Enviei o email abaixo ao Observatório da Imprensa
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O papel do CO2 nas mudanças climáticas
De: Roberto Takata (rmtakata@xxxx)
Enviada: terça-feira, 20 de outubro de 2009 9:57:23
Para: canaldoleitor@xxx
Prezados Senhores,
Tendo em vista o artigo "A MÍDIA E O CO2: Toda unanimidade é burra publicado"[0] no Observatório da Imprensa, gostaria de informar que há nela um grande número de erros fatuais e de interpretação.
Seria trabalhoso listar todos, abaixo relaciono alguns:
1) Não existe a tal "camada de gases de efeito estufa". Os gases de efeito estufa distribuem-se, por efeito da dinâmica da atmosfera, mais ou menos uniformemente por toda a troposfera. Exceção é o ozônio - que se forma pela ação dos raios UV sobre moléculas de O2 - que se concentra na chamada camada de ozônio.
2) De fato o elemento carbono é essencial à vida como a conhecemos. O que isso tem a ver com o caso não consigo pensar. Se é uma sugestão de que, por ser esencial à vida, então qualquer composto que o contenha pode estar presente em qualquer quantidade que será boa à vida, então é algo totalmente errado: basta pensar que o CO2 em excesso acidifica o sangue - situação conhecida como hipercapnia - sendo bastante danoso à saúde.
3) De fato, se não houvesse efeito estufa algum, a vida na Terra não seria possível. Novamente, não sei a que lugar se quer chegar. Se for uma sugestão de que qualquer nível de efeito estufa será benéfico, basta pensar no forno que é o planeta Vênus com seus mais de 460oC de temperatura superficial média.
4) De fato, o CO2 perfaz apenas cerca de 0,3% da troposfera em massa. Ocorre que nem o N2, nem o O2 - principais componentes - apresentam efeito significativo ao aquecimento global, além de suas concentrações permanecerem essencialmente inalteradas. O fato da concentração de CO2 ser pequena, *não* quer dizer que seu efeito seja insignificante. Ao contrário, não fora esses 0,3% de CO2, a temperatura superficial média da Terra seria muito abaixa: sem os chamados gases estufa, a temperatura média do planeta seria de -18oC e não de +14oC. [1]
5) Fazendo uma conta simples: se 60% do carbono é capturado pelas algas e 40% pelas florestas, teremos 100% de captura de CO2 e não deveríamos detectar aumento de sua concentração na troposfera. Mas detectamos um aumento acentuado em sua concentração: desde 1960, subiu de cerca de 315 partes por milhão (ppm) para cerca de 380 ppm - os tais 20% não em 200 anos, mas em pouco mais de 40 anos. [2]
6) De fato, se não houvesse CO2 não haveria fotossíntese. Mas, mais uma vez, não sei aonde se quer chegar isso. Se se sugere que então qualquer nível de CO2 é bom, novamente lembro a questão da hipercania, p.e.
7) Se 50% do C está fixado na biomassa e 50% no solo, novamente temos 100% de C. Então não haveria nem CO2 na atmosfera, nem haveria hidrocarbonetos, nem seres vivos que não fossem árvores. Mas de todo modo, uma das preocupações principais é exatamente com o desmatamento, que mobilizaria o C fixado na biomassa das plantas.
8) É fatualmente errado dizer que o CO2 na atmosfera está concentrado sobre as cidades e regiões de queimadas. O que ocorre é que ali, a concentração de CO2 é maior, mas não significa que a maior parte do CO2 da troposfera está ali - do contrário, teríamos um ar realmente irrespirável nas cidades. Basta pensar que as cidades ocupam uma área de cerca de 1,2% do total da superfície da Terra [3], significaria que (considerando-se uma espessura mais ou menos uniforme da troposfera) que os 0,3% do CO2 estariam em 1,2% da troposfera. Se assim fosse, a concentração de CO2 no ar das cidades seria de 25%! Uma mistura gasosa com 5% de CO2 é considerada tóxica.
9) "O CO2 não esquenta nada". Se não fossem os gases estufa, como dito, a temperatura média da superfície do globo não seria de 14oC positivos como hoje, mas de 18oC negativos. [1]
10) Ninguém afirmou que o CO2 é a causa única do aquecimento global. E sim que o aumento de sua concentração é um dos componentes principais.
