Lives de Ciência

Veja calendário das lives de ciência.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Jogo dos erros 3e

Não, não errei na conta. A série "Jogo dos Erros" já passou da 6a postagem, mas como tem a ver com a entrevista de Ricardo Felício ao Jô Soares, abordada em uma série anterior de quatro postagens, faz sentido colocar esta como a quinta parte.

Segue abaixo um excelente vídeo do biólogo Pirulla, ele  é longo (o vídeo, seus maldosos) - quase uma hora e meia -, mas traz entrevistas com importantes cientistas brasileiros na área de atmosfera e climatologia. Pago parcialmente também uma dívida com o Pirulla, uma parte substancial das visitas ao GR se dá pelo link nos vídeos dele exatamente rebatendo as desinformações dadas na referida entrevista de Felício (Round 1 e Round 2).


Os entrevistados refutam as principais alegações de Felício e outros negacionistas climáticos brasileiros. Vale mais a pena ver no próprio canal do Pirulla, lá tem links não apenas para as referências usadas na produção do vídeo e citadas pelos cientistas, como para os vídeos das íntegras de cada entrevista.

Não subscrevo cada palavra, embora concorde no atacado (e por isso recomendo que se assista ao vídeo na íntegra). Um ponto que eu olharia com um certo cuidado, por exemplo, é quanto à hipótese de os negacionistas brasileiros servirem aos interesses dos ruralistas. Certamente a questão do desmatamento é sensível - e a bobagem dita por Felício sobre a Amazônia não ser importante climaticamente pode soar muito bem aos ouvidos de produtores que queiram expandir suas terras -, mas a própria agricultura corre um risco bastante sério com as alterações climáticas previstas e provavelmente em andamento. Como a agroindústria não rasga dinheiro, não sei se eles compram o pacote negacionista de barato.

Por exemplo, em 2008, o Conselho Nacional do Café realizou evento a respeito de mitigações do efeito do aquecimento global e mudanças climátcas para a cultura cafeeira. Também em 2008, a Aprosoja demonstrava preocupação com o efeito do aquecimento global sobre a sojicultura.

Embora ainda haja denegação da AGA por várias partes.

Certo setor do ruralismo deve formar um tipo peculiar de negacionistas: eles não negam a AGA, nem assumem que as consequências serão pequenas ou benéficas, nem que nada possa ser feito para evitá-la, mas pretendem que suas atividades (desmatamento e emissão de gases estufa como metano) não tenham impacto significativo.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Canem et circensis

Abaixo uma relação, parcial (acrescento à medida em que souber de mais), de postagens na blogocúndia cientófila sobre a ação de ativistas dos direitos animais que invadiram o Instituto Royal e removeram/resgataram/roubaram beagles e coelhos usados em experimentação.*

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Rainha Vermelha Salvemos todos os bichos fofos
DNA Cético - Protetores de animais fofinhos
Nightfall in Magrathea Ou será que estou errado?
Ciência na Mídia O uso de animais na pesquisa científica
Improviso Científico Sobre beagles e imperfeição científica
Leconnector A verdadeira questão
Física sem Educação Animais, beagles e testes
NEUROtícias Cão de pesquisa que late não morde: uma reflexão sobre experimentação animal.
Haeckeliano Aranhas, Beagles e as Mentiras que os Cientistas contam
Darwin & Deus Por um punhado de beagles
Prisma Científico Snoopy e a experimentação animal
Discutindo Ecologia Sobre beagles, ativismo e divulgação científica
Teoria de Tudo Os gatos-bonsai do Instituto Royal
Blog da Sciam A controvérsia no caso dos beagles do Instituto Royal
Lygia da Veiga Pereira A Escolha de Sofia - os beagles ou eu?
Prisma Científico Por que modelos computacionais não podem substituir os modelos animais?
Comentários, Críticas, Dicas, etc. Pesquisas de estimação
DNA Cético Beagles que não largam o osso
DNA Cético Enquanto isso, na Europa...
Sonhos do Neuro Os direitos dos animais e a lógica ativista
Rock com Ciência Uso de animais em pesquisas e testes (podcast)
42 1 Macaco e Meio, um filme com Luisa Mell sobre a invasão do Instituto Royal que ninguém quer ver
Você que É Biólogo Sobre Beagles e Exoesqueletos
Ciência na Mídia Duas lógicas
Animalogos Beagles, o Instituto Royal, experimentação e activismo animal: a polémica no Brasil (blogue de Portugal)
CiênciaPop #SciCast 007 - Testes com Animais (Parte 1) (podcast)
Ciência na Mídia As fases da pesquisa clínica
CiênciaPop #SciCast 008 - Teste com Animais (Parte 2) (podcast)
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Meus pitacos:

De 97 a 99,5% das substâncias testadas in vitro - como em culturas de células - não apresentam o efeito desejado (ou mesmo apresentam efeitos nocivos). Dos 0,5 a 3% dos compostos que passam nesses testes, 83 a 92% são reprovados em testes com animais. Dos 8% a 17% (dos 0,5 a 3%), de 36 a 70% falham nas fases iniciais dos testes em humanos.

