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Flemming, D. et al. 2018. Emotionalization in Science Communication: the impact of narratives and visual representations on knowledge gain and risk perception. Front. Commun. 3: article 3. doi: 10.3389/fcomm.2018.00003
.Sujeitos experimentais:
127 estudantes universitários: 99 mulheres, 35 homens, 1 não informou o sexo.
Idade: média 25,93 (DP 9,32) anos.
Participação em troca de 6 euros.
.Condições experimentais:
tipo textual: artigo narrativo x lista de fatos;
visualização: com fotografia x sem fotografia
artigo narrativo/fotografia: 31 sujeitos (22 mulheres, 9 homens)
artigo narrativo/sem fotografia: 32 sujeitos (24 mulheres, 8 homens)
lista de fatos/fotografia: 32 sujeitos (23 mulheres, 9 homens)
lista de fatos/sem fotografia: 32 sujeitos (22 mulheres, 9 homens, 1 pessoa sem indicação do sexo)
Os sujeitos preenchiam no computador um teste de conhecimento sobre raposas, um questionário de atitude e um de percepção de risco; após o tratamento (para o qual eram designados aleatoriamente), respondiam novamente aos testes de conhecimento, e questionários de atitude e percepção de risco e informavam seus dados demográficos.
>Testes e questionários
O teste de conhecimentos sobre raposas consistia em 9 questões do tipo verdadeiro/falso com 5 afirmações verdadeiras (p.e. 'raposas sobem em árvore') e 4 falsas (como 'raposas não têm uma estação de acasalamento, reproduzindo-se o ano todo').
No questionário de atitude, os sujeitos respondiam em uma escala Likert de 4 pontos: 0 'discordo totalmente' a 3 'concordo totalmente'. P.e. 'As raposas pertencem à natureza e aos ambientes humanos e deve-se permitir que vivam aí'. (Alfa de Cronbach: α=0,67 pré-teste; α=0,71 pós-teste.)
No questionário de percepção de risco de doença infecciosa trazida pelas raposas para os humanos e animais domésticos, os estudantes, em escala Likert de 4 pontos: 0 'virtualmente nenhum risco' a 3 'alto risco', além da opção 'não é possível estimar', avaliavam seis doenças: raiva, equinococose, cinomose, febre aftosa (risco inexistente para raposas), sarna e 'morbus metum' (uma doença fictícia). (Alfa de Cronbach: α=0,79 pré-teste; α=0,77 pós-teste.)
>Textos
Ambos os textos continham as mesmas informações básicas que permitiriam responder corretamente ao teste de conhecimentos.
Artigo narrativo: em forma de texto noticioso sobre um projeto de pesquisa; no texto um biólogo descrevia o dia a dia de duas raposas chamadas Freddy e Tina que viviam na cidade e monitorados pelo projeto.
Lista de fatos: as mesmas informações factuais gerais sobre as raposas eram apresentadas em uma lista de afirmações isoladas.
P.e.
lista:
.“Foxes are the only dogs that can climb trees." ['Raposas são os únicos canídeos capazes de subir em árvores.']
.“Foxes are omnivores (their diet includes rodents, windfall, or food remnants) and have few specific demands on their habitat. This makes them very adaptable.”['Raposas são onívoras (sua dieta inclui roedores, frutos caídos e restos de comida) e têm poucas necessidades específicas de hábitat. Isso as torna muito adaptáveis.']
narrativa:
“Freddy has formed a habit of climbing trees (when he is in danger), since foxes are the only dogs that can climb.” ['Freddy adquiriu o hábito de subir em árvores (quando em perigo), uma vez que as raposas são os únicos canídeos que podem subir em árvores.'']
“While foxes in the forest usually feed on rodents and windfall … Freddy and Tina also plunder a garbage can every now and then to get food remnants. Foxes are absolute omnivores, so they can survive practically everywhere. Freddy usually drags his prey into the den and shares with Tina and the young. Unless he finds a piece of pizza—then he prefers to eat it himself.” ['Embora as raposas na floresta normalmente se alimentem de roedores e frutos caídos... Freddy e Tina, além disso, costumam atacar lixeiras para obter restos de comida. As raposas são totalmente onívoras, assim podem sobreviver em praticamente qualquer lugar. Freddy normalmente arrasta as presas para sua toca e divide com Tina e os filhotes. A menos que encontre um pedaço de pizza - aí ele prefere comer tudo sozinho.']
O texto narrativo consistia de 841 palavras; a lista, de 307.