Mas o artigo não é todo demeritório. A necessidade de uso racional de solos e recuperação de áreas degradadas são importantes, não apenas na questão das mudanças climáticas. Na verdade, em relação ao aquecimento global, estudos têm indicado que a conversão de áreas tem um efeito de *resfriamento* - basicamente pelo aumento no albedo [4a,b].
A respeito do aquecimento global antropogênico, escrevi em meu blogue um texto em três partes, mostrando os indícios que suportam essa hipótese [5a,b,c].
[0] http://observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?msg=ok&cod=559JDB005&#c
[1] http://lwf.ncdc.noaa.gov/oa/climate/globalwarming.html#q1
[2] http://www.mlo.noaa.gov/programs/coop/scripps/co2/co2.html
[3] http://www.energy.ca.gov/2008publications/CEC-999-2008-020/CEC-999-2008-020.PDF
[4a] http://climate.uvic.ca/people/katrin/DamonGRL.pdf
[4b] http://ams.allenpress.com/archive/1520-0442/16/10/pdf/i1520-0442-16-10-1511.pdf
[5a] http://genereporter.blogspot.com/2009/04/aquecimento-global-parte-1-de-3.html
[5b] http://genereporter.blogspot.com/2009/09/aquecimento-global-parte-2-de-3.html
[5c] http://genereporter.blogspot.com/2009/10/aquecimento-global-parte-3-de-3.html
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[]s,
Roberto Takata
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Novamente, há vários erros de português que notei depois. Publiquei acima sem correções.
Upideite(30/10/2009): O texto foi publicado no Observatório. (Leiam também os comentários - não só os desta postagem, como os do texto no OI - Upideite(05/nov/2009).)
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4 comentários:
Dá-lhe, Roberto! Muito bom esse teu e-mail!
Sabe que eu estava no Congresso Brasileiro de Jornalismo Científico semana passada e achei bem interessante o fato de a ABJC ter convidado um dos cientistas que contestam a ação antrópica no aquecimento global, o Luiz Carlos Molion, da UFAL, para palestrar. Pena que eles não fizeram o serviço completo e chamaram alguém do "outro time" para compor a mesma mesa e propiciar um debate genuíno. Isso sim seria ótimo de ver em uma platéia repleta de jornalistas científicos...
Mas veio só o "do contra". Ainda bem que na platéia estava Thomas Lewinsohn, que havia palestrado há pouco e por lá ficou. Ao menos ele perguntou, embora bem polidamente e visivelmente sem intenção alguma de criar um embate, a que o Molion atribuía a disseminação dos dados apresentados pelo IPCC. Sabe qual foi a resposta? Que ele está certo de tratar-se de uma conspiração do G7 para interferir no desenvolvimento de países em desenvolvimento, já que não há sequer aquecimento global, que dirá ação antrópica.
Senti falta de vc por lá, Roberto! E voltar e ler teus dois últimos foi um reforço dessa sensação.
Vou acompanhar de perto mas esse teu "embate"! Na torcida para que do outro lado haja algum jornalista reflexivo, que avalie as colocações, publique um resposta se não com correções, ao menos com contra-argumentações etc. Mas talvez seja melhor esperar sentada, não?
Oi, Tati,
Bem, se eu participasse de um debate desses, eu seria trucidado sem dó nem piedade.
Não sou especialista no tema, além disso os negacionistas costumam ter uma retórica bastante aguçada.
Pena que não estavam lá o Cláudio Ângelo e/ou o Marcelo Leite - eles sim desmontariam os argumentos do Dr. Molion com as duas mãos nas costas.
Conspiração do G7 é ótima. Os EUA conspiraram tão bem que se *recusavam* (e ainda se recusam, mesmo com Obama) a seguir Quioto.
[]s,
Roberto Takata
Eu quis dizer que senti falta de vc na plateia enchendo o cara de perguntas :)
Mas... roubei tua resposta pro meu post: http://ciencianamidia.wordpress.com/2009/10/21/mudancas-climaticas-na-midia/
Ah! Tá. Mas eu só pentelho quem tenho certeza q não vai pular no meu pescoço depois. : )
[]s,
Roberto Takata
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