Lives de Ciência

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quinta-feira, 30 de março de 2017

Divulgação científica = garoto de recados?

Nem ia comentar sobre a publicação pela Rádio USP/Jornal USP de matéria do jornalista Ciro Marcondes Filho, professor da ECA/USP, requentando desinformação a respeito do piriproxifem e microcefalia. O máximo que fiz foi atualizar uma das postagens em que analisava a indagações a respeito do composto e da formulação Sumilarv. O Jornal da USP deu espaço para o texto de contestação feita pelo imunologista Jean Pierre Schatzmann Peron, professor do ICB/USP e membro da Rede Zika. Esse texto originalmente foi publicado no Café na Bancada. Na página com a reprodução da coluna de Marcondes, o Jornal da USP apensou também manifestações de algumas pessoas - a maioria da comunidade uspiana - rebatendo e criticando o teor original.

O que me chamou atenção, no entanto, foi a resposta do Professor Marcondes a essas críticas. Diz ele:

"Convém reforçar que o trabalho da divulgação científica é chamar a atenção da sociedade para questões emergentes e atuais. Ela apenas repassa aquilo que preocupa os cientistas e que pode ter, por isso, efeitos sociais maiores. Não lhe cabe discutir se a constatação, no caso, da associação argentina de médicos, é justa ou não; essa tarefa é da Academia, a quem compete, em fóruns próprios, apresentar as demonstrações em contrário."

Com todo o respeito profissional que o jornalista mereça, aqui tenho que discordar fortemente. O trabalho do divulgador de ciências não é apenas repassar a preocupação dos cientistas. Cabe, sim, ao divulgador estar capacitado para discutir as alegações; ou, no mínimo, então, trazer a visão corrente das ciências, p.e., entrevistando pesquisadores confiáveis (que pesquisem o tema e, preferencialmente, que tenham uma boa reputação acadêmica - podem até eventualmente serem relativamente desconhecidos; mas certamente deve se evitar aqueles que têm uma reputação ruim por publicar trabalhos metodologicamente falhos ou, pior, por fabricar dados ou forçar conclusões que não se sustentam nas observações disponíveis).

No caso em questão há duas agravantes: a primeira é que é um tema requentado. Já tem todo um ano em que inicialmente o questionamento veio à tona e houve toda uma discussão e contra-argumentações, inclusive com dados novos confirmando a relativa segurança do composto (e mais, o autor ignorou as publicações com resultados que indicam claramente que o ZIKV está envolvido causalmente na microcefalia das crianças afetadas). E, em segundo lugar, o autor dá como fonte um sítio web de reputação duvidosa, conhecido como sensacionalista e pouco zeloso na apuração dos fatos - se é que faz alguma (poderia pelo menos haver se baseado no próprio relatório da Reduas, organização argentina que alegou problemas com o piriproxifem).

Já discuti aqui no GR, o papel (ou, antes, os papéis) da DC: como watchdog e como relações públicas das ciências. Trazer irrefletidamente como boa ciência uma alegação sem fundamento não cumpre nem um nem outro papel. É perdoável cair em erros por confiar em fontes reputadas, no consenso científico, na ciência mainstream: que não são infalíveis, mas têm mecanismos para diminuir as chances de falhas e, principalmente, de corrigir as falhas. Mas já é meio forçar a amizade republicar sem analisar mais detidamente alegações de fontes marginais, que desafiam o que é bem estabelecido em ciências: quase nunca têm esses mecanismos de correção e checagem (não vão às fontes originais, não estudam a metodologia, não perguntam para profissionais da área se as alegações fazem sentido...)

Se é verdade que, como diz Marcondes, um dos papéis da DC é de "chamar a atenção da sociedade para questões emergentes e atuais"; o divulgador deve trazer questões que realmente são emergentes e atuais. Isto é, há um julgamento do divulgador sobre o que é um tema emergente e atual. Não é um simples garoto de recados que repassa o que quer que lhe ponham em mãos; cabe analisar se a pretensa informação é realmente candente, é realmente importante, é realmente relevante, é realmente um questionamento válido.

