A OMS declarou o fim da pandemia da gripe A. Estado chamado de "pós-pandêmico".
A cepa continua em circulação e, espera-se, irá se comportar como as linhagens sazonais.
Muitos ainda questionam as ações da OMS e de órgãos de saúde na condução das ações contra a chamada gripe suína - uma boa parte dos críticos, após o fato, considera ter havido exagero injustificado. Há algumas denúncias mais graves que precisam ser bem investigadas: como a influência da indústria Big Pharma na orientação sobre vacinação e medicação.
O estrago, felizmente, foi bem menor do que o inicialmente projetado. No mundo todo, foram pouco menos de 18.500 mortes registradas até 1o de agosto (é uma subestimativa do total real, já que nem todos os casos foram reportados). A taxa de mortalidade, ao fim foi equivalente à da gripe comum - diferenciando-se principalmente quanto à faixa etária preferencial (jovens em vez de idosos).
*Depois* do fato é fácil dizer: "Ah! Mas foi então um desperdício!". Verdade que já no começo havia os que diziam que era tudo um exagero. Mas sempre há. O ponto é que *poderia* ter sido uma situação muito ruim. Na verdade, ainda pode - embora, com uma probabilidade bem menor. Essa é a grande dificuldades de se lidar com políticas públicas (ainda mais em nível mundial) quando se lida com riscos - e não certezas - e, em não poucos casos (até a maioria dos casos) com incertezas.
Riscos são calculados - há uma probabilidade mais ou menos conhecida de ocorrência de um cenário dado (em geral, um cenário ruim). Podemos falar em riscos de atropelamento em uma dada cidade - há um número de atropelamentos registrados ao longo do tempo e há o tamanho da população: isso nos dá uma certa taxa de x atropelamentos por ano por 100 mil habitantes. Uma determinada intervenção cirúrgica tem um histórico de y% de sucesso com remissão da doença e sobrevida de, digamos, 20 anos dos pacientes após a operação.
Incertezas não permitem um bom cálculo das probabilidades: os sistemas são complexos - ou possuem muitos fatores e/ou a interação entre os fatores são intrincados - não há uma modelagem adequada que resulte em previsões com bons acertos. Em muitos casos são tiros no escuro. Quando o tamanho do dano potencial é alto, costuma adotar-se o princípio da precaução: na dúvida, optar pela ação que possa evitar o cenário indesejado (tanto quanto possível trabalhando-se sob a perspectiva do "pior cenário possível").
A maioria dos problemas de pandemias recaem nos cenários de incertezas. Como são doenças contagiosas, elas podem se espalhar muito rapidamente - valendo-se de uma escala exponencial: 1 paciente que contamina 2, que contaminam 4, que contaminam 8, 16, 32... Elas podem causar efeitos terríveis: deformações, dores, morte.
Há ainda um lado ingrato. Como os modelos não são muito bem estabelecidos, digamos que seja tomada uma política muito eficiente - que a pandemia seja rapidamente debelada ou ainda que nem chegue a se instalar. Poderá parecer que as medidas tomadas foram totalmente dispensáveis, já que não se observou efeito algum. Poderia ser o caso de que a pandemia tenha sido mal diagnosticada e o perigo potencial superestimado. O lado terrível é que isso só é possível de se saber com algum grau de certeza se *nada* tivesse sido feito. Mas, aí, o reverso da moeda: e, em nada sendo feito, se o cenário ruim vier a ocorrer?
As reações não são sem custos: custam dinheiro, muito dinheiro - que poderia ser usado para outras coisas. Em agindo, temos a certeza desse custo. Essa face é visível e, por isso, alvo fácil de críticas. Porém, e a inação? Na inação não teremos *esse* custo. Só que ficamos a ver navios sobre se a ação diminui o perigo na proporção justificável dos esforços - estamos em um cenário de incertezas e não de riscos.
Se a decisão é individual, cada um olharia para sua própria experiência de vida e atribuiria um dado valor à incerteza e diria se vale a pena ou não. Isso vale para a decisão individual de se tratar. Mas a decisão política não é uma decisão propriamente individual - não é uma ação que se aplica somente a quem decide. E, mais, as consequências não são individuais: se alguém deixa de se vacinar, não é apenas quem deixou de se vacinar que se expõe ao perigo (quem não pôde por uma razão qualquer tomar a vacina fica exposta à contaminação por aqueles que deixaram de se vacinar mesmo tendo a oportunidade para tal); se um político economiza nos custos logísticos, pode faltar tratamento aos doentes.
É fácil levantar o dedo em riste: "você erraram, nada aconteceu". Mas duas perguntas - que talvez não venham a ter uma resposta satisfatória - devem ser feitas: 1) Nada aconteceu a despeito da ação ou nada aconteceu por causa da ação? 2) E se nada fosse feito e o cenário indesejado ocorresse?
terça-feira, 10 de agosto de 2010
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Um comentário:
Acho que este paper pode ajudar na sua argumentacao:
http://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=1556117
Tem outro paper afirmando fortemente que o comportamento de isolamento social disparado pelo panico na midia realmente ajuda muito a evitar a propagacao da epidemia... e dai, como a epidemia nao se confirma, em uma segunda onda o comportamento de isolamento e outros efeitos preventivos (vacina, higiene etc) fica diminuido. Isso talvez explique ondas bi-anuais de epidemias. Depois coloco aqui...
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