Lives de Ciência

Veja calendário das lives de ciência.

sábado, 1 de julho de 2023

Toot buona gente: Pequeno diretório de cientistas e divulgadores no fediverso (especialmente em instâncias Mastodon)*

Fediverso é o nome dado ao conjunto de servidores (computadores dedicados) independentes e interconectados que hospedam plataformas de mídias sociais. Não há nenhum dono dessa rede, mas qualquer um que tenha conta em um servidor, em princípio, pode conversar com qualquer outra pessoa que esteja em qualquer servidor dessa rede.

Uma das plataformas mais conhecidas é o Mastodon, que permite configurar serviços de microblogging. Mas há outras como o Peertube (de hospedagem e exibição de vídeos), o Pixelfed (de hospedagem de fotografias e outras imagens estáticas) e várias mais.

Abaixo segue uma lista (que será atualizada constantemente) de perfis de cientistas/divulgadores científicos (brasileiros e estrangeiros) em alguma instância do fediverso.

Brasil (brasileiros e/ou baseados no Brasil):

Exterior (estrangeiros baseados no exterior):

Instâncias dedicadas à ciência:
Brasil
bertha.social: https://bertha.social/about
Exterior
sciencemastodon.com: https://sciencemastodon.com/about 
mstdn.science (microbiologia); https://mstdn.science/about

Lista de perfis de ciência no Mastodon:

*Trocadilho com o nome ('toot') das postagens no Mastodon.

domingo, 11 de junho de 2023

Nem tudo o que doureja é lúzio 9

Mais uma rodada da gaiata ciência.
  • Hall, N. 2014. The Kardashian index: a measure of discrepant social media profile for scientists. Genome Biology 15:424. Índice proposto para medir a discrepância entre a popularidade de um cientista e sua importância acadêmica. via @alesscar.
  • Hamilton, A.J.; May, R.M & Waters, E.K. 2015. Here be dragons. Nature 520: 42-3. Os autores sugerem em brincadeira em torno de 1o de abril que os padrões de temperaturas globais são indícios da existência de dragões. via Leandro Tessler fb.
  • Hopkinson, J.A. & Hopkinson, M.A. 2013. The hobbit — an unexpected deficiency. The Medical Journal of Australia 199(11): 805-6. Uma análise do possível papel da falta de vitamina D na vitória do bem contra o mal em The Hobbit, romance de J.R.R. Tolkien.
  • Kane, SR. & Selsis, K. 2014. A Necro-Biological Explanation for the Fermi Paradox. preprint no arXiv. Os autores analisam os riscos da psicose espontânea necroanimadora se espalhar pelo universo junto com a vida elaborando uma equação de Drake modificada para calcular a prevalência de planetas tomados por zumbis e responder ao paradoxo de Fermi. via Rodrigo Veras fb.
  • Lystad, RP & Brown, BT. 2019. “Death is certain, the time is not”: mortality and survival in Game of Thrones. Injury Epidemiology 5:44. Análise das causas de morte na série Game of Thrones. via Ruth Helena Bellinghini.
  • Trump, D. 2016. Proof of the Riemann Hypothesis utilizing the theory of Alternative Facts.  David Johnson brinca com o conceito de "fatos alternativos" (aka 'mentira deslavada') avançado por Kellyanne Conway assessora do presidente americano Donald Trump para apresentar uma visão da equipe a respeito do público que acompanhou a cerimônia de posse presidencial, notadamente menor do que as cerimônias de inauguração das presidências de Barack Obama. via Carlos Orsi fb.
  • Habgood-Coote et al. 2023. Can a good philosophical contribution be made just by asking a question? Metaphilosophu 54(1): 54. O artigo consiste unicamente no título e dados de autoria. Pelo menos está em Open Access. (Uma pergunta que suscita é se os autores pagaram alguma coisa.) Mas o método da maiêutica socrática consiste basicamente em fazer uma série de perguntas, de modo que o próprio interlocutor desenvolva seu pensamento ao respondâ-las. via Éverton Fernandes fb.*

*Upideite(11/jun/2023): O artigo vem com um comentário à parte dos próprios autores (exigência dos editores para a publicação do outro "artigo". Curiosamente, os autores não citam Sócrates.

domingo, 16 de abril de 2023

Pequeno diretório de boletins de e sobre DC

Boletins, newsletters, informativos sobre DC (voltada para os divulgadores científicos, discute questões sobre o pensar e o fazer da divulgação de ciências):