E, se questionado a respeito da candência, da importância, da relevância e, mais do que tudo, da validade da informação, o divulgador haverá de ou admitir o erro (todo mundo erra às vezes) ou colocar a sua apuração* sobre a candência, importância, relevância e validade na mesa, defendendo-se com base nos elementos apurados. E não com base em jogar a batata quente pra outrem (no caso, a Academia) e lavar as próprias mãos. O que piora é que a Academia *havia* feito sua parte e, nos fóruns próprios (i.e. em artigos publicados em revistas com revisão por pares e indexadas), apresentado demonstrações em contrário (Albuquerque et al. 2016 -  os autores analisaram a incidência de microcefalia em cidades pernambucanas e não encontraram correlação com uso de piriproxifem, e Dzieciolowska et al. 2017 - em que não obtiveram alterações do tamanho cerebral ou do padrão de expressão gênica no órgão em larvas de peixe paulistinha). Embora na verdade o ônus da prova coubesse a quem alega: deve, antes, haver uma demonstração em fórum próprio da possibilidade de ligação entre o composto e a má formação (a bem da verdade, até houve alguns artigos em defesa da tese, como o de Truong et al. 2016, que detectaram efeito neurotóxico do piriproxifem em larvas de peixe paulistinha, mas em contrações muito acima das utilizadas na profilaxia contra mosquitos).

*Obs: A ausência de apuração adequada se constata em vários pontos:
1) A própria publicação da nota com a desinformação;
2) A publicação *um ano depois* do caso já ser discutido;
3) A ausência de contraponto como as contestações científicas em artigos publicados;
4) O fato de ter que publicar uma errata a respeito da ligação (que não há) da Monsanto com o larvicida;
5) Não ser o primeiro caso de publicação de alegações sem base e sensacionalistas:
6) Uso de fontes inadequadas (no caso, um site sensacionalista).

Veja também o que a DCsfera anda falando sobre o tema:
Jean Pierre Schatzmann Peron/Café na Bancada. 21.mar.2017: Mitos desmistificados! Piriproxifeno e a microcefalia.
Carlos Orsi. 23.mar.2017:  O baixo-ventre da divulgação científica.

domingo, 19 de março de 2017

Como é que é? - Vitamina C causa câncer?

Resposta curta: Não.
Resposta menos curta: Tanto quanto podemos saber vitamina C é *segura*. *Não* causa câncer (mas tampouco cura, e talvez diminua o risco de alguns).

Resposta longa abaixo.
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Noticiário a respeito de uma recente operação da polícia federal contra corrupção envolvendo grande frigoríficos brasileiros tem trazido alegação de que o ácido ascórbico - a vitamina C - foi utilizado para adulterar carne velha e estragada a fim de vendê-la como estando ainda em condições para consumo humano e que altas doses do composto seria cancerígeno*.

As informações a seguir foram tomadas da revisão sobre os efeitos da vitamina C (aka. ácido ascórbico) na saúde humana feita por Naidu (2003) e de outra por Grosso et al. (2013) (esta última revisão inclui análises apenas dos potenciais benefícios da vitamina C à saúde humana; a de Naidu examina também potenciais efeitos negativos).

De fato, em experimentos in vitro, isto é, com culturas de células, o fornecimento de ácido ascórbico na presença de ferro levou à formação de radicais oxidantes, como o ânion hidroxílico, que pode oxidar e danificar proteínas, lipídios e ADN. Porém, in vivo, isto é, nos organismos íntegros, *não* foi detectado nenhum efeito pró-oxidativo, quer na presença, quer na ausência de ferro, da suplementação com vitamina C. Igualmente *não* há bons indícios de que hiperdosagens de vitamina C cause cálculos renais, as pedras nos rins.

Bom dizer que um efeito mais propalado (diametralmente oposto da alegação veiculada agora): de proteger contra o câncer, tampouco é bem estabelecido (apenas para o caso de câncer de estômago, a vitamina C parece ter algum efeito preventivo). Uma das alegações mais conhecidas a respeito do efeito da vitamina C: de prevenir gripe, também não tem base nos dados - no máximo, e de modo bem marginal, ajuda a abreviar a duração dos sintomas da gripe (algo como 6 dias em vez da média de 7).

Naidu conclui:
"Ascorbic acid is one of the important and essential vitamins for human health. It is needed for many physiological functions in human biology. Fresh fruits, vegetables and also synthetic tablets supplement the ascorbic acid requirement of the body. However, stress, smoking, infections and burns deplete the ascorbic acid reserves in the body and demands higher doses of ascorbic acid supplementation. Based on available biochemical, clinical and epidemiological studies, the current RDA for ascorbic acid is suggested to be 100–120 mg/day to achieve cellular saturation and optimum risk reduction of heart diseases, stroke and cancer in healthy individuals. In view of its antioxidant property, ascorbic acid and its derivatives are widely used as preservatives in food industry. Many health benefits have been attributed to ascorbic acid namely antioxidant, anti-atherogenic and anti-carcinogenic activity. Lately some of these beneficial effects of ascorbic acid are contradicted. The relation between ascorbic acid and cancer is still a debatable as the molecular mechanism underlying anti-carcinogenic activity of ascorbic acid is not clearly elucidated. Regarding the pro-oxidant activity of vitamin C in presence of iron, there is compelling evidence for antioxidant protection of lipids by ascorbic acid both with and without iron co-supplementation in animals and humans. Current evidences also suggest that ascorbic acid protects against atherogenesis by inhibiting LDL oxidation. The data on vitamin C and DNA damage are conflicting and inconsistent. However, more mechanistic and human in vivo studies are warranted to establish the beneficial claims on ascorbic acid. Thus, though ascorbic acid was discovered in 17th century, the role of this important vitamin in human health and disease still remains a mystery in view of many beneficial claims and contradictions."
["O ácido ascórbico é uma das vitaminas mais importantes e essenciais à saúde humana. Na verdade, para várias funções fisiológicas da biologia humana. Frutas e vegetais frescos bem como pastilhas sintéticas suplementam o ácido ascórbico requerido pelo corpo humano. No entanto, fumo, infecções e queimaduras depletam as reservas de ácido ascórbico no corpo e demandam um dose mais alta de suplementação de ácido ascórbico. Baseado em estudos bioquímicos, clínicos e epidemiológicos disponíveis, a DDR (dose diária recomendada) para o ácido ascórbico é sugerido como 100-120 mg/dia para atingir a saturação celular e uma redução ótima do risco de doenças cardíacas, derrame e câncer em indivíduos sadios. Em vista de suas propriedades antioxidantes, o ácido ascórbico e seus derivados são amplamente usados como conservantes na indústria de alimentos. Muitos benefícios à saúde foram atribuídos ao ácido ascórbico: atividades antioxidantes, antiaterogênicas e anticancerígenas. Recentemente, alguns desses efeitos benéficos do ácido ascórbico foram contestados. A relação entre o ácido ascórbico e o câncer ainda é discutível porque o mecanismo molecular subjacente à atividade anticarcinogênica do ácido ascórbico não é ainda claramente elucidado. Em relação à atividade pró-oxidativa da vitamina C na presença de ferro, há evidência convincente de proteção antioxidativa de lipídios pelo ácido ascórbico tanto com como sem co-suplementação de ferro em animais e humanos. Indícios atuais também sugerem que o ácido ascórbico protege contra a aterogênese inibindo a oxidação do LDL (colesterol de baixa densidade). Os dados sobre vitamina C e dano ao ADN são conflitantes e inconsistentes. No entanto, mais estudos do mecanismo e em humanos estão garantidos para estabelecer as alegações de benefícios do ácido ascórbico. Assim, embora o ácido ascórbico tenha sido descoberto no século 17, o papel dessa importante vitamina na saúde humana e nas doenças ainda é um mistério em vista de muitas alegações e contestações de benefícios."]

