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Prezado Roberto Takata,
A propósito do comentário "o financiamento da masturbação sociológica pelo CNPq", postado pelo blogueiro Luis Nassif, sobre o qual você me pediu que escrevesse algo, tenho a dizer o seguinte:
Voltando ao trabalho no último dia 18, após viagem aos Estados Unidos, onde fui participar da mesa-redonda 'Brazil: Soccer and Identity', no XI Congresso Internacional da Brazilian Studies Association (BRASA), realizado na Universidade de Illinois, em Urbana-Champaign – aliás, como único brasileiro convidado da referida mesa –, com o trabalho “Gilberto Freyre's contribution to the‘invention’ of Brazilian nationality: ‘Foot-ball mulato’ and other writings”, fui surpreendido com o seu e-mail tratando de comentário postado pelo blogueiro Luis Nassif na página dele. Como você estava interessado no trabalho citado pelo blogueiro, mas fez referências à violência do comentário postado, não tive como respondê-lo logo, pois não tinha lido o blog, o que, aliás, por falta de absoluto interesse e tempo, jamais o fiz.
Para minha surpresa maior, ao ler o comentário do blogueiro, vi que se tratava, de fato, de despropositado ataque contra o nosso – de Jorge Ventura de Morais e meu – trabalho no campo da Sociologia dos Esportes. Na verdade, o blogueiro cita uma das atuais pesquisas de Jorge Ventura, que possibilita o pagamento de sua bolsa de produtividade, e alguns trechos pinçados de um artigo nosso sobre outra temática, ainda que na área da Sociologia dos Esportes. Frise-se que o artigo em tela resultou de projeto de pesquisa submetido e aprovado pelo CNPq, que o financiou parcialmente, e foi publicado em periódico acadêmico de programa de pós-graduação em Sociologia. Artigo, aliás, que compôs o relatório final da referida pesquisa, igualmente aprovado por comitê científico do CNPq.
Ao ler o comentário e conversar com Jorge Ventura, logo ficou claro que, na verdade, fingindo interesse em discutir o financiamento público de pesquisas na área das Ciências Sociais, tratava-se de retaliação do blogueiro em função de desentendimentos dele com Jorge Ventura, que havia dito, em seu Facebook, que achava “ruim” o blog dele. Infelizmente, muitas pessoas entraram na discussão sem conhecer os trabalhos citados nem as trajetórias acadêmicas de seus autores, e mais: sem conhecer as verdadeiras motivações do blogueiro. Com efeito, os comentários foram apenas ataques pessoais com uma motivação: alguém apontou legítimo desinteresse por um determinado blog. Assim, abusando da confiança e fidelidade que seus leitores depositam nele, o blogueiro agiu como alguns dos veículos de imprensa que fazem 'tabula rasa' da verdade e da reputação das pessoas.
Finalmente, aqui, não vou perder meu tempo, nem fazer com que os leitores de seu blog percam o deles, tratando da validade ou não de determinados objetos de estudos na área das Ciências Sociais. Quanto à Sociologia dos Esportes, para usar uma expressão cara a um clássico como Pierre Bourdieu, já é um campo de pesquisa consagrado mundialmente desde os anos 1960, após os estudos originais e seminais entabulados por Norbert Elias e Eric Dunning, e seus discípulos, sobre o tema. Isso para não citar os estudos anteriores de Johan Huizinga, Anatol Rosenfeld, entre tantos outros. Bem como os estudos acerca do cotidiano, como apontado em 'Nota de Desagravo a Jorge Ventura de Morais do PPGS-UFPE' (acessar: http://miliano.blogspot.com.
Entretanto, para quem se interessar por nossos trabalhos ou desejar conhecer nossas trajetórias acadêmicas, basta acessar a Plataforma Lattes do CNPq (www.cnpq.br). Dessa forma, ficará sabendo que, criado em 2006, o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Sociologia do Futebol (Nesf), uma colaboração entre a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), instituição em que trabalho – diferentemente do que escreveu o blogueiro –, já deu origem a trabalhos de conclusão de curso, dissertações e teses, a artigos publicados em livros e periódicos (impressos e eletrônicos) no Brasil, Argentina, México e Inglaterra e a artigos apresentados em eventos acadêmicos nacionais e internacionais (Chile, Colômbia, Inglaterra, Estados Unidos e Argentina). E mais: que, após a criação do Nesf, coordenamos Grupo de Trabalhos em encontros de Ciências Sociais do Norte e Nordeste (Ciso), da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs) e da Asociación Latinoamericana de Sociología (Alas), promovemos seminários nacionais e internacionais e, finalmente, realizamos várias pesquisas, todas parcialmente financiadas pelo CNPq.
Como se vê, realizar pesquisas na área das Ciências Sociais, qualquer que seja o campo e objeto de estudos, tem um alto custo pessoal e profissional, sobretudo porque é necessário atender aos rigorosos critérios dos comitês científicos das revistas e dos eventos acadêmicos, e das agências de fomento, que nos julgam de forma sistemática e contínua. E, no meu caso, pelo menos, realmente não sobra muito tempo para dar crédito a idiossincrasias de alguns blogueiros, que imaginam que a Internet é terra de ninguém ou o perdido paraíso... Por isso, apenas em respeito ao insistente interesse que você tem demonstrado desde a segunda-feira passada em obter alguma posição minha em relação ao episódio em tela, é que me dispus, uma semana depois, a quebrar o silêncio. Mas fico por aqui. Em definitivo.
Túlio Velho Barreto
Cientista político e pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco
Vice-coordenador do Nesf (UFPE/Fundação Joaquim Nabuco)-------------------
Upideite(25/set/2012): Estou tentando esclarecer com o jornalista Luís Nassif essa questão do desentendimento via Facebook.
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