Repare-se que cada etapa funciona como um filtro e a taxa de fracasso diminui (ou, alternativamente, a taxa de sucesso aumenta), já que lidamos com sistemas que são mais similares.

Se testássemos direto em humanos, a fase mais cara e técnica e eticamente mais complicada (você nem tem humanos isogênicos e nem pode e muito menos deve criá-los), uma fração muito maior de testes terminaria em fracassos - e precisaríamos aumentar muito seu número absoluto para que se mantenha o mesmo número de novos compostos ou de tratamentos descobertos em um dado intervalo de tempo.

Certamente esse sistema de filtragem acaba removendo substâncias que poderiam ser benéficas ao corpo humano, ainda que não demonstrassem efeito positivo quer in vitro, quer em modelos animais. Mas a fração desses compostos tende a ser pequena.

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Há que se considerar que as mídias sociais não são representativas da população em geral, mas parte da reação demonstrada por muitos parece indicar que há muito trabalho de esclarecimento a ser feito junto à população. E, mais do que isso, um trabalho de convencimento.

Em um caso, uma pessoa quis me convencer no facebook de que modelos em PVC poderiam ser um bom substituto de animais em pesquisas de desenvolvimento de novos medicamentos. Esses modelos podem ser úteis em atividades didáticas de anatomia e algumas instruções sobre procedimentos cirúrgicos bem estabelecidos, mas seguramente é incapaz de reagir a compostos medicamentosos.

Fonte: Imagem da esquerda, Photoshop usado em campanha contra o uso de animais; à direita, criança acometida por varíola - doença erradicada por vacinas produzidas com o uso de animais.

Entre os ativistas abolicionistas dos testes com animais com quem debati, nenhum demonstrou conhecer os termos da Lei Arouca que regula a experimentação animal - frise-se que o tamanho amostral não é grande e certamente constitui-se em amostra viciada; mas considero importante que todas as partes tenham um conhecimento básico sobre a regulamentação legal do tema.

O mais importante de tudo é que casos de maus tratos e outras irregularidades sejam denunciadas às autoridades, como o Concea e o Ministério Público.

Upideite(24/out/2013): A Lei Arouca foi regulamentada pelo DEC 6.899/2009. Para críticas sobre a lei e o regulamento, veja, p.e., Bonella 2009 e Reynol 2009.

*Upideite(16/nov/2013): Procurei fazer um levantamento mais completo possível, mas certamente vários devem ter escapado. Fiquem à vontade para indicar omissões. A listagem aqui, claro, não se trata de um endosso ou declaração de concordância com os teores de cada postagem dos blogues relacionados (embora eu concorde de modo geral com a maioria deles). Somente dois textos acabei não relacionando - mesmo concordando no geral com o teor de cada um: por critério altamente subjetivo de adequação linguística.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

SNCT 2013 - Esporte é saúde, pratique. Será?

ResearchBlogging.orgO tema da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia deste ano, aproveitando que ano que vem será realizada a Copa do Mundo de Futebol por estes solos, é Ciência, Saúde e Esporte.

Há um bom tempo é comuníssima a associação das práticas esportivas com a boa saúde física e mental, além da disciplina e socialização. Porém, nos desportos de alto rendimento é frequente a lesão dos atletas e há casos de morte dos desportistas durante competição - seja por acidentes e até por problemas cardíacos. Mas, então, os esportes fazem bem ou mal à saúde?

Existem na literatura científica diversos estudos a analisar os mais variados aspectos da influência potencial das atividades físicas sobre o bem estar dos atletas.

Page et al.1998, por exemplo, verificaram a associação entre a prática de esportes escolares e comportamentos de risco entre 12.272 adolescentes colegiais. A participação em equipes esportivas correlacionou-se com um comportamento sexual menos arriscado: menor índice de doenças sexualmente transmissíveis e de gravidez entre as meninas e um maior índice de uso de camisinha e menor número de parceiros sexuais para ambos os sexos. Houve correlação negativa entre a prática esportiva e o porte de armas e pensamentos suicidas tanto nos garotos quanto nas garotas. Entre os meninos, no entanto, houve uma correlação positiva com o uso de cigarro e de esteroides.

