hipótese. Trabalhos ruins como esse, com uma denegação apressada da possibilidade de origem mais comezinha: exagero nas dificuldades da hipótese contrária e exagero nas vantagens da hipótese de estimação - apenas depõem ainda mais contra um campo de estudos em que virtualmente não se tem em mãos o objeto de estudo.

Os jornalistas e divulgadores de ciência, na minha opinião, devem ter isso em mente.

*Upideite(22/set/2013): Na verdade, a alegação é de vestígios de organismos ainda mais complexos do que bactérias: algas unicelulares conhecidas como diatomáceas. Os autores citam o trabalho de Griffin 2004 que recuperou micro-organismos terrestres viáveis de altitude de 20.000 km - bactérias e fungos -, mas acreditam que não é possível que o fragmento que identificam como de diatomácea (do gênero Nitzschia) tenha origem terrestre.

Upideite(22/set/2013): Curiosamente, os autores - apesar de citarem a navalha de Occam contra hipóteses mais prosaicas - não discutem a possibilidade de, em um evento remoto, um choque de um bólido extraterrestre ter ejetado material da Terra para o espaço, vagando por milhares ou milhões de anos no espaço e ocasionalmente sendo recapturado pela gravidade terrestre.**

Upideite(22/set/2013): Mais críticas ao estudos.
Richard Gordon Critique of a claimed discovery of a diatom from outer space
Phil Plait Has Alien Life Been Found In Earth's Atmosphere? I'm Gonna Go With "No".

**Upideite(24/set/2013): Um dos autores, por email, diz que a hipótese foi considerada, mas não foi discutida por não haver indícios.

2 comentários:

Rafael G Tavares disse...

Enquanto isso, Paradoxo de Fermi 1x0 UFOs
Abrs

none disse...

Salve, Tavares,

Grato pela visita e comentário.

Bem, de todo modo seria muito longe de formas de vida inteligentes. Mas mesmo a alegação de uma chuva de bactérias espaciais já é complicada.

[]s,

Roberto Takata

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