*Ciência & Sociedade (Museu da Vida/Fiocruz). Mensal. Gratuito. "informativo eletrônico do Núcleo de Estudos da Divulgação Científica do Museu da Vida (Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz)"
*Coaxo Caixeiro (Gene Repórter). Aperiódico (domingos, 0h). Gratuito. "boletim aperiódico do mundo da divulgação científica brasilo-mundial (artigos e estudos, eventos e curss)os, ferramentas, opiniões e análises…)"
*Newsletter da RedeComCiência (RedeComCiência). Aperiódico. Apenas para membros da rede. "newsletter com dicas de eventos, ferramentas e outros insights que possam interessar a nossa comunidade"

Boletins, newsletters, informativos de DC (fala sobre temas relacionados às ciências para o público não especialista):

*Agência FAPESP Newsletter (Agência Fapesp). Gratuito.
*Cesta Científica (ccult.org). Aperiódico (sextas-feiras). Gratuito.  "uma curadoria especial de conteúdos sobre a cultura científica e ensino de ciências gratuitamente em seu e-mail"
*Jornal da Ciência (SBPC). Diário (por volta das 13h). Gratuito. "publicação de divulgação científica da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC)"
*Mahideia (Marina Monteiro). Quinzenal (quartas-feiras). Gratuito. "a newsletter about COISAS"
*Polígono (Núcleo Jornalismo). Semanal (terças-feira, por volta das 10h). Gratuita. "traz os principais assuntos e debates de ciência nas redes sociais"
*Revista Pesquisa FAPESP (Revista Pesquisa). Gratuito.

quinta-feira, 6 de abril de 2023

Divagação Científica - divulgando ciências cientificamente 40: revisões de terminologias e conceitos

Pequena lista de artigos com revisões terminológicas e conceituais.

*Bueno, WC. 1985. Jornalismo científico: conceito e funções. Ciência e Cultura 37(9): 1420-7.
Conceitos: Difusão científica, Disseminação científica, Divulgação científica, Jornalismo científico.

*Burns, TW; O'Connor, DJ & Stocklmayer, SM. 2003. Science communication: a contemporary definition. PUS 12(2): 183-202.
Conceitos: Science communication/Communication, Public awareness of science/Awareness, Public understanding of science/Understanding, Scientific culture, Scientific literacy, Public(s) (lay public, science community/science practioners), Participants, Outcomes and responses, Science. (adido a 07.abr.2023)

*Germano, MG & Kulesza, WA. 2007. Popularização da ciência: uma revisão conceitual. Caderno Brasileiro de Ensino de Física 24(1): 7-25.
Conceitos: Vulgarização da ciência, Alfabetização científica, Divulgação científica, Popularização da ciência.

*Caribé, RCV. 2015. Comunicação científica: reflexões sobre o conceito. Informação & Sociedade: Estudos 25(3):89-104.
Conceitos: Comunicação científica, Difusão científica, Disseminação da ciência (intrapares, extrapares), Divulgação científica, Popularização da ciência/científica, Alfabetização científica/em ciências, Comunicação pública da ciência, Cultura científica (da ciência, pela ciência, para a ciência).

*Bucchi, M & Trench, B. 2016. Science Communication and Science in Society: A Conceptual Review in Ten Keywords. Tecnoscienza 7(2): 151-68.
Conceitos: Popularisation, Model of communication, Deficit, Dialogue, Engagement, Participation, Publics, Expertise, Visible scientists, Scientific culture/Culture of science.

*Cunha, RB. 2017. Alfabetização científica ou letramento científico?: interesses envolvidos nas interpretações da noção de scientific literacy. Rev. Bras. Educ. 22(68): 169-86.
Conceitos: Alfabetização científica, letramento científico, scientific literacy.

*Rocha, M; Massarani, L & Constanza, P. 2017. La divulgación de la ciencia en América Latina: términos, definiciones y campo académico. In Massarani, L et al. 2017. Aproximaciones a la investigación en divulgación de la ciencia en América Latina a partir de sus artículos académicos. Fiocruz. 208 pp. Pp: 39-58.
Conceitos: Vulgarización de la ciencia, Divulgación de la ciencia/científica, Comunicación de la ciencia, Educación formal/no formal/informal en ciencia, Popularización de la ciencia, Alfabetización científica, Comunicación pública de la ciencia, Percepción social de la ciencia, Democratización de la ciencia, Apropriación social del conocimiento científico/apropriación de la ciencia.