Já Baumert e cols. 1998 - em estudo que abrangeu 6.849 estudantes que responderam a um formulário sobre comportamento - encontraram uma associação negativa entre a prática esportiva e o uso de cigarro em adolescentes colegiais, além disso, tendiam a exceder mais a velocidade e a usar menos capacetes quando andavam de moto ou de bicicleta. Por outro lado, os que se exercitavam também tendiam a ter uma melhor alimentação (uma maior proporção tomavam café da manhã diariamente, evitavam sal, consumiam mais cálcio e vegetais), usavam mais cinto de segurança e se sentiam menos desesperançados.

Paffenbarger et al. 1986 acompanharam ao longo de 16 anos 16.936 alunos de Harvard com idades entre 35 e 74 anos. A prática de exercícios como caminhada, subida de escadas e práticas esportivas correlacionaram-se inversamente com a mortalidade por causas cardiovasculares e respiratórias - especialmente quando o gasto energético semanal crescia de menos de 500 kcal para 3.500 kcal; mas a mortalidade aumentava ligeiramente quando o gasto energético era maior do que esse limite. Aos 80 anos, a prática de exercícios deve ter aumentado a expectativa de vida entre 1 a mais de 2 anos.

Polednak (1972) analisou o histórico de 8.403 universitários de Harvard nascidos entre 1860 e 1889. Os que ganharam três ou mais prêmios esportivos morriam de causas naturais um pouco antes do que os que tinham apenas um ou dois prêmios e com mais frequência de problemas cardiovasculares - em particular coronarianos.

A tabela abaixo mostra a longevidade de atletas americanos masculinos multiaurimedalistas nos Jogos Olímpicos nascidos há 100 anos ou mais (considerando-se somente desportos que exigem grande dispêndio energético - deixei de fora modalidades como tiro e arco). Comparando-se com as curvas de expectativas de vida nos EUA ao longo do tempo notamos que a média de sobrevida aos 40 anos é até *menor* do que a expectativa de vida aos 40 anos da população em geral - embora não de modo significativo. Não há muita surpresa que a longevidade média dos atletas seja superior à expectativa de vida ao nascer (ainda que de modo não significativo) - afinal, eles foram atletas multimedalhistas olímpicos: ou seja, fazem parte de um grupo que vive pelo menos 20 a 30 anos (senão não teriam competidos nas Olimpíadas).


O quadro que emerge é que a prática esportiva tende a ser saudável, melhorando o desempenho do sistema cardiovascular e respiratório e a uma melhor saúde mental. Mas um nível *mediano* de atividades físicas tende a ser preferível a uma prática intensiva - como nos desportos de alto rendimento.

As campanhas contra o sedentarismo deveriam vir acompanhadas de um aviso similar a das peças publicitárias de bebidas alcoólicas: "Esporte. Pratique com moderação."

Referências
Baumert PW Jr, Henderson JM, & Thompson NJ (1998). Health risk behaviors of adolescent participants in organized sports. The Journal of adolescent health : official publication of the Society for Adolescent Medicine, 22 (6), 460-5 PMID: 9627816

Page, R.M., Hammermeister, J., Scanlan, A., & Gilbert, L. (1998). Is School Sports Participation a Protective Factor against Adolescent Health Risk Behaviors? Journal of Health Education, 29 (3), 186-192 : 10.1080/10556699.1998.10603332

Paffenbarger, R.S., Jr., Hyde, R., Wing, A.L., & Hsieh, C-s (1986). Physical Activity, All-Cause Mortality, and Longevity of College Alumni N Engl J Med, 314, 605-613 DOI: 10.1056/NEJM198603063141003

Polednak AP (1972). Longevity and cardiovascular mortality among former college athletes. Circulation, 46 (4), 649-54 PMID: 5072766

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Por que pesquiso? 7

O físico Marcelo Gleiser em sua coluna na Folha, em 2013:

"Por que fazer ciência? Esse é o mais importante deles, e o que requer mais cuidado. A primeira razão para se fazer ciência é ter uma paixão declarada pela natureza, um desejo insaciável de desbravar os mistérios do mundo natural. Essa visão, sem dúvida romântica, é essencial para muita gente: fazemos ciência porque nenhuma outra profissão nos permite dedicar a vida a entender como funciona o mundo e como nós humanos nos encaixamos no grande esquema cósmico. Mesmo que o que cada um pode contribuir seja, na maioria dos casos, pouco, é o fazer parte desse processo de busca que nos leva em frente.

