O aumento da concentração atmosférica dos gases-estufa é, em boa parte, fruto da ação humana
Alguns gases, devido à sua natureza sintética (não são geralmente produzidos por nenhuma fonte não-humana), como os CFCs, podem ter o aumento de sua concentração diretamente ligado à atividade humana.
Já os dois principais gases-estufa: CO2 e CH4 - também são liberados por processos naturais como o vulcanismo, de modo que a contabilidade é mais complexa.
Dados históricos desde 1970 estão disponíveis sobre estimativas de uso de combustíveis fósseis pelas nações: contabilização de produção e consumo de petróleo e carvão natural. Para períodos históricos mais remotos - como a época da Revolução Industrial - estimativas mais indiretas (e incertas) são obtidas por meio de modelos que levam em conta o tamanho populacional e a atividade econômica. (Fig. 1.)
Figura 1. Emissão anual de CO2 por queima de combustíveis fósseis e produção de cimento.
O padrão da emissão acumulada casa-se muito bem com o padrão do aumento dos níveis de CO2 atmosférico. (Fig. 2.)
Figura 2. Relação entre emissão de CO2 por queima de combustíveis fósseis e produção de cimento e concentração atmosférica de CO2. (Fontes: Andres et al. 2000; Canadell 2009; NOAA/ESRL.)
A composição isotópica do carbono também pode indicar as fontes do CO2 atmosférico. O carbono apresenta dois isótopos estáveis na natureza, o C-12, muito mais comum (cerca de 98,8% em massa de todos os átomos de carbono) e o C-13, mais raro (cerca de 1,1%) - outros isótopos têm uma vida muito curta em termos geológicos (o C-14 tem uma meia vida de pouco menos de 6 mil anos). Essa proporção é a média, mas diferentes fontes de carbono apresentam ligeiras diferenças na concentração. As plantas, por exemplo, possuem enzimas com afinidades levemente distintas para os dois isótopos principais, de modo que proporcionalmente menos C-13 é incorporado em sua biomassa na fotossíntese. Tomando-se como referência a proporção dos isótopos de C-13 nas moléculas de metano na atmosfera atual, pode-se calcular o desvio em relação a essa proporção. Esse desvio é chamado de δ13C ("delta cê treze"). Na Tabela 1, encontram-se valores típicos de δ13C de diferentes fontes.
Tabela 1. Teor de C-13 em materiais de diferentes fontes. (CO2 atmosférico δ13C -8‰)
Fonte | δ13C (‰) |
---|---|
algas vermelhas(1) | -34,5 a -29,9 |
algas marrons(1) | -20,8 a -10,5 |
algas verdes(1) | -20,3 a -8,8 |
plantas C4(2) | -19 a -9 |
plantas CAM(2) | -28 a -10 |
plantas C3(2) | -34 a -22 |
petróleo(3) | -32 a -26 |
vulcão(4) | -10 a -3 |
1 - Maberly et al. 1992; 2 - Bender 1971; 3 - Bush et al. 2007; 4 - Sato et al. 2002.
A tendência dos valores de δ13C do CO2 atmosférico é de queda. (Figura 3.)
Se a fonte principal de CO2 fosse atividade vulcânica, por exemplo, não seria esperada essa queda.
Referências
Andres, Marland, Boden & Bischof. 2000. Carbon dioxide emissions from fossil fuel consumption and cement manufacture, 1751-1991, and an estimate of their isotopic composition and latitudinal distribution. Pp: 53-62. In: Wigley & Schimel (eds) The carbon cycle, v. 6. Cambridge University Press. 292 pp.
Bender. 1971. Variations in the 13C/12C ratios of plants in relation to the pathway of photosynthetic carbon dioxide fixation. Phytochemistry 10(6): 1239-44. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1016/S0031-9422(00)84324-1. Acessado em: 15 de outubro de 2009.
Bush, Pataki, Ehleringer. 2007. Sources of variation in δ13C of fossil fuel emissions in Salt Lake City, USA. Applied Geochemistry 22(4): 715-23. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1016/j.apgeochem.2006.11.001. Acessado em: 15 de outubro de 2009.
Canadell, P. 2009. Carbon budget 2007+. Acessado em: 15 de outubro de 2009.
Maberly, Raven & Johnston. 1992. Discrimination between 12C and 13C by marine plants. Oecologia 91(4): 481-92. Disponível em: http://www.springerlink.com/content/r3v57008n1423740/. Acessado em: 15 de outubro de 2009.
Sato, Mori, Shimoike, Nagao & Notsu. 2002. Carbon isotope systematics of CO2, CO and CH4 in fumarolic gases from Satsuma-Iwojima volcanic island, Japan. Earth Planets Space 54: 257–63. Disponível em: http://www.terrapub.co.jp/journals/EPS/pdf/2002/5403/54030257.pdf. Acessado em: 15 de outubro de 2009.
Upideite(18/out/2009): Para postagens em outros blogues, acompanhe #BAD09 e a lista oficial. Upideite (21/out/2009): O Divã de Einstein faz uma pequena compilação.
Upideite(30/ago/2012): Na Figura 4 abaixo, gráfico com dados atualizados da tendência dos valores para Mauna Loa e a Antárctica.
Figura 4. Tendência dos valores de δ13C do CO2 atmosférico. Fonte: Scripps CO2 Program.
2 comentários:
Bem, o comentário "Se a fonte principal de CO2 fosse atividade vulcânica, por exemplo, não seria esperada essa queda" foi jogado no texto e não tem nenhuma correlação lógica com os dados antecedentes.
Faltou um explicação melhor.
Além disso, não há nenhuma explicação para a estabilização das medições a partir de 1998 (nem se poderia dizer que houve queda entre 98/2001).
Unknown,
Grato pela visita e comentários. Não está jogado, a observação está contextualizada: há uma tabela que mostra os valores de delta-C-13 de diversas fontes e há um gráfico de tendência.
Mas se pode detalhar: as emissões vulcânicas, apresentam um teor médio *maior* do que o teor médio da mistura gasosa atmosférica. Se fosse a fonte do CO2 (e, portanto, do C13), o delta-C-13 atmosférico deveria *aumentar*.
Não existe estabilização de três anos em tendências climatológicas (se a sequência tivesse parado em 1997, alguém perguntaria por que estava *aumentando*). Para uma tendência de maior prazo, veja a figura 3 desta postagem: http://genereporter.blogspot.com.br/2009/12/jogo-dos-erros.html
Variações de curto prazo existem. A questão é a tendência de longo prazo - de décadas, de séculos.
[]s,
Roberto Takata
Postar um comentário