Lives de Ciência

Veja calendário das lives de ciência.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Belo e estranho mundo 4 - Um misterioso devorador de (etiquetas de) tubarões

Um dispositivo de rastreamento fixado em uma tubarão branco fêmea de cerca de 3m nas águas australianos nos apresenta um pequeno mistério.

O aparelho havia sido colocado 4 meses antes de ser encontrado em uma praia, a 2,5 milhas do local em que a tubarão foi marcada. Pelos dados registrados, o rastreador passou por uma brusca mudança de temperatura: de 7°C para 25°C; e de profundidade: desceu 580m e foi liberado depois de oito dias movendo-se entre a superfície a uma profundidade de 100m.

O aumento de temperatura é interpretado como a entrada no sistema digestório de um predador. Alguma criatura teria comido a tubarão e mergulhado. (Vídeo 1.)

Vídeo 1. Misterioso registro de rastreador de tubarão.

A sonda é espetada no dorso do tubarão, não necessariamente indica que o indivíduo foi devorado. Em todo caso, levanto um suspeito. Dica: o capitão Ahab talvez se interessasse.

Ela é mais conhecida como devoradora de lulas gigantes. O Physeter macrocephalus é também notável pelo hábito de mergulhar a grandes profundidades. Costuma alimentar-se a cerca de 400 m sob a superfície, mas pode chegar a mais de 1 km.

Embora os cefalópodos sejam sua principal fonte de alimentos: até 95% de sua dieta em massa, outras coisas também são devoradas pelo leviatã. Inclusive não exatamente comestíveis (com consequências fatídicas). Tubarões não escapam de seu apetite, inclusive gigantes como tubarão peregrino, como registrado por Backus 1956.

A cachalote está presente em todos os mares tropicais, equatoriais e subtropicais - estão ausentes apenas nos polos (Fig 1.); estando, assim, presente também nas águas em torno de quase toda a Austrália - ausente apenas no mar entre a terra dos cangurus, e a ilha de Timor e de Nova Guiné - possivelmente pela baixa profundidade.

Figura 1. Distribuição da cachalote (Physeter macrocephalus)

Outro suspeito. Dica: o capitão de polícia Martin Brody rangeria os dentes e soltaria: "Smile you son of  a  b####". Sim, poderia ser obra de outro tubarão branco. Há registros de que a espécie mergulhe a profundidade de até 1.875 m. Machos cortejam fêmeas na época de acasalamento com todo o carinho seláquio: mordendo-a. Poderia isso ter levado o aparelho a parar em seu interior? Ou poderia ser um ataque de canibalismo. Um tubarão branco seria mais compatível com a temperatura registada de 25°C. A temperatura corporal de uma cachalote é de cerca de 33,5°C, a do tubarão, entre 7 e 14°C acima da temperatura ambiente. (Mas o aparelho pode não ter sido engolido - permanecido na boca em contato com a água do mar.)

Um único episódio de mergulho profundo seguido de uma semana de atividade próxima à superfície também desfavorece a hipótese da cachalote. A baleia passa apenas cerca de 1/4 de seu tempo próxima à superfície, outro 1/4 em mergulhos rasos (menos de 200m de profundidade) e cerca de 1/2 do tempo em mergulhos profundos (mais de 400m de profundidade). Uma baleia acompanhada por telemetria na região do Caribe, em 5 dias, mergulhou 158 vezes, 65 rasos e 93 profundos.

Nenhum comentário:

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails