A comunidade de divulgadores está bem ativa questionando suas bases teórico-metodológicas. O que não deixa de ser positivo: o questionamento pode ajudar a avançar a área fazendo circular ideias e gerando novas propostas. (Claro que o ideal é que o embate de ideias seja feito sempre dentro de limites de civilidade, embora, por diversos motivos - todo mundo fica irritado de vez em quando, p.e. -, isso nem sempre seja possível.) Depois da polêmica a respeito de se os cientistas devem ser obrigados a se comunicar com o público, um outro clássico da discussão dos fundamentos da DC: a linguagem, em particular do emprego ou não de jargões.
Abaixo segue um breve compilado (também sem pretensão de ser completo nem representativo, apenas ilustrativo) de tweets que orbitaram a questão. Muitos links remetem apenas a um tweet representativo de uma thread (sequência). (À medida que outros pontos de vistas passarem pela minha TL no twitter, atualizo a listagem.)
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João Pedro Salgado
"Pessoal acha que vai divulgar ciência p população falando monofilético, parafilético, holótipo... vão sim, é por isso q as pseudociências crescem tanto no Brasil, a academia fica nesse pedestal aí pra sempre"
Luiza Caires
"Falar difícil não prova que você é inteligente, apenas que não entendeu nada do jogo. Principalmente se deseja mudar qualquer coisa nesse mundo. Depois fica aí dizendo que odeia Youtuber, influenciador...
Se a maior parte das pessoas não te entende, não são elas as incompetentes."
Francisco Sassi
"Divulgação científica é pra ser feita pra todos, pra quem não é da academia e também pra quem é cientista. Termo técnico é uma coisa que pode ser explicada e, muitas das vezes, auxilia na explicação e na compreensão do conteúdo."
João Pré-Cambriano
"Entendo o ponto. E concordo. Agora, não vejo problema em usar os termos desde que se explique o q cada um significa. O que impede de explicar, preguiça ou o nariz empinado de achar que o seu público é incapaz de entender?"
Johnny Mingau
em resposta a João Pré-Cambriano
"É então, eu compreendo e concordo com os dois Joãos aqui. Eu lembro que no começo eu decidi que eu iria evitar falar termos confusos nos vídeos, blog e etc... Mas começou a chegar momentos que ficava difícil não utilizar alguns termos...
Por exemplo, (um exemplo tosco) ... Você pode simplesmente falar que aves são Dinossauros, mas pra muita gente isso não faz sentido, elas querem saber porque são Dinossauros. Nesse momento chega a hora de explicar o que é grupo monofiletico..
Eu penso que devo evitar usar termos confusos até chegar o ponto em que eu explico o que são e significam esses termos. Daí em diante eu passo a usá-los. Por exemplo meu texto sobre Utahraptor, descrever o material sem explicar o que é holótipo ficava mais confuso ainda, então..
Eu expliquei o que é holótipo, Parátipo e etc... E o texto começou a fluir melhor. Se eu não tivesse explicado os termos acho q o texto ficaria mais confuso ao tentar não utilizá-los. Pelo menos foi oq eu senti enquanto escrevia o texto do utahraptor pro blog.
Como a academia não larga de mão desses termos, me parece conveniente explica-los ao público, para que dá próxima vez que vêem um cientista falando, não fiquem tão confusos."
Carlos Hotta
"A linguagem usada em Divulgação Científica depende, a grosso modo, do seu objetivo, público alvo e o meio utilizado. Se a linguagem for compatível com estes três fatores, vc está muito bem. Se for compatível com dois, já está valendo."
Otávio Vulcão
"Existe um padrão de linguagem pra Divulgação científica? Muita gente já comentou e eu endosso: dependerá do público, objetivo e plataforma usada.
Você não vai divulgar ciência da mesma forma no Twitter e no Youtube, muito menos presencialmente.
Partindo de alguns textos, eu entendo que a DC não é apenas "tradução" da ciência; é sua "adaptação", porque você usa diferentes estratégias para falar dos métodos, descobertas, conhecimentos prévios e etc.
Durante essa adaptação você naturalmente descarta os jargões, termos técnicos demais e dados que são desnecessários no primeiro momento.
Significa que são menos importantes? Não, só significa que eles não são exigidos para aquele objetivo.
Isso não implica, por outro lado, que você deve simplesmente tratar seu público como plenamente ignorante e incapaz de entender conceitos e/ou termos difíceis.
Usar contextualizações para explicar os termos, introduzindo eles depois pode ajudar bastante.
Sou a favor de que termos essenciais para determinadas áreas não sejam descartados durante o processo de divulgação, sendo trabalhados minuciosamente para serem compreendidos pelo público.
Temos que ser pessoas com visões plurais, não singulares: uma tomada de decisão não obrigatoriamente vai excluir outra, dependerá de como você irá reunir essas ideias e aplicá-las."
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Aqui detalho alguns estudos a respeito do uso de jargões e seus efeitos na comunicação e compreensão.
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