Na condição 'com fotografia' os textos eram acompanhados de 4 fotografias emocionalmente apelativas (como de filhote de raposa), sem relação com os textos e sem valor informativo para o teste de conhecimento.
.Resultados
Tabela 1. Variação pré-pós-teste do conhecimento, atitude e risco.
Variável | pré | pós | t | p | d | ||
M | DP | M | DP | ||||
conhecimento | 5,31 | 1,74 | 8,15 | 0,91 | -17,78 | <0 td=""> 0> | 1,58 |
atitude | 1,87 | 0,54 | 2,02 | 0,52 | -5,55 | <0 td=""> 0> | 0,49 |
percepção de risco | 0,82 | 0,48 | 0,68 | 0,41 | 3,18 | <0 td=""> 0> | 0,28 |
Tabela 2. Diferenças entre as condições de tratamento no conhecimento, atitude e risco.
Variável | Preditor | F | p | ηp2 |
ganho conhecimento | tipo textual | 1,32 | 0,253 | 0,01 |
visualização | 1,47 | 0,228 | 0,01 | |
tipo textual x visualização | 13,04 | <0 td=""> 0> | 0,10 | |
desenvolvimento da atitude | tipo textual | 0,64 | 0,424 | 0,00 |
visualização | 0,21 | 0,648 | 0,00 | |
tipo textual x visualização | 0,06 | 0,810 | 0,00 | |
modificação da percepção de risco | tipo textual | 6,54 | 0,012 | 0,05 |
visualização | 3,78 | 0,054 | 0,03 | |
tipo textual x visualização | 0,42 | 0,516 | 0,00 |
.ganho de conhecimento (conhecimento pós-teste - conhecimento pré-teste)
>lista de fatos/fotografia: 1,94 (±1,54) b
>lista de fatos/sem fotografia: 3,41 (±1,97) a
>narrativo/fotografia: 3,39 (±1,31) a
>narrativo/sem fotografia: 2,66 (±1,94) a, b
(letras iguais sem diferenças significativas)
.desenvolvimento da atitude (atitude pós-teste - atitude pré-teste)
sem diferenças significativas entre as condições
.modificação da percepção de risco (percepção de risco pós-teste - percepção pré-teste)
>lista de fatos: -0,25 (±0,42) x narrativo: -0,03 (±0,52); p=0,012 (significativo)
>com fotografia: -0,22 (±0,51) x sem fotografia: -0,05 (±0,44); p=0,054 (não significativo)
Figura 1. Efeito do tipo textual (narrativo x lista de fatos) e de visualização (com ou sem fotografia emotivas) na aquisição de conhecimento (painel à esquerda) e na alteração da percepção de risco (painel à direita). Fonte: Flemming et al. 2018.
3 comentários:
Ou seja, a conclusão é que o Storytelling é mais eficiente?
Em outras áreas como a publicidade isso já é conhecido há décadas. No cinema, principalmente o americano também. Os canais que mais crescem no Youtube em inglês hoje são os que usam recursos de Storytelling.
Na minha opinião, o que falta para os comunicadores de ciência é uma visão humilde para as outras áreas (como a publicidade e o cinema) e fazer a mesma coisa que essas áreas fazem.
Oi Takata, o comentário acima é meu: Paloma
Oi, Paloma,
Na verdade, o uso de listas foi até mais eficiente do que a narração. No ganho de conhecimento foi equivalente ao texto narrativo - a não ser quando combinada com fotos emocionalmente apelativas, aí a eficiência caiu -, na mudança de avaliação de risco, foi mais eficiente - e aqui, contrariamente à aquisição do conhecimento, foi ainda mais eficiente quando combinada com fotos.
Uma meta-análise que anotei nesta série mostrou que o uso de dados estatísticos é mais eficiente em convencer as pessoas do que informações puramente narrativas. Embora o uso de dados estatísticos numa narração tenha um efeito geral maior.
http://genereporter.blogspot.com.br/2015/09/divagacao-cientifica-divulgando.html
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Ainda faltam dados, mas pode ser que a narrativa possa ser mais atraente (o que é uma coisa em geral), mas menos eficiente em passar conhecimentos (o que tende a ser ruim em muitos casos). A limitação, além do número ainda limitado de estudos e dos tamanhos amostrais também limitados, é que a maioria é feita apenas com estudantes universitários (quase sempre de graduação em psicologia) americanos.
Falei um pouco sobre o storytelling nesta microssérie de 3 postagens: http://genereporter.blogspot.com.br/2013/12/especulando-que-historia-e-essa-de.html
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Valeu pela visita e comentários.
[]s,
Roberto Takata
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