*Santos-d'Amorin, K & Miranda, MFO. 2019. Informação incorreta, desinformação e má informação: Esclarecendo definições e exemplos em tempos de desinfodemia. Encontros Bibli 26: 1-23.
Conceitos: Information, misinformation, disinformation, malinformation. (1)

(1) Upideite(24.mai.2023): adido a esta data.

segunda-feira, 27 de março de 2023

A DC visita o ChatGPT: O que a comunidade de divulgação científica tem falado sobre a ferramenta?

Irei atualizando a lista conforme tomo conhecimento de mais textos, áudios e vídeos a respeito do GPT-3 e ChatGPT (e eventualmente temas correlacionados) produzidos pelos divulgadores científicos brasileiros.

Blogs e outros textos:

09.fev.2023: Univates (Mateus Roveda): ChatGPT: o que é e quais são seus impactos (via Lucas Wendt)*

07.mar.2023. Portal Deviante (Michelle Mantovani): Química Verde, Sustentabilidade e o ChatGPT

08.mar.2023. Portal Deviante (Andre Trapani): Descomplicando a ciência: como o Chat GPT pode te ajudar a entender tudo sobre tecnologia, inovação e muito mais!

08.mar.2023. Portal Deviante (Lênin Machado Lopes): A ciência de alimentos e o ChatGPT

10.mar.2023. Portal Deviante (Andre Trapani): O chat GPT e o futuro

13.mar.2023. Portal Deviante (Samantha Martins): O ChatGPT no planejamento de aulas de Geografia

Podcasts:

14.fev.2023. Dragões de GaragemChatGPT #261

Vídeos:

11.ago.2020. Peixe Babel (Camila Laranjeira/Virginia Mota): Essa Inteligência Artificial Sabe TUDO? | Conheça a GPT-3

17.ago.2020. Peixe Babel (Camila Laranjeira/Virginia Mota): Neurocientista comenta Inteligência Artificial #GPT3 

14.jun.2021. Peixe Babel (Camila Laranjeira/Virginia Mota): Conversando com uma I.A. | O que a GPT-3 sabe fazer?

30.jan.2023. Universo Discreto (Lucas Lattari): Entenda como ChatGPT funciona de maneira SIMPLES! 🤖

31.jan.2023. Manual do Mundo (Iberê Thenório/Mari Fulfaro): Colocamos Inteligência artificial pra fazer ENEM: Olha no que deu!

07.fev.2023. Universo Discreto (Lucas Lattari): O impacto de ChatGPT no trabalho ()e na educação

24.fev.2023. Ponto em Comum (Davi Calazans): como o ChatGPT vai ROUBAR seu EMPREGO! (e você vai gostar)

09.mar.2023. Prazer, Karnal (Leandro Karnal): Leandro Karnal desafia o ChatGPT

21.mar.023. Universo Discreto (Lucas Lattari): ChatGPT faz TCC? O segredo para a formatura perfeita! 

27.mar.2023. Atila IamarinoEste vídeo não foi feito pelo ChatGPT

25.jul.2023. Chutando a EscadaChute 314 – Papagaios probabilísticos e alucinações

*Upideite(29.mar.2023): incluído a esta data.

terça-feira, 7 de março de 2023

Como é que é? - Aranha-armadeira é a aranha mais letal do mundo?

No twitter, o Iberê Thenório, do Manual do Mundo, questionou uma reportagem sobre a captura de um exemplar de aranha-armadeira em uma cidade catarinense.

O título original da reportagem parece ter sido: "Aranha mais letal do mundo é capturada em casa em Santa Catarina".

O título atual é "Aranha com veneno mais letal do mundo é capturada em casa em Santa Catarina".

E no primeiro parágrafo da reportagem está escrito: "Foi capturada em uma casa em Vitor Meireles (270 km de Florianópolis) uma aranha-armadeira —considerada a mais perigosa do planeta, segundo informes do Instituto Butantan."