Existe também o lado útil da ciência, ligado diretamente a aplicações tecnológicas, em que novos materiais e novas tecnologias são postos a serviço da criação de produtos e da melhoria da qualidade de vida das pessoas. Mas dado que a preparação para a carreira é longa --depois da graduação ainda tem a pós com bolsas bem baixas-- sem a paixão fica difícil ver a utilidade da ciência como a única motivação. No meu caso, digo que faço ciência porque não me consigo imaginar fazendo outra coisa que me faça tão feliz. Mesmo com todas as barreiras da profissão, considero um privilégio poder pensar sobre o mundo. E poder dividir com os outros o que vou aprendendo no caminho."

O biólogo Stevens Rehen, em seu blogue, em 2010:

"Uma pergunta que ouço com freqüência é 'por que decidiu ser cientista?' A resposta é... não sei! Acho que se herdasse a estatura de meu terceiro irmão continuaria arriscando no voleibol. Se tivesse a mesma habilidade percussiva do caçula, estaria na música. Cogitei também veterinária e jornalismo.

Não houve portanto um momento mágico em minha vida quando decidi pela ciência. É como no filme da campanha 'ciência vale a pena' do Instituto Ciência Hoje: 'todo ser humano é um cientista por natureza, é só continuar'. Acho que foi o que aconteceu comigo.

É fato que meus pais sempre defenderam a opção dos filhos por um ofício prazeroso, independente de qual fosse, e isso ajudou bastante em minha decisão.

[...]

Fazer ciência é um barato. Há dificuldades e dissabores, óbvio que sim, mas nada supera a satisfação de participar de uma descoberta científica."

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Há uma crise nos blogues brazucas de ciências? - 5

Não tinha muita certeza se havia ou não uma crise nos blogues brasileiros de ciências - algumas linhas de indícios um tanto indiretos me levaram a imaginar que poderia ser o caso. Da discussão derivada da observação de Mariana Fioravanti sobre sua dificuldade em postar, muitos consideraram que havia uma crise e procuraram explicações, outros foram mais reticentes quanto à possibilidade de uma crise generalizada.

Fiz um levantamento do padrão de postagens em duas amostras de blogues. Uma do condomínio Scienceblogs Brasil (figura 1) e outra de blogues independentes (figura 2). E creio que podemos sim identificar uma crise.

Figura 1. Perfil de evolução de postagens no Scienceblogs Brasil. Número de blogues = 44, incluindo o Brontossauros no meu Jardim. Em azul o total mensal de postagens (eixo vertical secundário); em laranja, a média mensal de postagens de cada blogue e, em amarelo, o total de blogues com postagens no mês (eixo vertical principal).

Desde 2008, a frequência média de postagens vem caindo nos blogues dos SBBr e o número de blogues com postagens está em queda desde 2011.

Figura 2. Perfil de evolução de postagens em blogues brasileiros de ciências independentes. Número de blogues = 45. Codificação como na Figura 1.

O padrão dos blogues independentes é um tanto mais errático. Há um pico de média de postagens no primeiro semestre de 2008 e um pico secundário no primeiro semestre de 2012 - desde então a média vem caindo. O total de blogues com atividade pode estar entrando em um platô, mas a característica principal é a variação.

Bem, esse são os padrões - não me arrisco ainda a uma interpretação a respeito de causas e efeitos.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Há uma crise nos blogues brazucas de ciências? - 4

Continuando a organizar a discussão, aqui deixo as contribuições via facebook.

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Na discussão no FB na postagem do Carlos Hotta (selecionei só parte dos comentários, que dizem respeito mais diretamente aos blogues de ciências):

Carlos Hotta Acho q o SBBr diminuiu a linkagem p/ blogs fora da rede. Visibilidade dá falsa impressão de saturação da comunidade. A comunidade deu uma fechada. Há a sensação de que tudo já é discutido pelo site.

Rafael Bento Soares Não vejo o menor indício para este argumento do SbBr ter influencia nisso. Gostaria que isso fosse verdade até, pq seria sinal de ter um poder e alcance que não temos. Dentro do SbBR a coisa já tá feia. Muita noticia passa batida sem ninguem comentar, e nao temos essa visibilidade toda, vcs sabem. Linkagem interna eu aposto que não fica acima da média entre posts de dentro e de fora do SbBr. Algumas contribuições: 1- O blog enquanto mídia atingiu seu plato, simples assim. É importante,estará sempre lá, mas nao cresce mais. Talvez ate caia um pouco até estabilizar. 2- leitores estão se satisfazendo com info, ou se distraindo, com o facebook. 3- É uma crise mundial na divulgação cientifica! Em congresso recente os top bloguers são os mesmos de 5 anos atrás(tempo que é uma eternidade no meio digital). A coisa mais surpreendente que apareceu foi no facebook, o I F* Love Science. Tudo está muito parado. Pessimistas podem pensar que ninguem quer saber disso mesmo, otimistas pensam que é a calmaria antes de alguma coisa nova e revolucionária.

