Após a divulgação dos
resultados iniciais dos testes com a fosfoetanolamina sintética realizados pelo Grupo de Trabalho do MCTI, o grupo de Chierice contestou em entrevistas, comunicados e até em
ação junto ao MP para impugnar os relatórios (uma questão científica sendo decidida pelo judiciário?).
Aqui analiso algumas das alegações do grupo para invalidar os resultados apresentados no relatórios do GT do MCTI.
1) Os testes foram in vitro, mas só funciona in vivo por causa da metabolização da Pho-S pelo organismo.
O grupo do Chierice reportou resultados *in vitro*. E.g.: "
Synthetic phosphoethanolamine has in vitro and in vivo anti-leukemia effects" (grifo meu).
De todo modo, um dos próximos passos do GT é realizar testes in vivo.
2) As concentrações testadas pelo GT são muito abaixo das concentrações observadas pelo grupo de Chierice em que a Pho-S faz efeito.
Concentrações de 100µM a 10.000µM foram
testadas pelo GT, o que corresponde a 0,1mM a 10mM. Trabalho do grupo de
Chierice reportou ação com IC50 de 6mM a 12mM (contra células de leucemia**). Outro trabalho, com células de câncer renal em ratos, obteve um
IC50 de 73mM.**
Na avaliação com a
mistura das cápsulas, concentrações de até 100mM foram testadas, obtendo-se um IC50 da mistura entre 8,6mM a 75,9mM, compatível com o observado pelo grupo de Chierice. E compatível com o achado de que entre os componentes da mistura, apenas a monoetanolamina (que corresponde
de 18,2% a 37,5% do total) apresentou efeito citotóxico, com IC50 entre 3,3mM e 7,7mM.
3) O estudo não pode comparar o efeito da Pho-S com quimioterápicos convencionais por apresentar efeito antiproliferativo diverso destes.
Efeito antiproliferativo é efeito antiproliferativo quando se resume ao que importa: impede ou não a reprodução de células tumorais? Aí é questão de aplicar o tratamento e verificar o quanto a reprodução é impedida (ou não) quando comparada ao controle (situação em que as células tumorais recebem todos os compostos do tratamento, menos o cujo efeito se pretende avaliar).
Claro que outros efeitos devem ser levados em conta: o preço final, efeitos colaterais, a facilidade de aplicação, etc. Mas isso são realizados em outros testes.
Para se medir o efeito in vitro sobre células é necessário utilizar-se também o controle positivo, com substâncias que sabemos que têm efeito (e qual o tamanho do efeito esperado). Isso porque, imagine-se a situação em que nem o controle negativo (sem nenhum composto sabida ou alegadamente inibidor) nem o teste com a Pho-S parecem apresentar alteração da reprodução das células tumorais testadas. De repente, o problema pode ser com as células testadas (aquele lote em específico não responde a nenhum inibidor); mas o controle positivo ajuda a verificar essa situação.
4) A técnica de análise usada para determinar o conteúdo das cápsulas alterou sua composição química.*
A
técnica utilizada, a ressonância magnética nuclear, envolve mudança de spin dos núcleos atômicos. Essa alteração representa uma energia muito pequena, da ordem de
menos de 0,4 J/mol; em comparação a transição infravermelha (que se relaciona a agitação térmica molecular) é da ordem de 4.000 a 40.000 J/mol; a transição eletrônica (mudança do nível de energia do elétron da molécula - ligado a reações químicas) é da ordem de 10.000 a 1.000.000 J/mol.
Ou seja, a espectroscopia por RMN
não tem energia suficiente para causar reações químicas e alterar a composição do material analisado. E nem poderia ser diferente, do contrário, seria inútil como técnica analítica e nem seria utilizada ou haveria
m de ser
em aplicadas técnicas para levar em conta essas alterações para se determinar a composição inicial.
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Mais tarde acrescento mais análise de outras objeções científico-metodológicas aos estudos do GT de que tomar conhecimento.
*
Upideite(29/mar/2016): adido a esta data.
**
Upideite(18/abr/2016): adido a esta data.