Outros temas de saúde amplamente explorados nas capas são envelhecimento, dietas, saúde do coração. O padrão geral é que se destacam as questões de saúde que mais interessam às classes mais altas - o perfil do público alvo de boa parte dos impressos (Tabela 1).
Tabela 1. Número de artigos de O Estado de São Paulo que citam
determinadas doenças ou fatores de saúde humana.*
Período | |||
Fator/doença | 1990-atual | 1875-atual | % |
câncer | 38.512 | 65.417 | 58,9 |
aids | 15.834 | 18.291 | 86,6 |
dengue | 5.782 | 6.280 | 92,1 |
cardíaca | 4.501 | 10.811 | 41,6 |
diabetes | 3.694 | 11.688 | 31,6 |
hipertensão | 2.795 | 4.394 | 63,6 |
polio/poliomielite | 2.741 | 7.892 | 34,7 |
tuberculose | 2.425 | 26.002 | 9,3 |
malária | 2.282 | 7.171 | 31,8 |
desnutrição | 1.440 | 2.984 | 48,3 |
sarampo | 1.003 | 4.121 | 24,3 |
esquistossomose | 176 | 1.338 | 13,2 |
Para alguns termos como câncer, o contexto é difícil de se analisar -
pode, p.e., referir-se a um signo zodiacal.
A tentação é grande, até uma revista primordialmente voltada aos negócios dá de botar uma capa sobre a "cura do câncer", como a edição do mês
Em julho de 1992, a revista Globo Ciência (hoje Galileu) anunciava: "Aids sob controle. Comprovada a eficiência da droga brasileira SB-73." (Não sei em que pé está a pesquisa com isso, buscando no Google Scholar por "hiv"+"Streptomyces brasiliensis" não encontro nenhum artigo. Em 1992, foi apresentado resultados de experimento clínico em fase II - com apenas 14 sujeitos experimentais - na 8a. Conferência sobre Aids em Amsterdã, Países Baixos.) Em novembro de 1995, a mesma Globo Ciência voltaria à carga, agora dupla: "Câncer e Aids. A cura nas plantas.".
Em outubro de 1996, foi a vez da Superinteressante: "Aids a 1% da cura". A pior de todas, em dezembro de 2000, a Super vinha com a capa: "Aids. O HIV é inocente?" abrindo espaço para a hipótese não substanciada em fatos de que a Aids seria causada por desequilíbrio químico (em outubro, a revista tinha publicado uma entrevista com Duesberg, na qual o químico defendia essa ideia, por essa entrevista a revista se sentiu na obrigação de se desculpar, treze anos depois.). Janeiro de 2001, capa: "O fim do câncer?". A machete mudava pra "Câncer: viramos o jogo" em maio de 2013. No mesmo ano em agosto, a revista se saiu com "Enfim, a cura da Aids".
Um blogue da revista Time tentou fazer gracinha com um achado de uma pesquisa, sobre o papel protetor às mitocôndrias do sulfeto de hidrogênio produzido no interior das células em situação de estresse (mas, deve-se admitir, foi na toada do release infeliz - lá se faz associação do gás com o odor de flatulência). Levou na cabeça com a resposta do Boing Boing no facebook (Fig. 1).
Figura 1. O processo de distorção entre o que é produzido e o que é anunciado. Fonte: Boing Boing FB.
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Embora mesmo a OMS esteja esperançosa quanto ao controle e até erradicação da Aids, não é pra agora. Anúncios recentes de casos de eliminação de HIV do corpo de pacientes sofreram um baque na segunda semana de julho
O câncer, por sua vez, não é uma única doença. Há mais de 200 tipos. E, praticamente, cada evento de câncer é único, com seu próprio conjunto de alterações genéticas.
Os meios de comunicação não apenas refletem o gosto de seu público alvo, eles também o molda, influenciando seus leitores. Não é de se surpreender que o brasileiro pense que no país morra-se mais de câncer do que de infarto ou AVC. As distorções representativas, o envi
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via Ruth Helena Bellinghini FB, @oatila, Adalberto Cesari FB.
*Upideite(04/ago/2014): Fui postergando a publicação desta postagem que as datas relativas originalmente referidas ficaram bem defasadas.
2 comentários:
Cara suposta Victoria, um dos poucos vetos que faço é em relação a spam. Por tal motivo, excluí seu comentário.
[]s,
Roberto Takata
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