Luiz Bento Gráfico do artigo que publicamos com dados do Research blogging (todas as línguas). Tenho certeza que se colocarmos 2012 e 2013 a situação vai ser ainda pior.

http://www.plosone.org/.../10.1371/journal.pone.0050109...

www.plosone.org

Rafael Bento Soares Aliás, perceba onde está acontecendo essa discussão: não na seção de comentários do seu blog, e sim no facebook. Isso é importante pq desestimula escrever se ninguém comenta abaixo, então o impeto de quem quer escrever é saciado no face mesmo.

João Carlos Antes de postar aqui, postei no Brontossauros. Repetindo o essencial: sinto falta do Roda de Ciência, mas - por minha própria experiência - constato que o mais difícil é conseguir consenso para blogagens coletivas. Tanto faz ser dentro do SBBR, como em um âmbito mais abrangente.

Carlos Hotta O Facebook é uma ferramenta melhor para se ter conversas. Mas muitos blogs prosperaram via Facebook e Twitter.

Roberto Takata Lembro que no 2o euclipo comentou-se rapidamente sobre a queda nos índices do tecnorati. OOsame Kinouchi sugeriu que era porque a interação estaria indo pro twitter, sem crosslinks indexados.

Kentaro Mori Está todo mundo no Facebook, até os cientistas. É coincidência que a produção e audiência de blogs caiu enquanto temos comunidades no Facebook relacionadas a ciência com mais assinantes do que qualquer site de ciências já teve de visitantes em um só mês? Não: http://www.slideshare.net/...


Roberto Takata Mas os que reduziram seu ritmo de blogagem estão publicando mais no FB? Os novos que publicam no FB têm um ritmo igual ou superior de publicação em relação aos blogueiros em 2009?

Kentaro Mori São dois (ou mais) "fenômenos": o principal é que são raríssimos os autores que conseguem manter uma produção estável por longos períodos sem uma motivação financeira, em qualquer meio.

Kentaro Mori O fenômeno secundário que é o que discutimos são os blogs, e eles são uma das ferramentas que facilitaram a divulgação -- e, apenas como um leve empurrão, incentivaram a própria produção -- de autores em uma fase de alguns meses a alguns anos em suas vidas. Mas como fenômeno secundário, como ferramenta para incentivar e divulgar conteúdo, o Fb como um todo com certeza se mostrou uma ferramenta que atrai um leque maior de autores, todo mundo é autor, criador. Uma das satisfações não financeiras de ter um blog era o retorno dos leitores, e o Fb permite essa gratificação de forma muito, muito mais fácil.

Kentaro Mori Há comunidades de entusiastas de ciência no Facebook com mais colaboradores, audiência e produção de conteúdo que o SbBr jamais teve. Acho que ordens de grandeza maiores, chuto que superando em termos absolutos de engajamento até grandes sites mainstream de antigamente como a SUPER. Hoje, até os blogs de veículos grandes como a Super têm pouco engajamento -- ou, continuam como sempre estiveram.

Kentaro Mori Da mesma forma que a tecnologia produziu essa coisa fantástica que eram os blogs, de você poder publicar conteúdo e ter ele acessado por qualquer pessoa, e poder ser encontrado pelo Google; agora a tecnologia produz essa coisa bizarra que é todo mundo em redes sociais fechadas, com conteúdo cheio de restrições, em plataformas que fazem o máximo para evitar que você deixe a própria plataforma. E vamos ter uma outra fase, com outras características, só não sei se vai ser melhor, pior, ou quando vai chegar...

Carlos Hotta Bom, estou interessado para ver o que irá acontecer no próximo "evento científico" tipo o H1N1. Quero ver se os blogs de Ciência têm algum valor de viralização.

Thiago Henrique Santos Se vale de alguma coisa, não acho que o SbBR tem culpa no processo, concordo que há uma sensação de comunidade fechada pra quem está de fora mas acho que por si só isso não é o suficiente pra inibir que novos blogs se formem "do lado de fora". 

Realmente não sei qual é o problema e, pra ser honesto, nunca parei pra pensar nisso. Só posso dizer da minha experiência. OPolegar Opositor está quase que abandonado pq eu não tenho mais o tempo que tinha pra atualizar o site. Em 2009 (ou 2008? Não sei mais) cheguei a publicar 3 textos por semana por meses sem parar. Depois a produção caiu, eu fiquei mega ocupado com o mestrado (o que, verdade seja dita, acabou rendendo outros tantos post's no blog). Minha própria motivação de escrever o blog mudou logo cedo, os textos de divulgação deram lugar aos textos que discutiam divulgação, depois veio a coisa da ciência 2.0 e etc.

