Crédito: Alexas_Fotos/Pixabay.
Hoje completa 9 anos da primeira postagem aqui no GR. Ou seja, estamos agora no ciclo do décimo ano deste blogue.
Em uma rápida conta de engenheiro, não sou a metade da pessoa que costumava ser: cerca de 60% das células que constituíam meu corpo em 27 de novembro de 2008 foram substituídas desde então.
Ainda não existia o Whatsapp (lançado em 24 de fevereiro de 2009), possivelmente hoje, o principal serviço de comunicação instantânea entre os brasileiros, com 120 milhões de contas verde-amarelas. O sistema operacional Android (liberado em 23 de setembro de 2008) tinha poucos meses. A Uber (março de 2009) ainda seria fundada. A Tesla já existia há muito tempo (ao menos em termos tecnológicos - fundada em julho de 2003), mas Elon Musk, no pior ano de sua vida, havia acabado de assumir o comando da empresa (outubro de 2008) e entre novembro e dezembro uma injeção de 50 milhões de dólares da Daimler salvaria a empresa da falência.
A revista Ciência Hoje e Unesp Ciência ainda existiam em versões impressas. Aliás, a Unesp Ciência não, ela só seria lançada no ano seguinte. Desde então, houve um desmonte das editorias de ciência nos principais veículos (dentro de um cenário maior de crise geral no jornalismo). E mesmo os blogues passaram por sua crise de crescimento (e dos eventos mais recentes dessa crise representado pelo fim do Scienceblogs americano e ao mesmo tempo em que parece crescer os condomínios institucionais acadêmicos) e vimos uma diversificação de mídias de divulgação científica na internet: com podcasts e vlogs (a comunidade cresceu a ponto de iniciativa do ScienceVlogs surgir para congregar os vlogueiros de ciência em pt-br), e fora dela, com festivais, cafés e saraus.
O cenário atual para as ciências é tenebroso. Não apenas no Brasil, mas particularmente grave por estas bandas com sucessivos cortes bastante duros no financiamento público para as atividades de ensino e pesquisa. Suscitando vários eventos mundiais e nacionais de mobilização, particularmente no âmbito das Marchas pela Ciência.
Esta crise pelo menos estimulou um debate sobre a necessidade de maior divulgação das ciências, ainda que deva demorar uma ação mais efetiva ou mesmo um planejamento dessas ações. E, também em um cenário mais amplo da crise econômica, ela acabou afetando vários planos para canais de divulgação científica - com o encolhimento das verbas publicitárias que despontavam ao fim de 2014. Não temos ainda modelos de negócios que permitam muitos viverem disso por conta própria. Adsense e cliques não pagam mais o suficiente, veiculação direta de publicidade nos canais igualmente é limitada (em alguns casos, como podcasts as agências ainda não sabem como quantificar e qualificar a audiência; no caso do YT, as métricas são bastante ricas e detalhadas, mas os algoritmos não são muito generosos com canais de ciência - é preciso subir vídeos quase que diariamente, a economia da atenção torna a concorrência severa com distratores como mergulhos em tanques de banho recheados com compostos de propriedades reológicas e colorimétricas suspeitas).
A produção de material de DC se diversificou. Porém, a transformação passou a exigir um nível de sofisticação que envolve muito trabalho. Muito trabalho e baixa remuneração. Quando não obriga a que o divulgador pague do próprio bolso para produzir sua peça: equipamentos de áudio e vídeo, equipe para diagramação, edição e mixagem... Há poucas e concorridas bolsas e editais para DC.
O que reservará o décimo ciclo que ora se inicia? O que poderemos fazer para melhorar a conjuntura em que torna a DC tão necessária e ao mesmo tempo tão difícil?
Experimentos estão sendo feitos: vaquinhas e patronatos, o velho pedido de doação, assinaturas de newsletter, organização em cooperativas de freelances, abertura de EMEIs, venda de brindes e quinquilharias geek, cursos e palestras... Veremos o resultado deles futuramente. Que sejam positivos.
Um ótimo novo ciclo a todos!