Véspera da
Natal - ou de Newtal para os ateus (se é que não inventaram outra forma de laicização comemorativa - um modo de comemorar o Natal sem se sentirem culpados) - aqui vamos dando prosseguimento ao
tema e à discussão com o Prof.
Kinouchi e participação especial de Tatiana Nahas, do Ciência na Mídia.
Não sou tão bom em previsões quanto os scibloggers (
aqui,
aqui,
aqui,
aqui,
aqui,
aqui e
aqui), mas um mal entendido eu previ - e tentei preveni-lo, porém não deu certo. Escrevi na postagem anterior: "
Uma observação importante é que não se deve concluir, então, que filmes de ficção científica não devam ser vistos. Do contrário, seria de se fechar as escolas: as principais fontes de erros de concepção são professores e livros-textos".
Então: sim, filmes de ficção científica são, por definição, ficção - eu chamaria, em muitos casos, mais de filmes de fantasia do que de FC, porém são detalhes acribológicos com que não precisamos nos preocupar por ora. Não há proposição de que qualquer filme tenha que ter uma precisão científica em um dado nível (em muitos casos isso seria desastroso - veja quão aborrecido é 2001 - desculpas aos fãs do filme, de Kubrick e de Clarke - em relação à, digamos, Star Wars - oquei, é um exagero desmedido chamar 2001 de desastroso, porém acho que se percebe o ponto: basta pensar na graça que perderia uma Estrela da Morte explodindo sem os sons de explosão ou X-Wings manobrando lentamente com foguetes auxiliares). (Mas mesmo isso pode ter alguns limites: como o caso do filme
U-571 - os americanos substituíram os ingleses, que foram os que realmente capturaram o submarino nazista durante a Segunda Guerra. Liberdade poética?)
E, não,
não se deduz que professores não possam usar filmes com comentários críticos em seu arsenal pedagógico.
Mas chamo a atenção que a frase "divulgação/difusão ruim é pior do que divulgação/difusão alguma" não se refere a isso. Ela se refere à proposta de usar esses produtos culturais como forma de divulgação/difusão
per se: "
Música, mangás, humor, stand-up comedy
são mídias populares entre os jovens que recebem pouca (nenhuma?) atenção em termos de torná-las mídias de divulgação científica. Talvez o campo da DV sofra da doença de textolatria, talvez por causa de nossa papirolatria como cientistas. No máximo, usamos formatos de alta-cultura tipo museus e exposições de fotografia científica", "
é um trabalho anterior necessário ao ato de divulgação e educação científica (que correspondem a outros momentos de um processo)." (
aqui, negritos meus).
O uso pedagógico de filmes é o
próprio ato de educação científica. Se se vai exibir filmes em sala não há uma necessidade de exposição anterior deles.
Aliás, dado psicológico que se constata nos estudos que citei nas postagens anteriores: professores
não devem exibir os filmes - especialmente os ruins - para comentar
depois, vai ter mais trabalho... Devem apresentar a aula
antes, enfatizar as armadilhas e
depois exibir os filmes, fazendo os alunos buscarem os erros. Podem ainda intercalar trechos - com comentários imediatos (e ainda assim é arriscado).
Note-se que há uma diferença entre usar filmes como recursos didáticos - como contraexemplos, digamos - e produzir tais filmes (ou outros produtos culturais) como uma estratégia de difusão/divulgação.
Fazer limonada dado que lhes atiraram limões é diferente de provocar guerras de limões para ter suco depois.
Pelo dados apresentados, sou reticente mesmo em relação à validade da utilização do rescaldo como proposta pedagógica, mas não estou objetando contra tal metodologia.
Upideite(24/dez/2009): Fiz uma compilação da discussão e publiquei
aqui.