Além da falta de tempo eu sinto mesmo que entrei num certo esgotamento. Raramente penso em assuntos complexos como algo que eu gostaria de elaborar em um texto pro Polegar e, mesmo quando isso acontece, dificilmente eu consigo levar o esforço de escrever até o fim. Em geral, perco o interesse antes de terminar o texto. Quanto a isso, gosto de culpar o mestrado, digo que foi um esforço intelectual tão grande que meu cérebro entrou em modo "férias por tempo indeterminado", mas eu sei que é mais que isso.

Enfim, ver o Polegar lá tão paradão me dá um sentimento de culpa perpétuo. Eu fico triste com isso, mas estou realmente sem meios de mudar a situação... #chatiado

Rubens Pazza Uma possível saída para este beco do Fb x blogs é o misto, ou seja, a publicação no blog repercutida por uma publicação no Fb. A propagação acontece via mídias sociais, onde também acontecem mais discussões e comentários. Algumas ferramentas inclusive permitem que os comentários do Fb sejam publicados diretamente no blog...

Isis Rosa Nobile Diniz Lendo a discussão, podemos chegar a uma conclusão: de modo geral, quem escrevia sobre ciência estava na faculdade ou era recém-formado (ou, por algum motivo, "tinha tempo" para tal). Os jovens de hoje nessa idade estão se dedicando ao Facebook. Eu, mesmo que falando para "ninguém", continuo escrevendo para o blog. Estou até com uma série sobre a Patagônia. Sei lá, acho que é uma maneira de deixar registradas informações que podem, quem sabe um dia, ajudar alguém. Além de ajudar a mim mesma a compartilhar todas essas ideias. Uma necessidade minha da comunicação.

Lucia Malla Acho uma tristeza acumular conteúdo no FB, pq ele é um buraco negro mesmo, onde o conteúdo é mega-efêmero e biased por mecanismos que só tio Mark entende. E está atrás de login/pswrd, o q me dâ desconforto. Mas vejo tb um esgotamento dos blogs, cansaço mesmo, parece que foram drenados pela falta de audiência. Curiosa pelo que pode vir pela frente, nesse cenário.

Luis Brudna O Lattes, CNPq e amigos até tentam dar uma valorizada em blogs e produções semelhantes, mas não existe uma forma de dar um valor relevante a um bom blog. Então o que ocorre é que parece ser mais produtivo se a pessoa cria trocentos blogs, twitter, facebook, etc com pouco conteúdo em cada. Se gor apenas um blog repleto de conteúdo interessante, contará como ´cara que tem só um blog´.

Luis Brudna Suspeito que dá pra fazer uma longa lista de blogs (e assemelhados) que foram usados apenas para gerar algum trabalho em congresso ou publicação "uso de blog na disciplina XYZ para ZZY", criam o blog, publicam sobre ele e depois abandonam para repetir o processo.

Shridhar Jayanthi No meu caso, o abandono veio da percepção de que questões que eu considero interessantes não eram questões que o público engajava. Eu tinha um número razoável de leitores mas pouquíssimos eram os que comentavam. A direção do meu blog mudou de "discussão de coisas que me interessam" pra "divulgação científica/educação". No princípio eu até gostei da idéia, mas no final das contas, não funcionou.

Carlos Hotta Acho que os blogs tendem a ter uma data de validade, com louváveis excessões. O esperado seria que sempre tivesse alguns blogs interessantes ativos, quanod estes diminuíssem seu ritmo, outros apareceriam. Atualmente há bons blogs por aí, o problema é que esse número, na minha opinião, deveria ser maior.

Caio Cícero Gomes Do meu lado, eu acabei perdendo o animo com em bloggar sobre ciencia no momento que eu percebi que acaba sendo uma tarefa bastante isolada.

De um lado, como o Shridhar Jayanthi falou, acabamos quase sempre se focando na divulgação ciêntifica, que não
necessariamente são os temas que mais me interessam.

Do outro lado, e o principal, é que os blogs acabaram nunca sendo o ambiente de debate que eu acreditava que seriam. O debate de um post eram os comentários, que sempre se focam em um ponto ou outro, mas nunca acabamos fazendo sequencias de posts que abrangiam temas maiores e diversos blogs com diversos pesquisadores.

Não sei como seria pra resolver isso, mas esse é o principal motivo de ter me desanimado.


Carlos Hotta O blog já foi uma ferramenta mais social. Foi até inventarem ferramentas melhores para isso: Twitter e Facebook. Só que ambos são mais efêmeros e rasos.

Carlos Hotta Bruno, uma das coisas que percebi logo é que os blogs realmente falham ao tentar atuar como substitutos da mídia tradicional. Eles agem em seu melhor quando tentam complementar o que foi publicado ou comentar o noticiado.

