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segunda-feira, 3 de março de 2014

Como é que é? - Salmão de cativeiro faz mal à saúde?

O hoax de que o salmão de cativeiro - alimentado com astaxantina sintética - seria cancerígeno não é novo, está circulando pelo menos desde 2011, mas - qual bambolê e cubo mágico - insiste em reemergir de tempos em tempos. Agora, mais uma vez reaparece em uma postagem no facebook.

Então (novamente em autoplágio reciclagem de bits) reposto no GR o que já escrevi na rede do titio Zucko.

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Agora estão com teorias conspiratórios de que salmão de cativeiro é cancerígeno por causa de níveis elevados de astaxantina (http://liasergia.wordpress.com/2011/03/15/a-farsa-do-salmao/).

Sério, não sei de onde essa gente tira tanta desinformação.

A verdade (ao menos o que podemos considerar como verdade considerando-se os melhores dados disponíveis até o momento):

A astaxantina tem sido estudada por efeitos *protetivos* contra o câncer pelas propriedades antioxidandes:
http://www.bv.fapesp.br/pt/auxilios/3602/estudo-atividade-antioxidante-astaxantina-lipossomos/
http://openaccess.uoc.edu/webapps/o2/handle/10609/19841
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1415-52732007000500009&script=sci_arttext&tlng=es
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Nenhum efeito adverso foi observado em ratos com consumo diário de cerca de 500 mg de astaxantinha por kg de massa corporal:
http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0278691508002895
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A concentração muscular de astaxantina em salmões com dieta suplementada fica em torno de 2 a 7 mg/kg.
http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1365-2761.1995.tb00308.x/abstract
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A pessoa poderia comer todos os dias mais de 100 QUILOGRAMAS de salmão sem efeito tóxico da astaxantina (mas, claro, aí teria outros problemas).

Reais razões para se preocupar com salmão chileno:
1) Houve episódios de contaminação por vermes parasitas da difulobotríase (o risco é mínimo se o peixe for assado ou tiver sido congelado a 20 graus negativos por uma semana ou mais):http://www.anvisa.gov.br/divulga/imprensa/clipping/2005/maio/110505.pdf
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2) A criação de salmão pode ocasionar danos ambientais:http://www.cetmar.org/DOCUMENTACION/dyp/ImpactoChileacuicultura.pdf
http://noticias.uol.com.br/ultnot/economia/2005/12/02/ult35u44523.jhtm
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3) Parte do salmão era importado fresco. Vem por avião. O salmão fresco, além dos riscos eventuais à saúde por causa da mencionada difulobotríase, contribui sobremaneira com emissão de gases-estufa ao serem transportados por aviões. Em 2005, por causa do verme, a importação de salmão fresco foi proibida (não sei a situação atual).
http://noticias.uol.com.br/economia/ultnot/efe/2005/04/13/ult1767u38303.jhtm
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A importação de salmão chileno passou de 18 mi USD em 2001 (http://www.schualm.com.br/artigos/Chile.pdf) para uma projeção 234 mi USD em 2013 (sobre estimativa de 90 mil toneladas de importação: http://brasileconomico.ig.com.br/noticias/salmon-de-chile-prioriza-o-mercado-brasileiro_127318.html). É um comércio significativo com múltiplos desdobramentos - por um lado compete com produtores e pescadores nacionais de outros pescados, de outro, alivia a pressão sobre os recursos aquáticos brasileiros; o comércio fortalece os laços econômicos entre os países, mas também significa riscos de transporte de doenças, vetores e pragas (no produto, na embalagem, nos veículos - como nos lastros dos navios - e nas pessoas); de um lado, alivia a pressão inflacionária sobre alimentos, mas, de outro, diminui a segurança alimentar (ao aumentar a dependência nacional sobre alimentos importados); de um lado, aumenta a disponibilidade de um alimento nutricionalmente rico, mas, de outro, sem uma correta vigilância pelas autoridades, pode ser uma fonte de contaminação.

A decisão do consumidor, embora frequentemente pouco refletida, envolve todos esses fatores. Mas a astaxantina, pelo que sabemos, NÃO é um motivo para preocupações.*
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Inicio minha campanha: "Vai curtir? Vai compartilhar? Dê um bom google antes." (O "bom" é vital porque não basta jogar na busca e pegar o primeiro resultado. É preciso saber filtrar as fontes.)

*Upideite(03/mar/2014): O jornalista Rafael Garcia, da Folha de São Paulo, pelo facebook lembra da questão do PCB (bifenil policlorado), um composto que, em algumas formas, é associado à dioxina, um potente cancerígeno. O composto está presente em salmões de cativeiro no Chile, mas ainda em um nível (entre 7,8 e 25,5 ng/g de peso úmido para salmão selvagem e de cerca de 25 ng/g de peso úmido para salmão de cativeiro**) abaixo do limite máximo tolerado pela União Europeia (75 ng/g de peso úmido). A recomendação é que se limite o consumo para uma ou duas porções - de cerca de 225 g cada - por mês**. Claro que é um valor que pode variar de produtor para produtor e ao longo do tempo (pode haver, p.e., uma mudança no fornecedor de rações ou algo que mude a exposição dos peixes aos compostos), para isso é preciso que as autoridades façam uma análise constante dos produtos.

**Updieite(03/mar/2014): adido a esta data.

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