Antes de mais nada, como notado por Iberê, o encontro de aranhas-armadeiras é algo bastante comum - mesmo que seja uma aranha perigosa (e logo analisaremos se é mesmo a "mais perigosa", "mais letal", com "veneno mais letal" e as diferenças dessas expressões") - a ponto de ser bastante questionável o alarde do título da notícia - e mesmo se merece ser notícia. Meio como publicar uma notícia como: "Encontrado o mosquito mais letal no mundo em casa de Santa Catarina [ou qualquer outro local do Brasil]" para se referir a focos de Aedes aegypti.

Um segundo ponto a se notar é que, apesar do título sensacionalista, a reportagem em si acaba prestando um bom serviço ao enfatizar o modo como o caso foi solucionado: chamaram-se os bombeiros, a aranha foi capturada com segurança e depois solta em local em que teria menos chances de causar problemas a alguém. Armadeiras têm um papel importante tanto como predador de pequenos vertebrados (como rãs e sapos) quando como presa de outros vertebrados (como quatis e gambás) e invertebrados (como vespas caçadoras).

Mas é motivo para alarde? Não. Embora, sim, a picada seja um acidente grave e que mereça cuidados médicos - o paciente deve ser levado rapidamente a uma unidade de saúde -, a letalidade é baixa. Pelo boletim epidemiológico no. 31 v. 53 de agosto de 2022, da Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, dos casos registrados de 2017 a 2021, dos 23.016 casos de acidentes com a armadeira, houve 11 mortes, uma taxa de letalidade de 0,05%. Ela é menor do que a taxa de letalidade da aranha-marrom: de 0,09% e da viúva-negra: de 0,12%. Então, certamente não é a aranha mais letal do mundo.

Seria o veneno dela o mais letal do mundo? Aí teríamos que comparar a dose necessária para causar um dado nível de letalidade. Um padrão para compostos tóxicos é a dose letal 50 (DL50), que é a dose que provoca a morte de 50% dos organismos em que foi aplicado. Certamente não é algo que se faça em humanos experimentalmente: normalmente se utilizam organismos modelos como ratos e camundongos. (Eventualmente é possível se calcular em humanos se houver registros adequados de acidentes, mas é bastante complicado avaliar qual a dose injetada, por exemplo.).

Em camundongos, a DL50 do veneno da armadeira da espécie Phoneutria nigriventer foi de 0,63 mg de veneno/kg de massa corporal do roedor para aranhas fêmeas e 1,57 mg/kg para veneno de machos (em injeção intravenosa). (Herzig et al. 2002.) Já para a aranha-marrom da espécie Loxosceles similis, a DL50 para camundongo foi estimada em 0,32 mg/kg. (Horta 2012.) Isto é, com uma dose que é a metade da armadeira, o veneno da marrom causa estrago equivalente entre camundongos.

Então, tampouco a armadeira teria o veneno mais letal entre as aranhas. (Não necessariamente que a marrom teria, então, o veneno mais letal que todas as outras aranhas.)

Considerando o total de casos, no Brasil, tampouco a armadeira é a que causa mais mortes. Pelo boletim epidemiológico no. 31 v. 35, no período analisado foram 11 mortes no total atribuídas às picadas de armadeiras, contra 37 mortes atribuídas aos casos com aranhas marrons.

A reportagem cita como fontes o Instituto Butantan e algum artigo não especificado da revista Nature. Não cheguei a fazer uma busca mais aprofundada de se, de fato, textos do Butantan e na Nature fazem essas afirmações a respeito da armadeira. Se o fizeram, como indicado pelos números acima, estarão errados.

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Upideite(07.mar.2023): Claro que a análise aqui está restrita ao Brasil. Então, o número total de casos será diferentes e possivelmente os números relativos a esses totais (mas suspeito que as aranhas do gênero da viúva-negra, de distribuição mundial mais ampla estarão na frente nesse quesito). A DL 50, porém, não deve ser afetado por isso. A letalidade da picada pode variar com as condições locais e da susceptibilidade da população (idade, estado nutricional e existência de atendimento médico adequado nas imediações, p.e.), mas não deve ser tão diferente assim.

sábado, 21 de janeiro de 2023

Divagação Científica - divulgando ciências cientificamente 40: efeito de comunicação estática e dinâmica em mídias sociais

Habibi SA & Salim L 2021. Static vs. dynamic methods of delivery for science communication: A critical analysis of user engagement with science on social media. PLoS ONE 16(3): e0248507. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0248507

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As autoras analisaram o efeito de estratégias de comunicação dinâmica e estática na interação de postagens de conteúdos científicos no Instagram e Tik Tok.

