Para os autores do achado, o efeito seria dado em boa parte por um déficit metacognitivo (isto é, habilidades mentais de perceber o próprio grau de conhecimento): quando uma pessoa não tem conhecimento suficiente sobre um tema, também não tem as ferramentas mentais para avaliar o grau de conhecimento nesse tema. (Também formulado como "ignorância a respeito da própria ignorância".)
Mas (devo salientar que psicologia *não* é minha área de formação), para mim, esse mecanismo deveria levar também - e principalmente - a uma maior *variação* da própria percepção do desempenho: a falta de ferramentas cognitivas faria com que errassem o resultado tanto para mais quanto para menos. Em uma analogia, uma pessoa com pouca habilidade em tiro ao alvo, após uma série de tiros, acertaria vários pontos espalhados em torno da mosca.
Por outro lado, a diferença entre os valores de autoavaliação dos grupos com melhor e pior desempenho é menor do que a diferença entre os desempenhos reais. E, como dito, os com melhor desempenho tendem a subestimar seu próprio resultado. Pode ser que um mecanismo que faça com que as pessoas tendam a se equiparar à média esteja agindo.
Infelizmente, no artigo original, K&D não apresentam dados de dispersão dos valores em torno dos pontos, apenas valores de medida de tendência central. (Vários outros estudos, e não apenas do grupo de Krueger e Dunning, também deixam de reportar medidas de dispersão.)
Mas Pazicni & Bauer (2014) reproduziram o estudo de K&D com estudantes de química em 9 turmas (Fig 2). A distribuição das médias de desempenho percebido parece bem homogênea entre os estudos para os diferentes quartis de desempenho real.
Essa variação homogênea das médias das estimativas para diferentes quartis de desempenho não é muito compatível com um efeito predominante da falha metacognitiva.
Vale notar também que o efeito pode variar de acordo com a área do conhecimento (Fig. 3). O que indica que não seria um mecanismo geral de metacognição.
Reproduções independentes (residentes de medicina Hodges et al. 2001, estudantes de aviação Pavel et al.2012) parecem indicar que o efeito é real. Mas há divergência em relação ao mecanismo gerador do padrão. P.e. Krueger & Mueller (2002) acham que o efeito pode resultar de um artefato estatístico; para Krajc & Ortmann (2007), há uma diferença no nível de dificuldade de inferência, sendo mais difícil para os de menor desempenho; Simons (2013) considera que o efeito DK ou "incompetente e inconsciente" ("unskilled and unaware") é em função de um otimismo irracional por parte dos menos habilitados; segundo Kim et al. (2015), os menos capazes ativamente rejeitam essa condição por autopreservação da imagem.
*Um estudo de Jansen et al. (2021) com cerca de 3.500 participantes respondendo a testes de gramática e de lógica indica que o efeito parece se dever mesmo a fatores de metacognição. A distribuição dos valores e a dispersão das previsões em relação a níveis de desempenho é mais compatível com a discrepância das previsões dependerem da capacidade medida dos respondentes.
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Agradeço a @EliVieira pela ajuda na bibliografia.
*Upideite(02/05/2022): adido a esta data. HT Carlos Orsi via twitter.
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