Farei um compilado (que não se pretende compreensivo nem representativo, apenas o que apareceu na minha TL) aqui da discussão que se seguiu no twitter em função da exortação aos cientistas para fazerem divulgação científica reproduzida a seguir (coloquei o link para o primeiro tweet quando normalmente os participantes fizeram uma thread - também encadeei tweets que, na verdade, eram respostas a outros comentários ao tweet inicial):
"Não vou me meter em treta dessa vez, mas reforçar algo que sempre falo. Se você é cientistas e principalmente trabalha em uma universidade pública. Você tem mais do que obrigação de virar youtuber e popularizar o seu conhecimento.
A universidade pública é baseada em três pilares - ENSINO, PEQUISA E EXTENSÃO. Virar youtuber é uma metáfora para fazer popular ciência e tecnologia, pois rolou aqui no meu feed uma discussão de que cientista não pode ser youtuber, mas deve ficar dentro do laboratório
Você não precisa estar no youtube para fazer extensão. Mas em tempos de pandemia, me mostra outra forma mais democrática de popularizar o seu conhecimento."
Depois de alguns comentários e respostas, ela complementou:
"Galera, posso ter me expressado mal. O que eu quero dizer é que o conhecimento que nós cientistas obtemos em nossas vidas deve ser popularizado, acessível para o máximo de pessoas possível. Sei bem das dificuldades de tornar esse conhecimento acessível,
eu mesma sofro demais com isso e estou engatinhando no Youtube, por exemplo. O post era mais com uma intenção de incentivo, não de obrigação. Peço desculpas se eu dei a entender errado, não era minha intenção."
Algumas respostas:
"Eu sou pesquisadora e edito uma revista de divulgação científica. Se tem uma obrigação que o professor **não** tem é a de virar Youtuber. Divulgação científica dá um trabalhão, não é td mundo que sabe fazer ou tem vontade. E extensão vai muuuuito além de popularização da ciência.
"Não acho que seja obrigatório. Obrigatório é dar aula, fazer pesquisa e extensão. Eu acho que a pessoa tem que ter abertura para fazer o trabalho chegar ao público, mas isso se resolve fortalecendo a equipe de comunicação da instituição.
tem gente que não quer e/ou não sabe mesmo. acaba até fazendo mal pra área uma divulgação tosca ou mal feita. quem estuda como se comunicar com não-especialista e tem essa obrigação é o cara que faz comunicação.
meu ponto é que quem puder, blz. acho até que a Capes podia dar uns pontos pra programas de pós que tenham projetos de DC. minha questão é com a obrigatoriedade. não tá no job description da profissão de pesquisador. vc consegue ser um excelente pesquisador sem ter projetos de DC"
"Sobre a polêmica da suposta obrigação do professor-pesquisador fazer divulgação científica (DC) (entendendo que youtuber foi generalização), algumas considerações:
1) nada que se faça por obrigação tem continuidade a longo prazo; se a DC é necessária, sua motivação é interior
1) nada que se faça por obrigação tem continuidade a longo prazo; se a DC é necessária, sua motivação é interior
2) para isto, é necessário conhecimento teórico-prático. A divulgação científica também é uma ciência e uma tecnologia. Possui congressos, revistas científicas é um campo que avança e evolui. Não se faz DC somente com uma ideia na cabeça e um podcast na mão
3) a fala que originou a polêmica dá a entender uma ação individual. Mas isto leva a uma fragmentação e à falta de eficiência. Ações coletivas, colaborativas, que busquem incluir e dar voz à sociedade que sustenta a universidade são mais interessantes
4) não se faz tanta DC, por que ela não é reconhecida e valorizada, é fato. Frente à pesquisa e, em menor grau a extensão e do ensino, que praticamente não conta, os processos de avaliação e progressão na carreira a ignoram. Seria preciso mudar uma cultura universitária
5) por que não é reconhecida? Minha hipótese, a DC não passa por mecanismos de controle. Revistas possuem revisão por pares. Projetos de extensão são avaliados, assim como de pesquisa. Mas a DC é mais livre, então estes "pontos" da avaliação estariam sendo dados "de graça"
6) neste último ponto, uma solução seria criar mecanismos de certificação de qualidade, a exemplo do selo do @scienceblogsbr e de ter canais institucionais de DC nas universidades e centros de pesquisa. Mas como disse, é preciso convencer a comunidade desta importância
7) em conclusão, DC deveria constituir uma atividade constante e sistematizada do trabalho universitário. Mas não de forma obrigatória, sem conhecimento para tal, de forma individualizada e sem reconhecimento e valorização profissional."