Já Grosso et al. concluem:
"This review attempts to summarize recent and well established advances in vitamin C research and its clinical implications. Since vitamin C has the potential to counteract inflammation and subsequent oxidative damage that play a major role in the initiation and progression of several chronic and acute diseases, it represents a practical tool to administer in humans for the early prevention of such pathologic conditions. However, many of such well-known beneficial effects of vitamin C intake are still only understood at the phenomenological level and further research is needed to explore the precise effects of ascorbate in physiological systems and in the pathology of diseases at the molecular level. A better understanding of the mechanisms of its action is of major importance in order to define novel potential therapeutic implications regarding vitamin C."
["Esta revisão procura sumarizar os avanços recentes e bem estabelecidos na pesquisa sobre vitamina C e suas implicações clínicas. Como a vitamina C tem o potencial de neutralizar a inflamação e o dano oxidativo subsequente que têm um importante papel na iniciação e progressão de várias doenças crônicas e agudas, ela representa uma ferramenta prática para administrar em humanos na prevenção precoce de tais condições patológicas. No entanto, muitos desses efeitos benéficos bem conhecidos da ingestão de vitamina C são compreendidos apenas no nível fenomenológico e mais pesquisa é necessária para explorar os efeitos exatos do ascorbato em sistemas fisiológicos e na patologia dessas doenças em nível molecular. Uma melhor compreensão dos mecanismos de sua atuação é de grande importância a fim de definir novas implicações terapêuticas potenciais em relação à vitamina C."]

Particularmente em relação ao câncer, os autores pontuam:
"Due to the controversy of results on the vitamin C-cancer correlation and lack of validated mechanistic basis for its therapeutic action, further research is needed to determine the feasibility of using vitamin C in clinical treatment or prevention of cancer."
["Devido à controvérsia dos resultados sobre a correlação vitamina C-câncer e à falta de mecanismos validados para sua ação terapêutica, mais pesquisas são necessárias para determinar a viabilidade de se usar a vitamina C em tratamento clínico ou na prevenção do câncer."]

Uma meta-análise (Lee et al. 2015) de 758 estudos concluiu não haver nenhum efeito preventivo do uso de suplementos de vitamina C contra o câncer. E, como o risco relativo foi 1,00 (0,95-1,05), tampouco encontrou-se algum efeito indutor de câncer de suplementos de vitamina C. Meta-análises menores, incluindo 10 a 20 estudos cada, encontram um efeito protetivo da ingestão da vitamina C contra determinados tipos de cânceres: de esôfago (Yacong et al. 2016), de pulmão (Luo et al. 2014), de pâncreas (Hua et al. 2015), neoplasia cervical (Dan et al. 2016), glioma (Zhou et al. 2015), de próstata (Xiao-Yan et al. 2015). [Chama a atenção o fato de todas essas meta-análises menores serem de grupos chineses. Não obstante o fato de alguns deles terem sido publicados em revistas reputadas, há que se levar em conta o alerta que um grupo de pesquisadores, chineses, faz no estudo cujo título é bastante claro: "The quality of evidence in Chinese meta-analyses needs to be improved" ["A qualidade dos indícios nas meta-análises chinesas precisa ser melhorada"] (Yao et al. 2016).]

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*Alguns exemplos:
R7. "Excesso de ácido ascórbico (vitamina C) utilizado para 'maquiar' carne podre pode provocar câncer, diz especialista" e depois com o título modificado para: "Excesso de ácido ascórbico utilizado em carne podre favorece formação de pedras nos rins e, possivelmente, câncer"
- Em grandes quantidades, o ácido ascórbico pode acarretar cálculo renal e até câncer "

Aparentemente parte da imprensa reproduziu sem verificar a alegação constante no termo pedido de prisão preventiva emitida pela Justiça para a operação, em que consta: "a 'maquiagem' de carnes estragadas com a substância cancerígena ácido ascórbico".

Upideite(19/mar/2017): Vale dar uma conferida na reportagem do UOL: "Produtos usados pelos frigoríficos na carne estragada fazem mal à saúde?"

Upideite(19/mar/2017): Em relação ao ácido sórbico (não confundir com ácido ascórbico, a vitamina C, é outro composto mencionado como usado para a fraude), experimentos in vitro com linfócitos humanos, demonstraram um efeito genotóxico (isto é, que causa alguma alteração nos genes ou nos cromossomos) a partir de uma concentração de 125 μg/ml de sorbato de potássio (um sal do ácido sórbico) (Mamur et al. 2010). Em uma criança de 10 kg, isso corresponderia a um consumo de 1,5 g circulando em seu corpo. Gaunt et al. (1975) com experimentos in vivo não encontrou nenhum efeito tóxico nem carcinogênico em ratos (48 machos e 48 fêmeas) alimentados com dieta acrescidas de ácido ascórbico na proporção de até 10% em massa do alimento durante 2 anos (o que significou uma ingestão de algo em torno de 2 g/dia por rato: ou algo entre 2,5 e 20 g/kg de massa corporal).

