De 30 de junho a 2 de julho foi realizada a 6a. Conferência Mundial de Jornalistas Científicos, em Londres. O evento foi patrocinado pela revista científica Nature, que dedicou um suplemento especial sobre o tema.
A premissa de partida nas análises do suplemento da Nature é que o jornalismo científico está sob ameaça, em crise, em declínio. Na minha visão, há um movimento de onda no espaço dado ao jornalismo científico: às vezes as editorias de Ciências nos jornais e revistas aumentam de tamanho, às vezes deseparecem. É possível que estejamos em uma fase de retração - acompanhando, entre outras coisas, a recessão econômica. Mas, de modo geral, o jornalismo impresso é tido como em crise: suas tiragens e vendagens vêm caindo ano a ano - o James da vez é a Internet.
Coloco aqui alguns questionamentos e observações levantados nos textos na Nature (atenção, não é um resumo nem mesmo um sumário de todas as idéias apresentadas, apenas uma coleção não representativa, recomendo fortemente que leiam os textos):
- O que mais um pesquisador pode querer de um jornalista além da inteligência necessária para reconhecer a importância do trabalho do pesquisador e da habilidade em escrever seu nome corretamente? [1]
- Ciência e jornalismo não são culturas totalmente estranhas entre si. Eles se constroem a partir dos mesmos fundamentos: a crença de que as conclusões necessitam de evidências/indícios, que as evidências/indícios devem ser abertos ao exame de todos e que tudo está sujeito ao questionamento. Ambas as profissões são constituídas por céticos profissionais; [1]
- Não há escassez de informações científicas; na verdade há uma explosão de informações disponíveis na web; mas na prática somente aqueles que a procuram irão encontrá-la; parte do trabalho de organizar e interpretar essas informações está sendo desempenhado pelo blogues sobre ciências, na maior parte dos casos, mantidos por jovens cientistas; muitos jornalistas usam esses blogues como fonte de pesquisa; [2]
- Tweeter e blogues abrem informações de encontros científicos para pessoas que não estão lá; isso pode dar acesso excessivo a dados brutos? Há um conflito entre a "open science" (dados gerados por pesquisas financiadas com dinheiro público deve ficar disponíveis a todos) e a questão da "prioridade" (os pesquisadores que suaram para gerar os dados devem ter o direito de analisá-los adequadamente e apresentá-los sob a forma de publicações inéditas), grupos rivais podem se aproveitar dos dados e "passar a perna" na concorrência; [3]
- O jornalismo científico está em decadência, a blogagem científica está em ascenção. Um pode substituir o outro? Alguns blogueiros científicos estão sendo contratados por jornais para escrever colunas semanais sobre ciências; [4]
- O jornalismo científico atual é movido a press-release, em especial, dos principais jornalões de ciências: Nature, Science, The Lancet et similia. O papel do jornalista seria o de prover uma contextualização e crítica aos trabalhos. Mas para isso seria preciso abrir a "caixa-preta" do processo de revisão pelos pares: quais os critérios para um tabalho ser aceito para a publicação? qual o papel do referee? [5]
- Em 1978 o New York Times lança sua seção de Ciências. Em 1987, 147 jornais americanos tinha pelo menos uma página semanal sobre ciências e havia 6 revistas sobre ciências. De lá para cá as seções de Ciências foram fechadas e o número de revistas declinou. [6]
[1] Cheerleader or watchdog?
[2] Filling the void
[3] Breaking the convention?
[4] Supplanting the old media?
[5] Toppling the priesthood
[6] Too close for comfort
quarta-feira, 8 de julho de 2009
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