No mundo, em 27 de julho, totalizavam-se 134.503 casos confirmados, com 816 mortes. Isso eleva o índice de mortalidade para 6,07 mortes por 10 mil casos (0,6%).
A imprensa parece ainda trabalhar com o índice de mortalidade de 0,45% - que valia até o começo do mês. Ainda divulgam que essa taxa é próxima à da gripe comum. Mas pela literatura, a taxa de mortalidade da gripe comum fica na casa do 0,1%.
----------------
"The number of deaths is proportional to the number of people infected, usually about 0·1%, and influenza has been described as an invariable disease caused by a variable virus."
http://www3.interscience.wiley.com/cgi-
"Estimated average seasonal influenza-associated excess mortality amounted to 16.0 (range: 2.9 to 40.6) excess deaths per 100,000 population. The conservative estimate was 7.8 (range: 0 to 26.1) deaths per 100,000 population (table 1)."
http://www.ete-online.com/content/2/1/6
"Seasonal influenza is a major cause of vaccine‐preventable disease mortality, causing an estimated 250,000–500,000 deaths annually worldwide and 30,000–50,000 deaths in the United States [1]. In a typical year in the United States, there are an estimated 25–50 million cases of influenza [...]"
http://www.journals.uchicago.edu/doi/fu
----------------
No Brasil, são, hoje, 45 mortes confirmadas, em 1.566 casos confirmados: 2,87% ou 287 mortes a cada 10 mil casos.
Seria leviano se eu dissesse que foi por isso que o MS adotou uma nova fórmula de cálculo. Distinguindo letalidade, calculada pela divisão do número de óbitos pelo número de casos *graves*, da mortalidade, calculada pela divisão do número de óbitos pelo número de *habitantes*. Tem, aparentemente, anuência da OMS, mas isso tem um potencial de gerar uma distorção mais séria.
No primeiro caso, é intuitivo que pacientes que apresentam um quadro mais grave tenham mais chances de acabar falecendo. Se uma doença A tem uma letalidade como acima definida de, digamos 20%, e uma doença B, apresenta uma mesma letalidade, serão as duas doenças de igual gravidade? Bem, e se, para a doença A, 70% dos pacientes desenvolvem um quadro grave, enquanto que para a doença B, apenas 10% dos pacientes têm um quadro grave?
No momento, segundo dados do MS, 14,2% dos pacientes diagnosticados com a gripe A(H1N1) desenvolveram um quadro considerado moderado a grave (com sintomas além da febre e da tosse), e 17% dos pacientes diagnosticados com a gripe sazonal evoluíram para o mesmo quadro. No entanto, esses números são dinâmicos - dependendo de uma série de fatores, incluindo o quanto a rede médico-hospitalar está preparada para receber os pacientes, qual será a dinâmica do espalhamento da doença, se o clima será mais severo ou menos rigoroso, se haverá grandes engarrafamentos ou não...
No caso, da mortalidade, de um lado, o número de habitantes no país pode acabar achatando demais os números. 0,015 óbitos por 100 mil habitantes pode não parecer muito. Uma doença com 1 morte por 100 mil habitantes pode parecer mais assustadora. Mas isso pode não se refletir na letalidade da doença - e que tem a restrição acima mencionada.
Verdade que nenhum número por si só dará o quadro completo, mesmo uma coleção de números pode ser enganosa. Mas quando o sistema de cálculo muda, quando as regras do jogo mudam no meio do caminho, isso pode causar confusão de um lado e desconfiança de outro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário