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sexta-feira, 5 de junho de 2009

The burdens of being upright*

Já se sabia que a inteligência não é uma característica onivantajosa - isto é, cuja vantagem seja independente de contexto. Vide, p.e., Mery, F. & Kawecki, T.J. 2003 – A fitness cost of learning ability in Drosophila melanogaster. Proc. Biol. Sci. 270: 2465-9.

Em ambientes muito previsíveis, a inteligência é desnecessária - comportamentos automáticos tendem a ser mais eficientes. Em ambientes excessivamente imprevisíveis, a inteligência é inútil, já que toda projeção e tentativa de conexão de informações não resultarão em nada - é menos custoso adotar uma estratégia aleatória ou mesmo fixa.

(Claro que isso varia um pouco de acordo com a definição de inteligência adotada, mas a essência do raciocínio acima não deve mudar.)

Agora, o gênio nobelista racista (não necessariamente nessa ordem), James Watson, especula que a inteligência na espécie humana pode ter consequências desvantajosas do ponto de vista genético: o velhinho sugere que variantes de genes ligadas à inteligência estariam também ligadas a doenças mentais como o autismo e a esquizofrenia. Ele mesmo admite que é tudo especulação e que não pode provar. Mas, como é um nobelista, tudo o que ele diz ganha uma dimensão muito maior.

Não que essa especulação (sobre inteligência e problemas mentais) seja totalmente sem base. Percebemos a quantidade de gênios pirados por aí: só na matemática, Göedel, Cantor, Turing (ok, podemos atribuir os problemas dele à opressão da sociedade inglesa de meados do século passado contra os homossexuais), Nash, Newton... Talvez a idéia de cientista maluco ou de doido genial não seja completamente desprovida de fundamentos afinal. Mas pode ser que sejam apenas casos anedóticos, seria preciso uma pesquisa comparativa mais inclusiva.

Um amigo meu, membro da Mensa, tentou me convencer a me filiar a ela. Porém para tanto é preciso obter uma pontuação alta em teste de QI - ali a partir de 120. O meu não vai muito além do 110-115 - os testes são ajustados geralmente para que a média populacional corresponda a 100 pontos, o padrão de normalidade é em torno de 90 a 110. Claro, dá uma certa inveja dessas pessoas inteligentes - ou que tenham o dom para a matemática, ou para a música, ou para a literatura, ou para a física, etc. Porém, bancando um pouco a raposa a desdenhar das uvas, se se é inteligente demais, creio que a pessoa passe a se sentir um tanto deslocada em meio a uma multidão de pessoas intelectualmente menos dotadas. Deve ser chato se ver em meio a pessoas que não entendem nada do que você diz, por mais claramente que você diga as coisas, elas simplesmente não alcançam o ponto em que você está. (Ocasionalmente tenho uma pálida idéia disso quando me vejo em discussões interneteiras sem fim com sujeitos amalucados a falar de coisas sem nexo - claro que não sei bem se a pessoa é que não tem um nível suficiente para me compreender, um borderline, ou se ela está no nível de gênio de modo que eu é que não sou capaz de entendê-la completamente.) Nesse sentido, a mediocridade é muito boa - você conseguirá se comunicar com um número muito maior de pessoas, sem se sentir fora de lugar. Então, sob esse aspecto, não tenho tanta inveja de estar abaixo da linha da genialidade. Mas se é para ser medíocre, que seja um mediano superior: assim, na faixa entre 90 e 110, melhor ficar próximo do 110. Se se esforçar muito e prestar bastante atenção, talvez seja possível entender uma coisa e outra do que os gênios dizem. Isso ilumina nossas mentes. Sim, desde que não seja uma imprecação racista a la Watson.

*título do álbum de estréia (1996) de Tracy Bonham.

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