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sexta-feira, 1 de abril de 2016

É mentira, Terta? - Fazendo cover

Um grande número de aves são conhecidas por seus cantos - muitas consideradas melodiosas. Um número menor, como várias espécies de papagaios e araras, são conhecidas por imitar sons ambientes.

Uma vocalização é mimética se: "o comportamento do receptor muda após perceber a semelhança entre acústica entre o imitador e o modelo, e essa mudança comportamental conferir vantagem adaptativa ao imitador" (Dalziell et al. 2015). Entre as diferentes vantagens atribuídas para diferentes espécies e situações incluem-se: evitação de predadores (recrutamento de membros do bando para afastar o perigo, dissuasão direta do predador, atração de outro predador), parasitismo (de ninho, cleptoparasitismo), forrageamento (atração de parceiros de forrageio, enganar as presas), exclusão de competidores interespecíficos e intraespecíficos, uso da imitação como sinal de qualidade, para armadilha sensorial, para acasalamento seletivo, criação da prole (ensinando a associar certos sons a situações como presença de predadores).

Uma imitadora particularmente impressionante é a ave-lira real (Menura novaehollandiae), da avifauna australiana, além de copiar o som de diversas aves nativas dos arredores, também é capaz de imitar sons como motores de carro e de moto-serra, entre outros. Basicamente um Michael Winslow de asas.



Acrocephalus palustris
Fonte: Wikimedia Commons.

A felosa palustre (Acrocephalus palustris), presente da Europa à ao sul da África, tem um cartel  respeitável de 212 espécies imitadas (99 na Europa e 113 na África) (Dowsett-Lemaire 1979).

Cada indivíduo, na média, é capaz de imitar cerca de 76 espécies. O recorde registrado é de 84 espécies imitadas por uma única ave. O que apresentou uma menor capacidade imitava 63 espécies.

Isso sem contar que cerca de 20% dos sons emitidos pela felosa palustre não tiveram a espécie original identificada (ao menos até esse levantamento de Dowsett-Lemaire).



A coruja buraqueira (Athene cunicularia) presente em todas as Américas produz um sibilo muito similar ao chocalhar da cascavel (Crotalus spp.), cujas áreas de distribuição se sobrepõe amplamente (Rowe & Coss 1986).

O som da coruja imitando a cascavel é capaz de deter esquilos terrestres (Spermophilus beecheyi douglasii) (em cujos buracos a coruja faz seu ninho) de populações que vivem em áreas com presença de cascavéis, mas não esquilos de populações de áreas em que não há presença da cobra. Então, parece ser similar o suficiente para que organismos que evitam as cascavéis também evitem as corujas quando fazem o som, podendo evitar também predadores como texugos, quatis ou guaxinins.

Quase nunca é fácil e nem sempre é possível testar-se com o devido rigor as hipóteses de caráter adaptativo dos sons imitados, mas é sempre interessante essa capacidade de se emitir sons - inatamente ou após aprendizado - normalmente associados a outras fontes.

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