"'Virar YouTuber' não digo (e talvez seja força de expressão da Thabata). Mas popularizar o conhecimento da maneira que mais se encaixar no seu perfil (pode até ser palestra em escola pública), sim.
Ir numa escola uma vez a cada 1 ou 2 meses para falar de ciência e despertar interesse na área, ou ter disposição para atender jornalistas, ou fazer 1 fio no twitter voltado ao público geral... não faz diferença. O importante é fazer algo!
Meu exemplo nisso é o João Steiner, pesquisador com um puta currículo que até hoje faz palestra em escola, da curso pra professores, atende a gente na rádio toda semana... Tempo até dá se colocar como prioridade.
Fora isso, é incrível a humildade dele na posição em que está, de sempre perguntar minha opinião, respeitar meus horários, prazos. Ele nunca agiu como se tivesse fazendo favor em nos atender. Parece até o contrário. E para projeção própria ele absolutamente não precisa da gente.
Pessoal muito na defensiva. Quem é cientista de Universidade não tem obrigação formal de falar de ciência para quem não é cientista. Mas é um dever ético e precisa de apoio institucional. N dá p/ querer q a população defenda a ciência se não a conhece. Depois não dá pra reclamar"
"Eu já vi que o meu lado é o menos popular, mas acho engraçado as pessoas defenderem terceirizar comunicação científica mas não trabalhos administrativos.
E antes que falem: eu acho que tem que ter comunicação científica feita por profissionais sim, mas cientistas nunca deveriam deixar de se comunicar com o público.
Eu concordo, mas não acho que substitua o cientista falando com a sociedade. 2 a 4 h por ano, só o q peço."
CH "A função dos cientistas falarem com a sociedade não é necessariamente ensinar a sociedade. É aproximar ambos lados. É haver conhecimento mútuo para ambos crescerem."
CH "Me lembraram um ponto importante: o cientista se comunicar com a sociedade é importante do ponto de vista do financiamento.
No exterior, onde o financiamento à pesquisa por doações privadas é mais significativo, talvez fique mais claro o papel da comunicação científica em se garantir financiamento."
Em resposta a Mahayana Godoy
CH: "Eu entendi YouTuber no tweet como qq coisa que fale com o público. Acho muito necessário é obrigatório.
Tem que falar com o público de alguma forma. Nao precisa ser uma massa gigante. Sem esse contato, a sociedade não vai valorizar cientista e cientista não vai valorizar a sociedade.
A gente dá aula, a gente escreve e fala para pares. A gebte já tem parte das habilidades necessárias.
O comunicador de Ciências ruim só faz mal pq tem pouco cientista falando, daí a voz tem espaço.
Não tá no job description mas é algo q vai mudar cada vez mais. Lá fora já mudou. Mas assim como vc tem bons pesquisadores q dão aulas ruins e são péssimos administradores, vc vai ter os q não lidam bem com o público."
"Professor ensina, para ensinar você precisar saber se comunicar sim. Pesquisador pesquisa , no passado era somente válido o conhecimento circular somente na academia e agora até para você conseguir inspirar jovens a estarem nas universidades precisa comunicar bem as vantagens
Precisar comunicar bem sua pesquisa para o público que não está na academia . Ciência faz parte da sociedade, faz partes dos questionamentos e soluções, A pesquisa passa por saber se comunicar sim e comunicação vai além de YouTube.
Ninguém é obrigado a fazer divulgação cientifica mas tem que saber se comunicar sim. O mundo muda e a ciência avança e pesquisadores tá entre os dois logo..."
"Vou ser polêmica, mas vamos em frente. Assim como eu sou uma jornalista de ciência e PRECISO tomar cuidado ao escrever sobre ciência, o cientista pode tentar ser comunicador E TAMBÉM precisa entender de comunicação. Assim, evitamos vídeos sem sentido e textos que ninguém entende.
Apenas para complementar: Também existem textos e vídeos ruins entre jornalistas (MUITOS). Assim como existem cientistas ruins por aí.
