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quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Especulando: Que história é essa de storytelling? - parte 3

Vimos que "storytelling" é uma buzzword que estourou na última década, e que tem alguma base factual.

O conceito de Homo narrans (ou Pan narrans, como preferem Pratchett, Stewart e Cohen) parece ter sido cunhado em algum momento entre a década de 1960 (algumas dfontes atribuem a criação do termo a Ranke 1967) e 1990 (outras a Fisher 1987), mas o início da sistematização da aprendizagem por narração se dá por volta do começo dos anos 2000 ("teoria narrativa") e até arriscam a uma ciência da narração: a narratologia.

Uma das mais antigas menções ao termo "storytelling" no contexto de divulgação/comunicação científica é de 1978, por Stephen J. Gould. E uma associação negativa: "Sociobiology: the art of storytelling", em uma de suas tradicionais críticas aos "just so stories" de tentativas de explicar características presentes em organismos atuais com base em cenários evolutivos.

Isso nos diz algo a respeito de problemas potenciais de "storytelling" em DC que precisa ser mais bem analisado. Douglas Allchin, da University of Minnesota, analisa o uso dos enquadramentos históricos da ciência pelos professores em suas aulas. Sua conclusão é que, contrário ao discurso predominante, não é que seja necessário mais história na educação científica, mas um uso diferente da história para uma melhor caracterização das ciências no processo de ensino.

Allchin alerta para o perigo da mitificação da ciência no processo narrativo, por uso de recursos e enquadramentos, em nome de se contar uma boa história.

Diane Winston, da University of Southern California, considera um perigo potencial associado: a distorção causada pela narrativa sob enquadramento do conflito. Nem toda narrativa científica pode ser encaixada no esquema "fulano disse isso, beltrano acha isso", forçando a equivalência entre argumentos epistemologicamente díspares (e eu diria, com embasamento factual completamente díspar - como igualar os argumentos de negacionistas climáticos com os da maioria dos climatologistas).

Mas qual a efetividade de sua aplicação na divulgação científica? A resposta é... não sabemos. Não muita coisa pelo menos.

Aliás, como boa parte do que se aplica em DC, é mais uma questão de arte do que de ciência. A maior parte dos estudos de DC são mais conceituais do que testes experimentais das técnicas sugeridas.

Um dos poucos testes sobre o efeito do uso de narrativas na aprendizagem é de McQuiggan et colaboradores, da North Carolina State University, publicado em 2008. 88 alunas e 91 alunos do 8o ano (entre 12 e 15 anos de idade) foram divididos aleatoriamente em 4 grupos após completarem o currículo mínimo legal do Estado da Carolina do Norte em microbiologia: um controle (que não receberam nenhuma intervenção) e três que foram apresentados a uma narrativa da Ilha Cristal. Em um dos grupos, a narrativa era completa, apresentando casos de envenenamento, as histórias pregressas das personagens e ricos detalhes das personalidades; em outro grupo, a narrativa foi resumida, apresentando apenas pontos de apoio ao currículo mínimo; em um terceiro grupo, a narrativa foi apresentada por meio de uma apresentação de Power Point.

Infelizmente, os pesquisadores não avaliaram o ganho de aprendizagem no grupo controle. Nos demais grupos, os alunos aprenderam mais com a apresentação Power Point, seguida da narrativa resumida e aprenderam menos com a narrativa completa. O ganho do uso da narrativa em lugar das técnicas tradicionais se deu na dimensão motivacional dos alunos.

Não digo que não se deva aplicar o "storytelling" na DC - na falta de informações mais substanciais, defendo a pluralidade de técnicas para se tentar atingir uma gama mais ampla de pessoas -, mas também diante da falta de informações mais substanciais, permaneço reticente quanto à eficiência da abordagem.

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