Retrabalhei 11.838 pontos de dados de 193 países sobre índices de vacinação (3a. dose) e incidência de poliomielite ao longo de mais de 30 anos no banco de dados da OMS (desconsiderei os dados de Niue por não haver
Figura 1. Correlação entre cobertura vacinal e incidência de poliomielite. Fonte: OMS.**
Há um excelente ajuste por meio da curva exponencial (r2 =
Esse fato os jornalistas precisam ter em mente antes de cogitar em dar espaço para teses malucas e altamente perigosas. Piora quando se dá o mesmo peso para ambos os lados - deixando à parte o vasto suporte empírico a respeito da eficiência das vacinas. É perigosa porque a exposição a ideias sem sentido as naturalizam para o grande público - que passam a considerá-las aceitáveis: afinal, se está na imprensa, deve ter um fundo de verdade. Criando uma brecha na qual os antivacinistas podem se instalar e crescer - angariando mais visibilidade midiática, angariando mais apoio popular e ameaçando políticas de sucesso como as campanhas de vacinação.
Isso não é apenas um horror imaginário, aconteceu com a política de combate à Aids na África subsaariana, em particular, na África do Sul, onde a hipótese sem nenhum fundamento de que o HIV não causa Aids foi acolhida, resultando no agravamento do quadro - medidas eficientes de incentivo ao uso de preservativos, de tratamento aos HIV positivos foram deixadas de lado, aumentando o espalhamento do vírus e a manifestação da doença - como lembra o diretor de redação da Superinteressante ao se desculpar por haver a revista dado trela aos negacionistas da relação HIV/Aids.
É em função disso que eu me senti obrigado a perder horas e horas de descanso e lazer, coligindo os melhores dados disponíveis, para desmontar a bobagem antivacinista - não é que suas bobagens devam ser, por si, levadas a sério, esse trabalho não é demonstração de que suas alegações são suficientemente elaboradas que só um trabalho mais pesado possa refutar: não, as bobagens podem ser rebatidas de bate-pronto, mas aí ficaria apenas palavra contra palavra e isso é vantagem para essa gente. É vantagem para eles que querem reduzir tudo a uma questão de discurso e retórica.
Não é uma questão de apenas discurso e retórica. É uma questão de dados. Como os dados estão do lado da vacinação, a eles só restam o palavreado sem substância na realidade. Reforço meu apelo a todos os jornalistas e profissionais de mídia - façam a conferência de dados. Sim, dá trabalho, mas não expõe a população a perigos absurdos e plenamente evitáveis com uma simples ida ao posto de saúde para receber, gratuitamente, as vacinas.
*Upideite(03/jan/2014): Corrigido a esta data. O valor anterior, de R$ 37 milhões, não considerava o valor das vacinas.
**Upideite(08/jan/2014): Os cálculos foram refeitos após correção dos dados relativos à Albânia - eu havia repetido os valores de incidência no Afeganistão. Não houve, no entanto, alteração substancial nos resultados - mesmo a redução da média estimada para o caso de ausência total de vacinação de cerca de 30 casos em 100 mil para 15 casos em 100 mil está dentro do erro estimado anteriormente.
**Upideite(17/mai/2014): Um artigo revisando os fatores que influenciam as atitudes em relação à vacinação na Europa. (via @Karl_MD)
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