Bruno de Pierro E mais do que complementar, ele (o blog) deve desestabilizar.

Roberto Takata Eu aposto mais em um ecossistema de blogues/mídias sociais. Cada qual com suas peculiaridades e objetivos.

Carla Da Silva Almeida Minha humilde opinião: hoje, para se investir em algo que custa tempo, é preciso haver retorno, seja financeiro, seja de visibilidade ou mesmo de satisfação pessoal. Os blogs de ciência não conseguiram ter no Brasil a repercussão esperada; os blogueiros não tiveram o devido retorno – nem financeiro nem de visibilidade –, o que levou a uma certa frustração/insatisfação pessoal e falta de motivação em meio à extrema falta de tempo. Lá fora – na blogosfera em inglês – a história é outra; os blogueiros – antigos e novos – têm tido repercussão interessante e muitos têm retorno financeiro; alguns passaram a viver disso, inclusive (http://cienciahoje.uol.com.br/...). Houve uma profissionalização dos blogs que não acho que vá acontecer por aqui, por muitos motivos, incluindo talvez a falta de público/interesse pra isso. Mas sou otimista: acho que ainda está em tempo de virar o jogo e se tentar uma estratégia diferente na blogosfera brasileira, envolvendo cientistas, jornalistas, outros tipos de divulgadores e demais interessados em falar de ciência, cultura e política.

Maria Guimarães dei uma palestra ontem na embrapa sobre "novas tecnologias de comunicação". citei Carlos HottaLuiz BentoBruno de Pierro. mas o ideal seria mesmo ter posto esta discussão ao vivo. 
estou aqui pensando: a diminuição é mesmo real, tanto em quantidade como qualidade? a gente tem, por exemplo, uma medida de quanto o sbbr produzia antes e agora?


Maria Guimarães não concordo com a oposição facebook/blogs, são coisas distintas. o facebook, vê-se aqui, é a mesa de bar do blog. precisa ver em conjunto. na Pesquisa Fapesp a página do facebook é um bom complemento ao site.

Maria Guimarães será que chegamos a um platô, como acho que o Rafael disse? gente que precisa escrever sobre ciência não dá em árvore. talvez o facebook e o twitter bastem para aqueles que abriam blogues pra reproduzir conteúdo ou dar uns palpites. sobrou quem quer mesmo escrever.

Maria Guimarães no meu caso, comecei a precisar de tempo livre. porque esse tempo ficou mesmo mais escasso e precioso, mesmo antes de ter filho. e escrever no blogue já não supria essa vontade de descansar. continuo tendo vontade de escrever sobre um monte de coisas, mas falta energia. nunca me importei com quanta gente lia nem se fazia sucesso, embora fosse o máximo encontrar interlocutores. era, como disse a Isis, necessidade mesmo de escrever e contar coisas legais. agora pensando, talvez a expectativa de uma certa profissionalização contribua para o cansaço, crie resistência. mas ainda não achei coragem pra fechar o ciência e ideias

Isis Rosa Nobile Diniz Também me sinto como um corredor que encontra uma parede. Conhece a expressão?

Isis Rosa Nobile Diniz Maria Guimarães, quando a gente usa toda a energia para correr e não consegue mais manter, tendo que se superar, acreditar e diminuir o ritmo para continuar.

Claudia Chow Nao acho q exista crise de blogs de ciencia, há uma "crise" de blogs por conta do facebook (to usando a palavra crise na falta de uma melhor). Qdo vcs falam de crise de blogs de ciencia parece pra mim q algum dia fomos algo grandioso, de muito sucesso e super conhecido, discordo totalmente, de verdade fora as pessoas q escrevem no SBBr, seus conhecidos e os q trabalham com divulgacao cientifica nao conheci ninguem q soubesse o q é o Science Blogs, seja o brasileiro ou o estrangeiro. Quem trabalha na Universidade por favor pergunte para os alunos de graduacao qtos conhecem o Science Blogs, se aparecer alguns gatos pingados vou achar sensacional! Tenho q impressao q blog no Brasil nunca foi levado muito a serio...