A diferença clara está: eu, quando escrevo sobre ciência, ligo para um cientista.
Aí o cientista quer comunicar sem ouvir como deve ser um comunicador. Qual é a fonte da técnica? VOZES DA MINHA CABEÇA"
Aí o cientista quer comunicar sem ouvir como deve ser um comunicador. Qual é a fonte da técnica? VOZES DA MINHA CABEÇA"
"Graças ao trabalho excelente de assessores de imprensa, há mais cientista dispostos a traduzir conhecimento para jornalistas. Mas os caras não têm nem e-mail acadêmico que pega, cortam bolsa, pesquisa, perrengue. E ainda tem que ser youtuber? Eu acho que não conseguiria."
respondendo à Carolina Dantas
"Eu como cientista e comunicador, MAIS cientistas do que comunicador, escolhi fazer divulgação científica e por isso tô sempre procurando aprender como comunicar. Concordo com a Mahayana, ninguém deve ser obrigado a fazer divulgação, primeiro que muitos não querem e acaba saindo
péssimos conteúdos e segundo que ocupa o espaço, recursos e desvaloriza quem quer seguir esse caminho profissionalmente (jornalista ou cientista). O povo do meu departamento tá até hoje investindo em blog e ninguém nunca me chamou para conversar e dar ideias."
"Trabalhando com comunicação da ciência eu parei de acreditar no mito que cientista que não fala publicamente é malvadão. Primeiro que comunicação é uma habilidade, uns têm mais facilidade. Segundo que não é simples, exige um tempo danado de preparação
de conteúdo. Dito isso, acredito que a divulgação científica deve ser estimulada SIM pelas universidades, inclusive financeiramente. Obrigar o cientista a falar é bem exagerado. Até porque a rotina de um pesquisador é absurda, tem que entregar e estudar MUITO. Tem cientista
que recusa a dar entrevista pra mim e nem é porque a pessoa não acha que a sociedade não deve conehcer o trabalho dele, é falta de tempo, preparo, timidez, diversos fatores. Então vamos valorizar quem faz DC e não rebaixar quem não faz, ok?
E comunicar ciência não é só youtube."
E comunicar ciência não é só youtube."
em resposta a Olga Chaim
"hummmm... acho que a academia precisa sim passar por uma reforma, já passou da hora, e sim, precisa rever a comunicação, métricas, etc. Precisa ter em si uma braço de divulgação e linguagem potente, que não seja só pra pares. Se não for cientista pelo menos formar gente pra isso
E ai pode ser uma nova linha de profissionais, comunicadores, e os híbridos, que gostem e levem jeito pra coisa. Em todas as frentes, não só internet, pq de fato a academia tá muito fechada e isolada sim, isso dá espaço pra esses orcs ocuparem o vão entre nós e a comunidade
Olha, o pior nem é não entender as nossas atribuições, o pior ai é alguém que tá falando de divulgação e oferece um único veicúlo como saída pra resolver o problema, isso ai é o pior e demonstra uma má compreensão da coisa.
Eu uso mais o instagram do o Youtube por exemplo, e não é pq eu quero é pq no instagram o publico engaja mais com meu conteúdo mesmo. Não é assim que a banda toca. Tem toda uma questão do outro querer vc naquele veículo ou não. Besteira pura."
Em resposta à Tourinho
"Meio caminho: acho q o cientista precisa estar mais aberto a falar com a comunidade. Mas não obrigatoriamente ser o divulgador. Ele pode ser fonte de fácil acesso, por ex., se não tem treinamento p/divulgar competentemente. E as instituições devem incentivar a formação de + DC."
"Sobre professores e youtube
Divulgação científica não é uma tarefa individual nem voluntarista. As instituições que devem se preocupar com isso. A @ufrj tem a um órgão dedicado especificamente à difusão científica e cultural. Hoje coordenado pela minha pessoa. É singular, mas
Divulgação científica não é uma tarefa individual nem voluntarista. As instituições que devem se preocupar com isso. A @ufrj tem a um órgão dedicado especificamente à difusão científica e cultural. Hoje coordenado pela minha pessoa. É singular, mas
difícil fazê-lo funcionar como tal, justamente porque não existe a cultura de divulgação científica como missão institucional e coletiva. Isso se confunde frequentemente com comunicação e marketing. E as iniciativas de divulgação tendem a ser individuais. Assumi há pouco tempo
e gostaria de ajudar a mudar essa cultura. Não sei se vou conseguir, mas acho que um caminho eficaz e consistente para estreitar os laços entre universidade e sociedade deve ser institucional. Ainda que possa se servir de bons exemplos individuais. Mas sem reinventar a roda. Fim."
