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quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Sobre a hipótese Nil Moretto: ocupar espaços com ciência combate desinformação?

A jornalista Nil Moretto, do canal Cadê a Chave?, tuitou a respeito da necessidade de cientistas e especialistas se comunicarem mais diretamente com o público:
A proposta foi bastante disseminada: mais de 4.000 retweets e 20 mil curtidas até o momento; e bastante comentada, quase 390 respostas diretas, mais RTs comentados e menções indiretas.

Vários divulgadores se apresentaram como já ocupando espaços no Youtube (como o pessoal do SVBr), twitter e outras mídias sociais. Uma compilação de podcasts e canais no YT começou a ser feita: primeiro no GDocs por iniciativa de Gabriela Sobral, dos Dragões de Garagem, e depois no GitHub (lista aqui), por @Brilvio e @ChofenAdulto.

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Acho que a hipótese da Nil Moretto - de que uma participação maciça e massiva de cientistas e pesquisadores nas mídias sociais falando de ciências ajudaria a diminuir o problema das fake news, das teorias conspiratórias, da anticiência e cia. -  merece ser testada, ainda que eu seja pessoalmente reticente.

Minha reticência parte de uma discordância no diagnóstico de Moretto: de que há carência de informação. Como citei acima, vários divulgadores começaram a apresentar a si e a seus projetos aproveitando a repercussão. Há informação de qualidade presente em todas as plataformas e em uma quantidade razoável, mas, mais do que isso, facilmente localizáveis. É difícil diagnosticar exatamente por que tais informações não circulam muito pra fora das bolhas. Claro que sempre se pode alegar que é pelo simples fato de o público não se interessar pelas ciências - embora pesquisas de percepção captem uma *declaração* de interesse, a quantidade de informação retida (possivelmente refletindo o baixo consumo) é pequena (poucos conseguem nomear uma instituições brasileira de pesquisa ou um cientista nacional). De qualquer modo, embora um maior número de pontos na rede (cientistas) possam ajudar no volume de informação circulante, é um tanto duvidoso de que isso bastaria para fazê-la romper as bolhas: as conexões de cientistas tendem a ser muito similares, atraindo já um público interessado e que consome informações científicas.

Mas isso é pouco mais do que um palpite meu. Daí que acho que mereça uma investigação. Pode, sim, ser o caso de que a hipótese Moretto esteja correta.

Aqui no GR comentei anteriormente alguns pontos de potenciais vantagens: para os cientistas, para a comunidade científica/acadêmica, para o cidadão comum e para a sociedade - de haver divulgação das ciências.

Entre os ganhos potenciais, podemos destacar:
.para os cientistas: 1) maior visibilidade da pesquisa, 2) construção da reputação (virar referência para a comunidade externa), 3) melhora da habilidade comunicativa interpessoal.
.para as ciências: 1) maior apoio a ela, 2) criação de uma base de comunicação, 3) atração de talentos.
.para a sociedade: 1) aumento da confiança nas ciências, 2) população tomando decisões bem informadas.

Mas há riscos potenciais também:
.para os cientistas: 1) haters, negacionistas, anticiência, fanáticos, 2) resistência da própria comunidade científica (inclusive com risco à carreira).
.para as ciências: 1) efeito backfire (especialmente sem um preparo prévio adequado dos cientistas comunicadores), 2) queda da produção acadêmica (a boa comunicação é uma atividade que consome recursos, tempo e energia).
.para a sociedade: 1) diminuição da confiança no conhecimento científico por backfire (políticas públicas que ignoram as ciências podem dar problemas bastante graves), 2) criação de pseudoespecialistas (os que vão surfar na onda, ocorrência de efeito Dunning-Kruger), 3) queda na produção científica.

São resultados que potencialmente podem ocorrer e, ao menos em casos isolados, há registros de sua ocorrência. Mas prevalecem os efeitos benéficos ou os prejudiciais? A diversidade de vozes se torna mais democrática ou passa a ocorrer interferência e ruído?

Isso apenas testes controlados podem ajudar a responder.

Veja também:
Leitura ObrigaHistória. 05.fev.2019. Ocupando espaços virtuais com ciências: alguns apontamentos.

4 comentários:

Ricardo disse...

Achei excelente a abordagem, e concordo com praticamente todas as questões levantadas.

Minha opinião: a idiotice está ganhando, visto que a desinformação tem presença online maciçamente maior do que a razão e a ciência. Mas não acredito que apenas "ocupar espaços com ciência" ajude muito, principalmente de modo tradicional. É preciso tornar a abordagem da ciência algo muito atraente para combater a desinformação propulsionada por clickbaits, e ela precisa ser muito acessível para ser compreendida e valorizada pela população. Infelizmente isso exige esforço e dedicação, e implica riscos como os citados no artigo...

none disse...

Salve, Ferreira,

Grato pela visita e comentário.

Pois é, é um monte de trabalho pra resultados que não sabemos direito quais serão. Acho que precisamos aprofundar as pesquisas sobre DC para orientar melhor os comunicadores sobre estratégias mais promissoras para determinados públicos. Mas isso demanda trabalho também.

[]s,

Roberto Takata

Blog do Júlio Locher disse...

Temos um "pacto de burrice", onde assuntos que não sejam tiriríticos não entram!

none disse...

Salve, Locher,

Motivar as pessoas a consumirem mais ciências e informações de qualidade realmente é um problema. Pesquisas estão em andamento, mas, por enquanto, é muito na base da tentativa e erro.

Grato pela visita e comentário.

[]s,

Roberto Takata

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