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segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Desmatamento na Amazônia aumentou 28% depois do Novo Código Florestal. O que isso quer dizer?

Provavelmente não muita coisa.

O desmatamento na Amazônia Legal Brasileira, felizmente vem caindo desde 2002há uns 10 anos segundo levantamentos do Projeto de Monitoramento da Floresta Amazônica por Satélites (Prodes) do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - erroneamente chamado de Instituto Nacional de Pesquisa e Estatística pela reportagem da EBC - Figura 1).

Figura 1. EBC erra de Inpe.

Desde 2004, as taxas anuais de desmatamento vêm caindo (Figura 2).

Figura 2. Variação da taxa anual de desmatamento na Amazônia Legal Brasileira. Fonte: Prodes/Inpe.

Fazendo uma regressão exponencial com os dados desde 2003, obtemos uma curva de muito bom ajuste (R2=0,94) (Figura 3).

Figura 3. Curva de regressão exponencial para variação do desmatamento amazônico desde 2003.

Fazendo um teste Z para o resíduo (diferença absoluta entre o valor previsto pela curva e o valor real) de 2013 em relação aos resíduos dos anos anteriores, temos que não há uma diferença significativa: p = 0,42. Se eliminarmos o resíduo de 2004 (o maior da série), ainda assim a diferença não é significativa p < 0,95 (p=0,946).

*Fazendo um teste t para os resíduos, o valor crítico para α=0,05, unicaudal, com ν=9, é de 1,833. Para os dados de 2003 a 2012 contra 2013, t = 0,21; ignorando-se 2004, t=1,61. Não se rejeita em nenhum dos casos que o valor de 2013 esteja dentro do esperado na curva de redução do desmatamento.

Uma interpretação possível, então, é que a variação está dentro da normalidade dos últimos anos. Os 28% de aumento não podem ser atribuídos à alteração da norma legal de proteção da cobertura vegetal. Não temos, ainda, nem mesmo um indício de que a saudável e saudada tendência de declínio da taxa de desmatamento da região tenha sido interrompida.

Deve-se ter em mente, no entanto, que isso não quer dizer que esteja tudo bem, nem que a fragilidade introduzida pelo Novo Código Florestal não tenha efeito deletério - seja na própria Amazônia, seja nos demais biomas brasileiros. A queda que vem ocorrendo só se dá pela estrita vigilância e ação dos órgãos governamentais com a fiscalização das ONGs e da sociedade civil (além dos avanços das técnicas de produção agrícola que aumentam a produtividade e diminuem a pressão por novas áreas) e mais esforços precisam ser dispendidos para que o desmatamento finalmente caia a zero - e que possa haver até mesmo recuperação das áreas perdidas.

*Upideite(08/dez/2013): Como são relativamente poucos dados, o correto é aplicar o teste t no lugar do Z.

2 comentários:

Alexandre disse...

Depois de 2005, houve uma diminuição praticamente ininterrupta do desmatamento na Amazônia (com a exceção de 2008).

O fato de haver um novo ano de aumento, justamente com o novo Código Florestal, é motivo de alerta, sim.

none disse...

Salve, Alexandre,

Sempre temos que ter atenção com a Amazônia em particular e o meio ambiente em geral. Mas a variação parece ser uma flutuação estatística. (Claro que, se você escolher um alfa de, digamos 10% ou mesmo de 20%, então - tirando o valor de 2004 -, a variação adquire uma significância estatística. Mas aí é preciso manter esse critério pra quando ocorre diminuição também.)

[]s,

Roberto Takata

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