"Divulgação Científica (DC): todo cientista deve fazer?
Aqui segue minha visão pessoal sobre a relação cientista X divulgação científica. De início, quero deixar claro que vejo com alegria esse debate e que ele não deve ser suprimido, mas estimulado.
Aqui segue minha visão pessoal sobre a relação cientista X divulgação científica. De início, quero deixar claro que vejo com alegria esse debate e que ele não deve ser suprimido, mas estimulado.
Essa não é uma resposta pronta e com certeza não trarei uma conclusão. Essencialmente, podemos considerar a DC como ato de comunicar os saberes, métodos e a cultura científica para quem não pertence a esse conjunto.
É comum o cientista realizar atividades comunicativas ao decorrer da sua carreira, expondo seus resultados em congressos, seminários; conversando com pares por e-mails ou rodas de debate. Contudo, precisa ser lembrado que nós discorremos geralmente para os pares.
Discorrer com os pares exige, principalmente, conhecimento da área a qual você abrange. Não é necessário adaptar sua linguagem quando está se falando com pessoas que entendem os jargões, os números, os gráficos e tem vasto conhecimento prévio sobre o assunto.
A DC, entretanto, exige um conjunto de competências comunicativas para ter sucesso. Inclui habilidades intra e interpessoais, conhecimento de mídias usadas na comunicação; capacidade de diálogo com diferentes.
Conhecer o público a quem você está comunicando implica em saber a realidade dele; quais as aplicabilidades que uma informação pode ter; quais crenças e valores eles defendem ou não toleram.
O cientista, aqui destacando as 'Hard Science', não tem preparo prático e teórico para essa atividade. O que temos feito nos últimos anos vem de ações pontuais que foram se mesclando e avolumando, formando um corpo ainda pequeno mas com competência.
Pra quem vive na academia, sabe que as atividades de um cientista vão além da pesquisa. Tem funções administrativas, orientações, exigências de cumprimento de metas, deixando a DC como uma atividade pró-ativa não remunerada. Sem contar a vida pessoal de cada um.
Somando as habilidades necessárias para comunicação com as exigências formais da carreira, parece difícil exigir, com obrigatoriedade, que todo cientista apresente esse papel. Diria, inclusive, que nem todos tem a capacidade para tal.
Isso não isenta que estes, que não o fazem na prática, apoiem os colegas, concedam entrevistas, escrevam textos esporádicos ou compartilhem trabalhos de DC. Essa caracterização é o que eu chamo de 'dever ético científico'.
Se quisermos mais cientistas agindo com eficácia, aumentando o escopo, alcance e impacto da DC no Brasil, é necessário que tenhamos mudanças acadêmicas organizacionais. Incentivos e oportunidades para realizações desses trabalhos.
A DC precisa deixar de ser um trabalho que seja visto como 'hobbie', e isso só vai ocorrer quando for compreendido a necessidade dela dentro dos eixos administrativos dos institutos de pesquisas, incentivando e dando subsídios aos seus componentes a fazerem.
Temos criticados não-cientistas que tem falhas grotescas na comunicação, entretanto é válido lembrar que não somos comunicadores natos. Precisamos de auxílio de jornalistas, educadores, especialistas em comunicação/divulgação científica.
Ao final, acho válido que nossas cobranças aos cientistas sobre suas atuações fora da academiam seja antecipadas por análises calculadas, a qual notemos os benefícios e MALEFÍCIOS que uma má DC poderá causar.
Se somos analíticos em nossas carreiras por excelência, devemos também ser em como procederemos nas nossas estratégias para democratizar a ciência.
Nossas paixões e ânsias precisam ser mantidas no segundo plano e darmos palco ao pensamento crítico e prudente."
Nossas paixões e ânsias precisam ser mantidas no segundo plano e darmos palco ao pensamento crítico e prudente."