No Tik Tok, foram avaliadas as interações com três tipos de vídeos, totalizando 40 publicações:
- vídeos longos (40 a 60 segundos de duração) do tipo aula, em que conceitos científicos específicos eram explicado primariamente por meio da fala;
- vídeo curtos (~15 segundos de duração) do tipo aula, com explicações dadas como fatos rápidos;
- vídeos longos (40 a 60 s) experimentais, como demonstrações práticas e série de passos de experimentos.

No Instagram, foram dois tipos de publicações, totalizando 20 postagens:
- imagens estáticas: fotos dos pesquisadores no laboratório;
- vídeos dinâmicos: experimentos executados em ritmo rápido fora do ambiente de laboratório.

Ambos os tipos são acompanhados de descrições de 200 a 400 palavras com mais detalhes sobre o tema científico relacionado.

Os parâmetros de interação levantados foram: total de visualizações por postagem/vídeo; número de curtidas; número de comentários; número de compartilhamentos; porcentagem da duração total do vídeo assistida; número de salvar da postagem.

Tabela 1. Resultados obtidos de parâmetros de interação de publicações por tipo de conteúdo de ciências no Tik Tok e Instagram. (* - significativamente maior a alfa=0,05 do que os demais valores no mesmo grupo: mesmo parâmetro na mesma plataforma.)

Plataforma Tipo de conteúdo Visualizações totais (média)
Curtidas
(% de visualizações totais)
Comentários
(% de visualizações totais)
Compartilhamentos
(% de visualizações totais)
Tempo de visualização
(média de % da duração total)
Salvar
(% de visualizações totais)
Tik Tok aula longa 29576 9,86 0,39* 0,16 28,10 nd
aula curta 55914 10,74 0,22 0,16 68,85* nd
experimental longo 248819* 13,04 0,20 0,33* 48,62 nd
Instagram estático 14834 7,56 0,32 0,24 nd 0,36
dinâmico 14598 9,04 0,72 2,27* nd 1,87*

No Tik Tok:
- caso o objetivo seja alcançar o maior número de pessoas, vídeos experimentais têm mais chances de obter resultados melhores;
- para uma visualização mais completa, vídeos curtos de até 15 segundos têm maior retenção;
- para uma maior interação com comentários, vídeos de aulas mais longos de cerca de 40 a 60 segundos;

No Instagram:
- postagens de vídeos têm melhores resultados, em particular, em termos de compartilhamento.

Entre Tik Tok e Instagram:
- os vídeos têm mais alcance no Tik Tok, mas maior interação no Instagram.

limitações:
- as publicações foram feitas em perfis preexistentes (a conta no Instagram tinha já cerca de 2 anos e a do Tik Tok, 5 meses, no início da avaliação);
- o estudo foi feito durante o auge da pandemia de covid-19, em 2020, o que pode ter levado a um número excepcionalmente grande de acessos;
- os algoritmos de entrega das plataformas são diferentes, os perfis dos públicos não são necessariamente iguais

sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

Divagação Científica - divulgando ciências cientificamente 39: efeito de treinamento

Rubega, MA, Burgio, KR, MacDonald, AAM, Oeldorf-Hirsch, A, Capers, RS, & Wyss, R. 2021. Assessment by Audiences Shows Little Effect of Science Communication Training. Science Communication, 43(2), 139–169. doi.org/10.1177/1075547020971639

Parte dos autores criaram um curso de comunicação pública de ciências (CPC) voltado para alunos da área de STEM - ciência, tecnologia, engenharia e matemática - (cerca de 10 por período) e de jornalismo (outros 10 alunos). A duração do treinamento foi de 4 meses. O primeiro mês dedicado à introdução à área de CPC com leituras e discussões. Os três meses seguintes foram de atividades práticas, incluindo entrevistas dos alunos de STEM para os colegas de jornalismo e análises dos vídeos das entrevistas e dos textos produzidos a partir delas. Antes e depois do curso, os estudantes gravaram um depoimento de até 3 minutos para a pergunta “como o processo científico funciona?”, tema que não era abordado no curso.

Como grupo controle foram recrutados estudantes da mesma universidade de áreas correlatas, que gravaram depoimentos sem passarem pelo treinamento.

