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terça-feira, 3 de setembro de 2019

"A torre de marfim é indefensável quando suas muralhas são assaltadas." Um pequeno teste

Teste.

Leia atentamente o excerto abaixo:
"Os ataques incipientes e reais à integridade da ciência tem levado os cientistas a reconhecerem sua dependência de certos tipos de estrutura social. Manifestos e declarações de associações científicas são dedicados às relações entre a ciência e a sociedade. Uma instituição que sofre ataques tem que examinar seus fundamentos, revisar seus objetivos, buscar sua explicação racional. As crises convidam à autocrítica. Agora que tem que enfrentar ameaças ao seu modo de vida, os intelectuais foram lançados a um estado de aguda conscientização: consciência da própria personalidade como elemento integrante da sociedade, e das obrigações e interesses correspondentes. A torre de marfim é indefensável quando suas muralhas são assaltadas. Depois de prolongado período de relativa segurança, durante o qual o culto à ciência e a difusão dos conhecimentos tinham chegado a uma posição de destaque, senão de primeiro plano, na escala de valores culturais, os cientistas se vêem obrigados a justificar os caminhos da ciência para os homens. Assim eles fecharam o círculo, levando-o de volta ao ponto e momento em que a ciência reapareceu no mundo moderno. Três séculos atrás, quando a instituição da ciência pouca justificação podia apresentar para conseguir o apoio da sociedade, os filósofos naturais eram levados assim mesmo a justificar a ciência como um meio para fins culturalmente válidos de utilidade econômica ou de glorificação de Deus. O cultivo da ciência não era então um valor evidente por si mesmo. Mas, com a interminável corrente de êxitos obtidos pela ciência, o instrumental se transformou em final, os meios se transformaram em fins. Assim fortalecido, o cientista chegou a considerar-se independente da sociedade e a encarar a ciência como empresa que se justifica por si mesma e que 'está' na sociedade, mas não 'faz parte' dela. Era necessário que se desse um ataque frontal contra a autonomia da ciência, para transformar esse isolacionismo otimista em participação realista do conflito revolucionário das culturas. A consequência dessa associação leva a clarificar e reafirmar o 'ethos' da ciência moderna."

Qual o autor e época a que se refere o trecho acima?

a. Robert Merton. 1942.
b. Thomas Kuhn. 1962.
c. Bruno Latour. 1979.
d. Bruno Latour. 2018.

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Resposta:
a. Robert Merton, 1942 (pp: 651-2; Merton, R. 1949. "Sociologia - Teoria e Estrutura").

É uma sensação bizarra de dia da marmota que um texto de quase 80 anos atrás possa se encaixar à perfeição nos dias atuais. E, mais do que isso, possa descrever diversos períodos intermediários. O mesmo diagnóstico de encastelamento e distanciamento do restante da população, e o mesmo receituário da necessidade da reaproximação. Será que desta vez vai? Talvez seja a última chance, dados os desmontes - e não apenas ataques verbais à autoridade cultural e epistemológica da ciência, mas a desestruturação, no nosso subcontexto, de todo o Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia por asfixia financeira com os cortes e o aparelhamento.

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