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Não tenho um posicionamento definitivo a respeito. Mas como uma tentativa de contribuição irei reproduzir uma tradução parcial de trecho de "Atoms, Bytes and Genes" de Martin W. Bauer (2015, Routledge, 298 pp.) a respeito de potenciais riscos da comunicação pública da ciência para os cientistas e a comunidade científica (e também para a sociedade) que precisam ser levados em conta (naturalmente, não como impeditivo, mas como algo que pode acontecer e se pensar em como evitar ou minimizar as possibilidades e as consequências):
"1. Cobertura midiática desfavorável (bad press) e fora do controle: a comunicação pode criar mais más notícias do que notícias favoráveis por falha da própria comunicação ou pelo funcionamento da mídia, fora de controle dos cientistas - a cobertura tende a enfatizar a controvérsia - e a publicidade sobre um ator pode atrair oponentes;
2. Determinação de liderança pela proeminência em vez de pela reputação: a tomada de atalho do processo de revisão por pares com apresentação direta do trabalho à imprensa pode se tornar comum substituindo a reputação construída pela publicação formal pela proeminência angariada com a publicidade e visibilidade midiática (embora a cobertura pela imprensa também possa levar a um aumento da citação acadêmica do trabalho);
3. Hype (exagero) e expectativas frustradas: a busca pela atenção midiática pode levar a exageros nas alegações; alegações exageradas criam expectativas altas difíceis de se cumprir, o que pode minar a autoridade da ciência;
4. Predomínio das RP sobre a mídia de massa: a preocupação com a reputação tem levado a uma profissionalização da comunicação pública da ciência contratando profissionais de relações públicas, especialmente jornalistas tarimbados; o jornalismo já cambaleante com a crise pode acabar dominado pelas RPs, afetando o equilíbrio para a cobertura independente;
5. Repercussões imprevistas sobre a condução da pesquisa científica: a competição pela visibilidade prende os cientistas em “valores de notícia” em vez de em valores científicos. Isso pode afetar não apenas o modo de se apresentar os resultados (design da informação) como a própria escolha de temas de pesquisa (influência epistêmica). Projetos passam a ser planejados e implementados tendo em vista o impacto sobre a opinião pública para atrair financiamento.
6. Compromissos públicos e criação de dificuldades de aprendizado: o compromisso público prende os atores ao compromisso sob o risco de perderem a moral; a mobilização social cria uma forma de incapacidade coletiva de perceber as coisas além do próprio projeto - eventuais fracassos são lidos como necessidade de se invetir ainda mais no trabalho, impedindo a aprendizagem e a consideração de alternativas."
2. Determinação de liderança pela proeminência em vez de pela reputação: a tomada de atalho do processo de revisão por pares com apresentação direta do trabalho à imprensa pode se tornar comum substituindo a reputação construída pela publicação formal pela proeminência angariada com a publicidade e visibilidade midiática (embora a cobertura pela imprensa também possa levar a um aumento da citação acadêmica do trabalho);
3. Hype (exagero) e expectativas frustradas: a busca pela atenção midiática pode levar a exageros nas alegações; alegações exageradas criam expectativas altas difíceis de se cumprir, o que pode minar a autoridade da ciência;
4. Predomínio das RP sobre a mídia de massa: a preocupação com a reputação tem levado a uma profissionalização da comunicação pública da ciência contratando profissionais de relações públicas, especialmente jornalistas tarimbados; o jornalismo já cambaleante com a crise pode acabar dominado pelas RPs, afetando o equilíbrio para a cobertura independente;
5. Repercussões imprevistas sobre a condução da pesquisa científica: a competição pela visibilidade prende os cientistas em “valores de notícia” em vez de em valores científicos. Isso pode afetar não apenas o modo de se apresentar os resultados (design da informação) como a própria escolha de temas de pesquisa (influência epistêmica). Projetos passam a ser planejados e implementados tendo em vista o impacto sobre a opinião pública para atrair financiamento.
6. Compromissos públicos e criação de dificuldades de aprendizado: o compromisso público prende os atores ao compromisso sob o risco de perderem a moral; a mobilização social cria uma forma de incapacidade coletiva de perceber as coisas além do próprio projeto - eventuais fracassos são lidos como necessidade de se invetir ainda mais no trabalho, impedindo a aprendizagem e a consideração de alternativas."
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À medida em que topar com mais considerações, complemento a compilação.