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segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Entrevista com uma médica geneticista - Lavinia Schüler Faccini

O Ministério da Saúde anunciou uma alteração no critério de diagnóstico de bebês com microcefalia. Até então, a medida de perímetro cefálico adotada era de 33 cm ou menos; a partir de 04/dez/2015, um novo valor foi adotado: de 32 cm ou menos.

Abaixo segue entrevista concedida gentilmente pelo facebook pela Profa. Dra. Lavinia Schüler Faccini, médica geneticista da UFRGS e presidente da Sociedade Brasileira de Genética Médica, sobre a mudança.
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GR. Basta o bebê ter 32 cm de perímetro cefálico (PC) ao nascer para ser considerado microcefálico ou há outros exames complementares (quais)? Na medição, de acordo com o modo como a fita é alinhada, não pode haver alteração do valor?
LF. O perímetro cefálico de 32 cm é baseado em evidências científicas, literatura internacional, critérios adotados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e significa que esta circunferência é inferior a dois desvios padrão em relação à média da população e, crianças nascidas de 40 semanas, ou o que chamamos a termo. O ideal seria que sempre fosse usado o gráfico de perímetro cefálico de acordo com a idade gestacional e sexo do paciente, mas sabemos que isso não acontece na prática dos berçários, então para RNs a termo foi solicitado fixar o ponto de corte em 32 cm, ou seja, um ponto de corte mais adequado (aproximado a definição internacional de microcefalia).

No caso de usar 33 cm, incluiríamos 12,5% para RNs meninos e 23% de meninas, o que é completamente normal para um RN a termo, ou seja, muitas crianças serão triadas desnecessariamente (e isso inclui radiação de uma tomografia computadorizada), além de angústia desnecessária aos pais, devido a um ponto de corte equivocado.

É claro que a medida do PC deve ser acompanhada mensalmente após o nascimento e qualquer desaceleração do PC que coloque a medida da criança com PC abaixo de -2DP também deve levantar a suspeita e notificação do caso como deve ocorrer com qualquer lactente que mantém puericultura.

GR. Nas redes sociais, houve quem considerasse a alteração do critério de inclusão de casos suspeitos de microcefalia de 33 cm de PC ao nascer para 32 cm como uma medida do governo para diminuir o total de casos e, assim, a gravidade do surto de microcefalia. Qual a real motivação que levou o Ministério da Saúde a adotar o novo critério? E como isso afeta a situação de Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (ESPIN)?
LF. Parte já está explicada acima, mas é importante salientar que qualquer mãe que tiver SUSPEITA ou CONFIRMAÇÃO de infecção por zika vai ter seu bebê examinado e cuidado, independente do perímetro cefálico.

GR. Na ficha de notificação é registrado o tamanho do perímetro cefálico dos bebês ou apenas o estado de microcefalia (isto é, aponta apenas que se trata de indivíduo microcefálico, sem especificar o tamanho)?
LF. Deve ser registrado o perímetro cefálico.

GR. Esse valor de 32 cm é critério universal ou varia de país para país e de região para região e de acordo com a época?
LF. Como falei acima o ideal é medir e comparar com as curvas de crescimento considerando a idade gestacional e o sexo do bebê. Mas se isto não for viável, o PC de 32 cm é uma boa medida para bebês nascidos A TERMO.
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