Os vídeos com as explicações foram avaliados por outros alunos de graduação. 16 itens foram avaliados em pontos de 1 (“discordo totalmente”) a 7 (“concordo totalmente”) sobre três características: clareza (p.e. “a apresentação foi clara”), engajamento (p.e. “a pessoa parece entusiasmada com o tema”) e credibilidade do depoente (p.e. “a pessoa parece conhecer do assunto”). (Tabela 1.)

Tabela 1. Itens de avaliação dos vídeos (pontuados de 1 a 7).

categoria número item
clareza 1 a apresentação foi clara
2 foi fácil de acompanhar a apresentação
3 o(a) apresentador(a) usou de termos confusos
4 eu me senti confuso(a) em um ou mais pontos da apresentação
5 o(a) apresentador(a) usou de exemplos e/ou analogias para melhorar minha compreensão da informação
6 eu me distraí com a falta de fluência do(a) apresentador(a) (p.e. pausa, gaguejada, repetições, etc.)
engajamento 7 o(a) apresentador(a) parece entusiasmado(a) com o tema
8 o(a) apresentador(a) prendeu minha atenção
9 estou mais interessado(a) no assunto após assistir à apresentação
10 quero saber mais sobre o assunto
11 o(a) apresentador(a) usou de comunicação não-verbal (e.g. expressões faciais, gestos, linguagem corporal) que melhorou a apresentação
12 eu me distraí com a comunicação não-verbal do(a) apresentador(a) (e.g. expressões faciais, gestos, linguagem corporal)
credibilidade 13 o(a) apresentadora parece conhecer do assunto
14 o(a) apresentador(a) é simpático(a)
15 o(a) apresentador(a) faz o assunto parecer importante
16 o assunto é relevante para meus interesses

Os itens 3, 4, 6 e 12 tiveram a pontuação revertida na análise.

Após o curso, os trainees tiveram a seguinte avaliação:
- clareza: externa - média 4,73±0,81 (mediana: 4,76); autoavaliação: 5,53±0,97 (5,60);
- engajamento: 3,56±0,65 (3,40); 5,32±0,94 (5,37);
- credibilidade: 4,41±0,70 (4,30); 5,91±0,78 (5,95). 

Tanto no grupo teste quanto no controle, o segundo vídeo teve uma melhor avaliação do que o primeiro. Mas os alunos do curso tiveram uma melhora maior. Ainda assim o incremento foi de menos de 1 ponto na escala utilizada: a maior parte ficou entre 0,25 e 0,5 ponto de aumento antes e depois das aulas. (Fig 1.)

6 painéis de desempenho: 3 de alunos do curso e 3 de controle - nas dimensões de “clareza”, “engajamento” e “credibilidade”, cada painel exibe a nota mediana de um dos 16 itens do questionário. No painel de alunos do curso na dimensão “clareza”, as notas vão de cerca de 3,5 a 5 para cerca de 3,75 a 5,5; entre as pessoas do controle, a variação vai de cerca de 3,5 a 5 para cerca de 3,6 a 5,25. Na dimensão “credibilidade” as notas são similares. Na dimensão “engajamento” o padrão é similar, mas com notas mais baixas.

Figura 1. Evolução da avaliação do desempenho de comunicação em função do treinamento/tempo. 

Os autores também discutem a possibilidade de o instrumento de avaliação utilizado poder não ser o mais adequado para captar a qualidade do comunicador - houve uma grande variação nas pontuações, o que pode indicar que o que se entende por uma “boa comunicação” varia muito de pessoa para pessoa, tornando a tarefa de se avaliar o desempenho do comunicador bastante complexa.

Os autores notam também a grande diferença de desempenho entre as avaliações feitas por terceiros e as notas de autoavaliação - nestas últimas, o efeito do curso foi bem maior, com aumento de 1 a 2 pontos. Para os autores isso indica a necessidade uma avaliação externa e não apenas de autoavaliação dos alunos para se medir o impacto do treinamento em CPC.

Um curso de maior duração teria maior efeito? Mais oportunidade de os alunos treinarem e receberem feedback (duas vezes no curso) permitiria um desenvolvimento mais visível?


Upideite(11.jan.2023): Um artigo um pouco mais otimista sobre os efeitos de treinamento em DC.