Felipe Benites o SBBr penso que ficou tão conhecido como uma plataforma para blogs de um assunto específico na internet, quanto poderia ser! claro que é um local onde quem cai lá é quem procura sobre temas da ciência, se não cresce não é por falta de interesse do grande povo, e vamos ter de concordar que o interesse por ciência é isso aí mesmo, existe muito mais hoje do que nós anos anteriores! ciência sempre foi algo para poucos, a algumas decadas atras mal existia financiamento, e cá no brasil mal existia ciência! o que acontece como muitos ja disseram por aqui é que a forma de interação ficou diluída com o facebook, eu mesmo publico imagens e textinhos curtos em forma de postagem no meu perfil pessoal, e atinge um bocado de gente, talvez mais do que se publicasse no blog. Minha "desculpa" é que antes estava com poucas disciplinas da faculdade e trabalhava somente no IC, agora me formei dou aulas em duas escolas e etc, daí como ja divulgo por aqui alguns textos, links e imagens, meio que dá uma desmotivação sim, entrar no wordpress, senha, colocar imagem e editar texto (e é preguiça mesmo, mas que logo vai ter de sumir por que o plano é voltar com maior periodicidade no blog)...bom esses são meus 2 cents por enquanto, mas digo-lhes que o negócio é continuar escrevendo, por que sim, não foi o interesse que diminuiu dos leitores 

Catarina Chagas Trabalho com jornalismo científico. Já tive blog, mas não de ciência. Se valer como testemunho pessoal, deixei de atualizar porque (ó, vida!) deixei de ter tempo, como tantos outros já disseram aí.

Meu blog tinha alguns leitores cativos e alguns visi
tantes, mas nunca decolou e acredito que o motivo seja simples: nunca foi feito para os leitores. Meu blog era feito para mim - para guardar lembranças, compartilhar fotos e textos com amigos, dar notícias à família.

De alguma forma, acho que essa reflexão também poderia ser transposta para a discussão sobre os blogs de ciência. Para quem são feitos? Alguém foi lá perguntar para o público-alvo o que ele queria?

Um tempo atrás li em algum blog (deve ser de um de vocês, acompanho a maioria e peço desculpas por não saber a referência certinha) que a maioria dos blogs de ciência era lida por outros cientistas/blogueiros de ciência. Procede?


Catarina Chagas Em tempo: eu não acho que as pessoas têm que fazer tudo para um público. Acho que elas podem (e devem, e eu mesma fiz) fazer blogs para elas mesmas, mas nesses casos não dá para esperar grandes retornos...

Discussão no Grupo Divulgação Científica e Popularização da Ciência
Dirceu Dias Em um passado não muito distante, coisa de 3 anos iniciei alguns passos em blogue e logo depois acabei desistindo. A desistência se deu em função de tempo. Hoje estou no facebook e considero a ferramenta mais ágil e mais fácil de se manter.

Roberto Belisário É, isso acontece com uma montanha de gente. Eu comentei o seguinte com a Tatiana Nahas: "Parece que blogueiros de ciência têm prazo de validade. Em algum momento o ritmo cai. Até aí tudo bem. Assim são os blogs amadores. Porém, se isso está tendo reflexo na produtividade média dos blogs de ciência brasileiros, é porque não surgiram blogs novos, com blogueiros ainda "dentro do prazo de validade". A questão é: por quê."

Dirceu Dias Essa é uma boa questão. Merece ser investigada. Talvez outra questão esteja vinculada a sua questão. Como "nasce" um divulgador da ciência?

Roberto Belisário Os que eu vi, nasceram do incômodo e do tesão em explicar coisas para leigos. São pessoas que sentiram uma vontade de divulgar suficientemente intensa para fazê-los tomar as rédeas e virarem divulgadores. Eu, incluso. 

Aí tem o caminho das pedras, que
 caminho alguém que tem vontade de se meter com isso profissionalmente poderia fazer. Há os cursos de jornalismo científico, como os do Labjor/Unicamp. Mas acho que a melhor maneira é meter as caras. Escrever seus próprios blogs, facebucar, tuitar, fuçar fontes alternativas, aprender, conversar com gente. Dar vazão ao incômodo e à vontade. É impressionante as consequências que posts em blogs podem ter. A gente os deixa dependurados na Internet e algum tempo depois alguém nos procura com uma oportunidade.


Outros:
Como blogueiro de ciências vejo que realmente é difícil escrever sobre ciências. Qualquer tema (por mais simples que seja) merece uma boa pesquisa e um certo tempo de dedicação. Embora receber por escrever seja uma boa ideia (já que manter um site realmente gasta e ter pelo menos isso pago seria de grande ajuda), o maior problema é, de fato, o tempo disponível. Estou no fim da graduação e com planos futuros que acabam competindo pela atenção que o blog necessita.

Embora não tenha 'respondido' diretamente ao Takata, que começou com esse tipo de questão em seu blog, realmente o maior problema é a falta de tempo em sentar na frente do PC, pensar num tema bacana e escrever, pesquisar, descobrir que não sabia nada no assunto, pesquisar, pesquisar, escrever, achar imagens (de preferência em CC), ver se está certo, publicar. Não é nada fácil.

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