Jared Diamond é um ecólogo americano autor de vários livros de divulgação (alguns traduzidos para o português: Colapso; Armas, Germes e Aço; Por que o sexo é divertido?) e de artigos técnicos (que vai de fisiologia - sua formação inicial - à história ecológica - o ramo a que atualmente mais se dedica).
Seus trabalhos de divulgação deram-lhe destaque na impresa especializada e na leiga. Confesso que não li nenhum de seus trabalhos, mas estão na minha wish-list. Ou estavam.
Recentemente Diamond sofreu uma acusação da mais alta gravidade. Membros de tribos de Papua-Nova Guiné abriram processo contra o pesquisador e a revista The New Yorker por injúria. No artigo, Diamond narra uma briga intertribal sanguinária movido pela vingança. Algumas das pessoas nomeadas disseram que a história é mentirosa e injuriosa.
O cientista ainda não disse nada a respeito. Temos que aguardar o desenrolar dessa história.
Ainda que não seja um trabalho propriamente científico que está sob ataque, a integridade intelectual é o maior bem de um cientista. Se sua reputação cai em desgraça, ele não tem nada.
Como em algumas áreas como a antropologia o testemunho do cientista que descreve o trabalho é o principal - e, não raras vezes, o único - elemento disponível para a análise, a comprovação independente é complicada. (Sem falar nos casos em que o cientista autor do trabalho original atua como o único guardião do acesso ao grupo de pessoas estudadas, dificultando ou impossibilitando o contato com outros pesquisadores - às vezes por motivos razoáveis: p.e. medo que o contato excessivo com pessoas de fora acabem por descaracterizar a cultura do grupo, outras por mera vaidade.) Se uma dúvida séria paira no ar, todo o trabalho fica comprometido.
É difícil mensurar, no entanto, a extensão real dos casos de fraude. Há casos ruidosos como de Hwang Woo-Suk, mas nem sempre é fácil detectar atos de má-fé e uma certa cultura corporativista permite que se abafe muitos casos dentro do âmbito acadêmico. Não obstante alguns estudos procuram quantificar a ocorrência de atos lesivos ou potencialmente lesivos à integridade científica. Martinson e cols. (2005), garantindo o anonimato de seus entrevistados, descobriram que cerca de 1/3 dos cientistas da área de saúde já realizaram algum ato que pode ser definido como intelectualmente desonesto em seu trabalho científico: no limite, fraude. Jagsi e cols. (2009) analisando trabalhos publicados na área médica, perceberam que 29% deles tinha pelo menos um autor financiado ou de outro modo ligado à indústria farmacêutica diretamente interessada nos resultados.
Jagsi, R., Sheets, N., Jankovic, A., Motomura, A.R., Amarnath, S. & Ubel, P.A. 2009. Frequency, nature, effects, and correlates of conflicts of interest in published clinical cancer research. Cancer. Early view. DOI: 10.1002/cncr.24315
Martinson, B.C., Anderson, M.S. & De Vries, R. 2005. Scientists behaving badly. Nature 435, 737-8. doi:10.1038/435737a
Real, potencial ou imaginário, os casos de fraude minam muito a razão de ser do processo científico. A maior parte das análises conclui que o principal fator é a cobrança pela produtividade a qualquer custo - uma versão mais agressiva da famigerada "publish or perish". De todo modo, o ato final é uma decisão do próprio cientista que realiza atos pouco éticos ou mesmo fraude pura e simples. E por isso ele deve ser cobrado (claro que ao que digo isso alguém poderá levantar a sobrancelha e lembrar do efeito "mais santo que vós", de Epley & Dunning 2000).
Epley N. & Dunning, D. 2000. Feeling "Holier Than Thou": Are Self-Serving Assessments Produced by Errors in Self- or Social Prediction? Journal of Personality and Social Psychology, 79(6): 861-75. Link.
quarta-feira, 13 de maio de 2009
Diamonds are forever?
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