Capers, RS et al. 2022. What Did They Learn? Objective Assessment Tools Show Mixed Effects of Training on Science Communication Behaviors. Front. Commun. 6: art. 805630.

sábado, 24 de dezembro de 2022

Divagação Científica - divulgando ciências cientificamente 38: incertezas

Gustafson, A & Rice, RE. 2020. A review of the effects of uncertainty in public science communication. Public Understanding of Science, 29(6), 614–33. doi.org/10.1177/0963662520942122

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Abel Gustafson, da Universidade de Yale, e Ronald Rice, da Universidade da Califórnia, ambas dos Estados Unidos, fizeram uma revisão da literatura sobre os efeitos que a menção a incertezas nas mensagens ao público não-especializado tinha em vários parâmetros de confiança, persuasão e comportamento.

Tipos de incertezas:

  • Deficitária: incerteza comunicada com frequência como conhecidas lacunas no conhecimento. Por falta de pesquisa na área, pelo problema não poder ser desvendado nem em princípio ou pela expansão do universo do problema ('cada resposta gera múltiplas novas questões'). Ex. "...embora muitas coisas ainda não sejam conhecidas e mais pesquisas sejam necessárias".
  • Técnica: erros de medida, aproximações de modelos, pressupostos estatísticos... Exs. amplitude(range): 7-15 cm; probabilidade: 65% de chance; estimativas com intervalos de confiança e barras de erro...
  • De consenso: (in)certeza em torno de uma teoria, descoberta ou previsão dada pelo acordo/desacordo coletivo a respeito delas - seja por grupos de interesse (cientistas, representantes do governo, público...), seja pelo corpo de evidências. Similar os conceitos coloquiais de "desacordo", "conflito" ou "controvérsia". Ex. "99% dos estudos publicados em revistas indexadas e revisadas por pares concluem que há um aquecimento global antropogênico em curso".
  • Da ciência: todo conhecimento científico, em princípio, pode ser modificado por descobertas futuras. Ex. "estas informações representam os melhores dados disponíveis no momento, mas as coisas podem mudar no futuro".

Tipos de efeitos:

  • negativos: efeitos que reduzem a confiança nas ciências - aumento de dúvida sobre segurança de vacinas, menor percepção de credibilidade de pesquisa, menor intenção de se adotar comportamentos saudáveis, redução na própria certeza sobre algo, menor confiança na fonte da mensagem...
  • positivos: efeitos que aumentam a confiança nas ciências - aumento da percepção de credibilidade de jornalistas e cientistas, aumento da crença na certeza dos cientistas sobre a ausência da relação entre vacinas e autismo, redução da crença no desacordo entre os cientistas, pessoas com atitudes mais negativas em relação aos OGMs passam a ser mais favoráveis a propostas de aplicação de OGMs, aumento na confiança nos cientistas, aumento da percepção da certeza dos cientistas quanto à realidade do aquecimento global...
  • nulos: ausência de efeitos significativos (aumento ou redução) em crenças, confianças, apoio, percepção de perigo, etc...

Resultados:

  • A comunicação de incertezas de consenso se associa mais a resultados de efeitos negativos;
  • A comunicação de incertezas técnicas não apresenta efeitos negativos, variando de efeitos positivos a nulos;
  • A comunicação de incertezas deficitárias e da ciência têm efeitos variados entre os estudos: negativos, positivos e nulos;
  • As incertezas podem levar a vieses de confirmação e raciocínio motivado (em que a pessoa argumenta com a intenção de provar um ponto pré-estabelecido) de acordo com a existência de visões de mundo e opiniões sobre o tema prévias;
  • A (des)confiança na ciência e nos cientistas interferem nos efeitos das incertezas: entre os que confiam na ciência, o relato de um alto nível de consenso entre especialistas sobre uma política ambiental se associa a um maior apoio a essa política, enquanto que, entre os que não confiam na ciência, isso tende a ter um efeito de menor apoio (talvez por aumentarem a percepção prévia de existência de uma conspiração);
  • Entre os que enxergam a ciência como um empreendimento que sempre está sujeito a algum nível de incerteza, a comunicação de incertezas tende a ter efeitos mais positivos; já entre os que enxergam a ciência como reveladora de verdades absolutas, isso tende a ter efeitos mais negativos;
  • Temas podem afetar o efeito da comunicação de incertezas: p.e. a incerteza de consenso parece afetar o resultado da comunicação de aquecimento global, mas não de rotulagem de OGMs e perigos de maquinários.

sábado, 3 de dezembro de 2022

Alfabetização científica ou letramento científico?

>Laugksch, RC. 2000. Scientific literacy: a conceptual overview. Science Education 84(1): 71-94.

Interpretações da palavra letrado/alfabetizado ('literate'):

Instruído ('learned'): conhecer sobre fatos científicos e processos, valor do próprio conhecimento científico (conhecimento pelo conhecimento);
Competente ('competent'): contexto em que o cientificamente letrado precisa operar ou desempenho de atividades e funções específicas: ler uma notícia científica no jornal, resolver problemas práticos sobre alimentação, saúde e habitação, pensar de modo crítico e independente em questões envolvendo lógica, quantificação, evidências... (conhecimento aplicado em situações específicas);
Minimamente funcional como consumir e cidadão ('able to function minimally as consumer and citizen'): usar a ciência para uma melhor tomada de decisão no dia a dia (conhecimento aplicado na melhora da qualidade de vida);

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>Roberts, DA. 2007. Scientific literacy/science literacy.  In S. K. Abell & N. G. Lederman (eds.) Handbook of research on science education. Lawrence Erlbaum Associates. 1345 pp. Pp. 729–80.

>Roberts, DA & Bybee, RW. 2014. Scientific Literacy, Science Literacy, and Science Education. In Lederman, NG & Abell, SK (eds.) Handbook of research on science education vol. II. Routledge. 970 pp. Pp: 545-58

Visão I: estudante como um cientista novato; objetivo de dominar o básico da ciência para poder encarar material mais avançado; um olhar para dentro da própria ciência (nos cânones das ciências naturais ortodoxas), para os produtos e processos da ciência - aquisição de conhecimento sobre ciências dentro da própria ciência.

Visão II: estudante como cidadão; ênfase nos componentes científicas nos fenômenos do dia a dia; aquisição de conhecimento sobre ciências em situações em que considerações além da ciência são também importantes - olhar para a ciência a partir de fora.

As visões I e II são extremos de um contínuo de posicionamentos sobre a importância do letramento científico.

"science literacy"->visão I;
"scientific literacy"->visão II;

Relações com: "la culture scientifique" (Canadá francófono), "public understanding of science" (em declínio - consideram que PUS implicaria em um público e uma compressão homogêneos)/"public engagement of science" (Reino Unido). ["scientific temper" (Índia)]

[Nessa distinção entre "science literacy" e "scientific literacy", proponho "letramento para a ciência" no primeiro caso e "letramento sobre ciência" no segundo.]

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>Cunha, RB. 2017. Alfabetização científica ou letramento científico?: interesses envolvidos nas interpretações da noção de scientific literacy.  Rev. Bras. Educ. 22 (68).

Literacy: alfabetização vs letramento

alfabetização: saber ler e escrever - ruptura entre os que sabem ler e escrever (alfabetizados) e os que não sabem (analfabetos);
letramento: uso efeito da escrita e leitura nas práticas sociais - contínuo de níveis de complexidade do uso da escrita.

"Enquanto os que tratam de alfabetização consideram fundamental o ensino de conceitos científicos, os que optam por letramento priorizam, no ensino, a função social das ciências e das tecnologias e o desenvolvimento de atitudes e valores em relação a elas." (Cunha 2018)

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>Sasseron, LH & Carvalho, AMP 2011. Alfabetização científica: uma revisão bibliográfica. Investigações em Ensino de Ciências – V16(1), pp. 59-77.

Alfabetização científica: Paulo Freire "alfabetização é mais que o simples domínio psicológico e mecânico de técnicas de escrever e de ler. É o domínio completo destas técnicas em termos conscientes. [...] Implica numa autoformação de que possa resultar uma postura interferente do homem sobre seu contexto".

Enculturação científica: permitir que os alunos façam parte de uma cultura em que noções e conceitos científicos são parte do corpus (ao lado de outros aspectos: religião, arte, história...)

Letramento científico: Kleiman & Soares (1998) definem letramento como 'resultado da ação de ensinar ou aprender a ler e escrever: estado ou condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como consequência de ter-se apropriado da escrita"

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[No fim acaba sendo escolha ao gosto do freguês. Particularmente acho interessante a proposta de fazer uma distinção entre os termos, na medida em que temos expressões diferentes e há nuances a se cobrir.]

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