Upideite(21/mar/2017): Carlos Orsi, nos comentários, cita revisão sistemática de 78 estudos da Colaboração Cochrane (2012) sobre o efeito da suplementação de antioxidantes na saúde humana: beta-caroteno, vitamina A, vitamina C, vitamina E e selênio. Nenhum parece apresentar efeito de prevenção de doenças gastrointestinais, neurológicas, oculares, de pele, reumatóides, renais, hormonais e outras. Na verdade, beta-caroteno e vitamina E (e talvez a vitamina A, derivada do beta-caroteno) - compostos lipossolúveis - parecem *aumentar* a mortalidade. Nenhum efeito foi observado para vitamina C e selênio - nem preventivo nem deletério.

domingo, 12 de março de 2017

Divagação científica - divulgando ciências cientificamente 29

Minhas anotações do trabalho de Sumner et al. 2016 sobre uma das origens do sensacionalismo na cobertura de trabalhos sobre saúde.

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Sumner P, Vivian-Griffiths S, Boivin J, Williams A, Bott L, Adams R, et al. 2016. Exaggerations and Caveats in Press Releases and Health-Related Science News. PLoS ONE 11(12): e0168217. doi:10.1371/journal.pone.0168217

534 press-releases (comunicado de imprensa) de pesquisas biomédicas e de saúde de trabalhos publicados em revistas científicas líderes foram analisados, bem como os 534 trabalhos a que os press-releases se referem e 582 notícias da imprensa britânica a respeito dos artigos publicadas durante o ano de 2011.

Os press-releases foram coletados de repositórios de acesso aberto ao público (como EurekAlert) ou somente para jornalistas.

Os artigos analisados foram publicados nos seguintes periódicos: BMJ, Science, Nature, Nature Neuroscience, Nature Immunology, Nature Medicine, Nature Genetics.

Os textos noticiosos foram buscados no banco de dados Nexis, do Google, do site da BBC (www.bbc.co.uk) e da Reuters (uk.reuters.com).

As análises dos textos dos artigos, press-releases e nos jornais focaram quando a conselhos de saúde dados (sem conselho, conselho implícito, explícito mas não para os leitores ou para o público em geral, e conselhos explícitos para os leitores ou para o público geral), alegações causais (sem alegações, afirmação de ausência de relação, correlacional, ambígua, causação condicional, de que pode causar, e alegação de causa e efeito) e conclusões baseadas em pesquisa com humanos ou com sistemas não-humanos (frases indicando que a pesquisa foi realizada: explicitamente em sistemas não humanos como animais, células ou simulações; implicitamente em humanos; explicitamente em humanos). Outra característica analisada é se havia ressalvas ou justificativas.

Frequência de exageros
Conselhos
23% (IC: 17~28%) dos press-releases exageravam nos conselhos presentes nos artigos (conselhos mais diretos ou explícitos do que os sugeridos no trabalho científico).
Causação
21% (15~27%) dos press-releases de artigos correlacionais exageravam na alegação de causação.

Em trabalho anterior do grupo, press-releases das universidades apresentaram índices de exageração mais altos: 40% (33~46%) e 33% (26~40%), respectivamente. (Como as análises são realizadas somente comparando-se alegações feitas explicitamente e não entre as alegações e o que os próprios dados dizem, é possível que o nível de exagero real seja mais baixo do que o detectado: o exagero estaria já nos próprios artigos científicos.)

Exagero do press-release e na notícia
Houve uma forte associação entre o exagero no press-release o exagero na notícia.
Conselhos
27% (22~33%) das notícias exageraram no conselho em relação ao artigo e a probabilidade de ocorrer esse exagero era 2,4 (1,3~4,5) vezes maior quando o press-release também exagerava (46%, IC:32~60%) do que quando não (25%, 19~31%).
Causação
Nos casos de afirmações de correlação, 38% (27~51%) exageravam a causação e a probabilidade era 10,9 (3,9~30,1) vezes maior disso ocorrer quando havia (80%, 63~91%) exagero no press-release do que quando não havia (26%, 18~38%). Padrão similar ao encontrado em outro estudo com press-release de universidades.

