Fonte: xkcd
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Dean, to the physics department. "Why do I always have to give you guys so much money, for laboratories and expensive equipment and stuff. Why couldn't you be like the math. department - all they need is money for pencils, paper and waste-paper baskets. Or even better, like the philosophy department. All they need are pencils and paper." Fonte. Mathematical humor.
[Do reitor para o departamento de física: "Por que sempre tenho que dar a vocês tanto dinheiro para laboratórios, equipamentos caros e coisas assim? Por que vocês não pode ser como o departamento de matemática - tudo o que eles precisam é de dinheiro para lápis, papel e cesto de lixo? Ou melhor, como o departamento de filosofia. Tudo o que eles precisam é de lápis e papel. "]
São piadas recorrentes no meio dos cientistas. Podem soar como a pura provocação (aka preconceito), mas talvez haja um fundo de verdade.
Fanelli & Glänzel (2013) analisaram dados bibliométricos de quase 29.000 artigos de 12 disciplinas para testar a hipótese da Hierarquia das Ciências (HdS ou HoS, Hierarchy of the Sciences). A HdS foi proposta pelo filósofo positivista francês Auguste Comte em que, da Matemática à Sociologia, haveria uma crescente complexidade, interdependência e proximidade às paixões humanas dos campos de pesquisa (Fig. 1). Não se entenda tal hierarquia em algum sentido pejorativo (apesar das brincadeiras acima reproduzidas), o próprio Comte foi uma importante figura da Sociologia - termo que ele reinventou em 1838 (aparentemente sem saber que Emmanuel Sieyès havia cunhado a expressão em 1780). Não é uma hierarquia como nos grupos de galinhas, em que os superiores dão bicadas nos inferiores e estes nos mais inferiores - é mais uma sequência ordenada, mas sem um sentido de maior e menor valor (como a sequência de cores no espectro visível ou das letras no alfabeto).
Figura 1. Hierarquia das Ciências como vista por Comte. Fonte: Wikimedia Commons.
A predição dos autores foi que a HdS se refletiria em um maior consenso dentro dos campos mais próximos à Matemática e menor nos campos mais próximos à Sociologia - o consenso sendo ligado à "dureza" da área. Assim 9 parâmetros foram analisados (um subdividido em dois itens) (Tabela 1).
Tabela 1. Parâmetros bibliométricos e predições da Hierarquia das Ciências. Fonte: Fanelli & Glänzel (2013)
parâmetro | efeito de maior consenso | predição |
número de autores | maior escopo e necessidade de colaboração | + |
tamanho do artigo | menor necessidade de introdução, justificação e explicação do estudo | - |
número de referências | menor necessidade de justificação, explicação e apoio do estudo | - |
referências a monografias | foco em questões mais simples; menor necessidade de justificação, explicação e apoio do estudo | - |
idade das referências | rápida resolução de desacordos; maior potencial de produzir pesquisa sobre achados anteriores | - |
diversidade de fontes | menor número de tópicos de pesquisa, que são de interesses mais gerais | - |
comprimento relativo do título | questões de pesquisa claramente definidas e substantivas | + |
uso de primeira pessoa (singular vs. plural) | alegações universalmente válidas; menor espaço para argumentações; menor apelo a opiniões e autoridades | - |
compartilhamento de referências - grau | agregação de estudos em torno de questões claramente definidas e separadas; menor necessidade de citar literatura mais antiga e geral | - |
compartilhamento de referências - intensidade | + |
As previsões gerais de acordo com diferentes hipóteses estão representadas na Fig. 2.
Figura 2. Previsão dos indicadores de dureza das disciplinas de acordo com as hipóteses da Hierarquia das Ciências; Duas Culturas e nula (sem diferenças direcionais). m - matemática; p - ciências físicas; b - ciências biológicas; s - ciências sociais; h - humanidades. Fonte: Fanelli & Glänzel (2013)
Os resultados estão sumarizados na Fig. 3.
b)
Figura 3. Parâmetros bibliográficos de subáreas das Ciências. m - matemática (MA); p - ciências físicas (ciência espacial[SP]+física[PH]+química[CH]); bh - ciências biológicas duras (biologia molecular[MB]+biologia&bioquímica[BB]); bs - ciências biológicas moles (ciências vegetal e animal[PA]+ambiente/ecologia[EE]); s = ciências sociais (psiquiatria/psicologia[PP]+economia&negócios[EB]+ciências sociais gerais[SO]); h = humanidades (artes&humanidades[AH]). Fonte: Fanelli & Glänzel (2013)
De modo geral, os resultados apoiam a hipótese da HdS. Há exceções menores, como o fato do número médio de autores ser maior para ciências biológicas (duras e moles) e o uso da primeira pessoa apresentar uma certa descontinuidade entre ciências naturais e sociais.
Um estudo anterior de um dos autores (Fanelli 2010) indicava que, de modo geral, a publicação em excesso de estudos positivos (que apoiam a hipótese analisada pelos autores) também seguia a hipótese da HdS (especialmente nas modalidades puras): Figs. 4 e 5.
Figura 4. Percentual de publicação com resultados positivos por grandes áreas das ciências. Fonte: Fanelli (2010).
Figura 5. Percentual de publicação de resultados positivos por disciplinas científicas. Fonte: Fanelli (2010).
Um estudo de outro grupo, valendo-se do uso de gráficos como proxy da dureza da disciplina, também encontrou uma correlação com a HdS (Smith et al. 2000).
Como disse, não que haja um sentido pejorativo nessa HdS. Mas, só por precaução, nós, a jusante da hierarquia, é melhor comprarmos um capacete só para prevenir, caso os exatoides a montante resolvam afiar seus bicos. [Há, claro, autores que negam a existência da HdS, e.g. Cole (1983).]
Referências
Cole, S. (1983). The Hierarchy of the Sciences? American Journal of Sociology, 89 (1) DOI: 10.1086/227835
Fanelli D (2010). "Positive" results increase down the Hierarchy of the Sciences. PloS one, 5 (4) PMID: 20383332
Fanelli D, & Glänzel W (2013). Bibliometric Evidence for a Hierarchy of the Sciences. PloS one, 8 (6) PMID: 23840557
Smith, L., Best, L., Stubbs, D., Johnston, J., & Archibald, A. (2000). Scientific Graphs and the Hierarchy of the Sciences:: A Latourian Survey of Inscription Practices Social Studies of Science, 30 (1), 73-94 DOI: 10.1177/030631200030001003
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