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quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Especulando: Conceptoma Funcional

Nos últimos 10 anos - ou um pouco mais - parece ter explodido a área de análise de redes (o número de artigos publicados anualmente praticamente triplicou na primeira década do milênio) - embora a análise de redes sociais tenha mais de 80 anos (sim, existem antes mesmo das chamadas mídias sociais: como orkut, facebook, twitter, instragram, flickr, youtube, etc. - as redes sociais são redes de interação entre pessoas independente dos meios em que se dá tal interação: pode ser no trabalho, na escola, por email, por nome, ou simplesmente por conhecidos de conhecidos - o que gerou a hipótese do mundo pequeno).

A análise de redes vai além de como pessoas estão conectadas. Pode usar as mesmas ferramentas teóricas para estudar as relações entre países (comerciais, políticas, militares, esportivas, etc.), cidades, objetos (como redes de computadores) e até entidades abstratas como palavras e conceitos.

Na sociologia das ciências, um estudo frequente é a análise de redes formadas por coautorias. Com isso é possível, p.e., investigarem-se as relações entre as diferentes áreas (Figura 1). Ou a colaboração entre centros de pesquisa de diferentes partes do mundo (Figura 2).

Figura 1. Redes de coautorias por área em trabalhos científicos. Fonte: Newman 2004.


Figura 2. Mapa de colaborações internacionais em trabalhos científicos. Fonte: Beaucheusne 2011.

Há, ainda, estudos de coocorrência de termos nos artigos científicos.

Mas, pelo menos enquanto a web semântica não se torna uma realidade, um tipo de investigação deve permanecer bastante restrita: o mapeamento amplo das relações de hipóteses científicas - não como simples coocorrência, e, sim, como relação de dependência conceitual. Por exemplo, o conceito de "estratégia evolutivamente estável" depende de conceitos como "estratégia evolutiva", "evolução", "estabilidade evolutiva", "teoria dos jogos" - mesmo que esses termos não sejam utilizados diretamente no mesmo artigo.

Seria não simplesmente um mapa conceitual com indicação da implicação de um conceito sobre o outro. Tal mapeamento permitiria descobrirem-se premissas ocultas nos testes de certas hipóteses. Isso porque nenhuma hipótese é testada isoladamente. E, valendo-se de análises como a bayesiana, poderíamos testar a robustez das hipóteses considerando-se todo o conjunto de dados disponíveis na literatura (ou pelo menos na literatura analisada), mesmo de modo indireto. Isso pelo fato de um teste de hipótese típico depender da assunção apriorística da validade das premissas de apoio - ocultas ou declaradas (como da própria validade da ferramenta estatística utilizada): então, na verdade, quando se diz que há apenas 5% de chance de os resultados obtidos deverem-se unicamente dao acaso, está a se dizer que há apenas 5% de chance de os os resultados obtidos deverem-se unicamente  dao acaso *se* as hipóteses assumidas (como os aparelhos estarem devidamente calibrados, ou as leis da mecânica serem aproximações boas o suficiente) estiverem corretas.

Assim poderíamos analisar a probabilidade de correção da hipótese frente a todos os dados disponíveis - provavelmente bem menor do que a probabilidade que seria atribuída por qualquer estudo isolado - e verificar qual o ponto fraco que precisaria ser mais bem estudado.

Entre as dificuldades que devem surgir, além do levantamento do material primário, pode estar o processo de análise estatística: o mapa deve ter um aspecto reticulado, com alguns conceitos sendo influenciados pelos conceitos sobre os quais exercem influência (ou seja, em muitos casos, a análise deve cair em um loop - se houver convergência não há problemas, mas, do contrário, o tratamento dos dados pode ser bem problemático, se não impossível); um problema enfrentado por grafos abertos similares às árvores filogenéticas é a explosão de topologias alternativas conforme mais terminais são acrescidos, algo similar, ou até idêntico, pode ocorrer.

Porém, o resultado seria nada menos do que o desenho - ainda que grosseiro - do edifício teórico de todos os ramos científicos incluídos. Que aspecto teria? Um elegante ou um labirinto quase incompreensível? Um robusto e sólido ou um frágil? O esquema física->química->biologia->psicologia estaria ali ou seria desmistificado?

4 comentários:

Osame Kinouchi disse...

Roberto, é uma boa ideia.

Talvez este artigo te interesse: PHYSICS CONCEPTS AND LAWS AS NETWORK-STRUCTURES: COMPARISONS OF
STRUCTURAL FEATURES IN EXPERTS’ AND NOVICES’ CONCEPT MAPS

http://cmc.ihmc.us/cmc2008papers/cmc2008-p179.pdf

Osame Kinouchi disse...

Este site também pode te interessar. Será que não existe um site similar na área de biologia?

Osame Kinouchi disse...

http://hyperphysics.phy-astr.gsu.edu/hbase/hph.html

none disse...

Kinouchi,

Obrigado pela visita e comentários.

Grato pelo artigo. O site eu já conhecia, sim. Lá mesmo tem uma parte sobre Biologia:

http://hyperphysics.phy-astr.gsu.edu/hbase/biology/biocon.html
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Roberto Takata

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