Exagero e cobertura
Não houve uma maior cobertura midiática de artigos com press-release exagerados.
Conselhos
53% dos press-releases sem exagero nos conselhos tiveram os estudos noticiados, contra 34% dos press-releases com exagero (diferença de -19%, -5~-34%); a média de artigos noticiosos a respeito de trabalhos com press-releases sem exagero foi de 3,5 notícias, contra uma média 3,0 notícias de press-releases exagerados (IC: -1,5~0,6).
Causação
No exagero de causação, 49% dos press-releases sem exagero foram noticiados, contra 66% dos exagerados (17%, -1~35%); 3,1 notícias cobriram estudos com press-releases sem exageros sobre causas, contra 3,0 de press-releases que cometiam exagero (-1.2~1.2).

A ausência de associação entre exagero do press-release e cobertura da imprensa também espelhou estudo anterior com press-releases de universidades.

Ressalvas ('caveats')
Conselhos
15% dos press-releases apresentavam ressalvas quanto aos conselhos.
Causação
14% continham ressalvas quando às correlações.

Ressalvas nos press-releases e cobertura noticiosa
Não foi encontrado nenhuma relação entre a presença de ressalvas e a cobertura noticiosa.
Conselhos
Foram noticiados 48% dos press-releases com ressalvas quanto ao conselho contra 56% dos sem ressalvas (-28~12%).
Causação
63% dos press-releases com ressalvas quanto à causação foram noticiados, contra 47% dos sem ressalvas (3%~29%).

Ressalvas nas notícias
Conselhos
14% das notícias continham ressalvas quanto aos conselhos.
Causação
18% das notícias continham ressalvas quanto às correlações.

Ressalvas nos press-releases e nas notícias
A presença de ressalvas nos press-releases aumentam as chances de as notícias reportarem essas ressalvas
Conselhos
A probabilidade de haver ressalvas sobre conselhos nas notícias era 9,5 (2,8~32) vezes maior quando o press-release continham ressalvas (47%, 20~74%) do que quando não tinha (8.5%, 4,4~13%).
Causação
A probabilidade de haver ressalvas quanto à causação foi 7,6 (4,2~14) vezes maior quando o press-release fazia a ressalva (46%, 35~57%) do que quando não (10%, 6,5~13%).

Não se encontrou associação entre ressalvas e maior ou menor exageros nas notícias.

Justificativas
Conselhos
A jusrtificativa para os conselhos estive presente em 10% dos press-releases.
Causação
A justificativa para afirmações sobre causalidade ou correlação foi apresentada em 21% dos press-releases.

Justificativas e cobertura midiática
Não houve uma relação entre a presença de justificativas nos press-releases e a cobertura midiática.
Conselhos
74% dos press-releases com justificativas para os conselhos foram noticiados contra 53% dos press-releases sem justificação. (-2~41%)
Causação
43% dos press-releases com justificativas para as afirmações sobre correlações e causas foram noticiados contra 54% dos sem justificativas. (-15~2%)

Justificativas nas notícias
Conselhos
16% das notícias apresentavam justificativas quanto aos conselhos.
Causação
13% das notícias apresentavam justificativas quanto às afirmações de causação.

Justificativas no press-release e e nas notícias
A presença de justificativas nos press-releases aumentou a presença delas nas notícias.
Conselhos
As chances de se noticiarem as justificativas dos conselhos foram 6,1 (2,0~18) vezes maiores quando o press-release trazia justificativa (42%, 19~66%) do que quando não trazia (11%, 5,5~16%).
Causação
As chances de se noticiarem as justificativas das afirmações de causa foram 23 (11~50) vezes mais altas quando o press-release justificava (48%, 34~64%) do que quando não justificava (3.8%, 1,8%~5,8%).

A presença de justificativas sobre conselhos foi associada com notícias que exageravam os conselhos. Por outro lado, a de sobre causa e efeito foram foi associada com notícias que não exageravam, trazendo alertas de cautela.

via Dayane Machado fb.

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