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sábado, 23 de abril de 2011

Hey, Hubble: a imagem mais fantástica do Universo

O telescópio espacial Hubble (HST) homenageia em seu nome um dos maiores da astronomia: Edwin Hubble. Hubble, o astrônomo, entre outras coisas, estabeleceu que a Via Láctea era apenas uma dentre diversas outras galáxias, criou um sistema de classificação de tipos galáticos e descobriu uma relação entre a distância das galáxias e a velocidade de afastamento (conhecida como Lei de Hubble). A lei de Hubble - junto com outros detalhes - terminaria por nos indicar que o Universo teve um começo no tempo e sua idade era de bilhões de anos (atualmente estima-se que seja de 13,7 bilhões de anos).

O telescópio faria jus ao nome. Nestes 21 anos de operação - que começou com um fiasco: defeito em seu espelho impedia a observação nítida de objetos muito distantes (o aparato era míope). Parecia um elefante branco espacial de 1 bilhão de dólares. Uma missão de conserto, porém, conseguiu acoplar um sistema óptico de compensação e, a partir disso, não pararam de chegar imagens espetaculares do Universo.

Uma descoberta com base nos dados do telescópio Hubble que podemos colocar no nível das do astrônomo Hubble é que o Universo na verdade está *acelerando* sua expansão.

Mas são mesmo as imagens de alta resolução de objetos e fenômenos espaciais: nuvens estelares, galáxias, supernovas... que tem cativado o público. (Por um bom tempo, da pouco mais de meia página diária que o jornal Folha de São Paulo dedicava às Ciências, mais da metade era ocupada por uma bela imagem - quase sempre do HST.) Para mim, a mais espetacular é uma imagem do campo profundo mostrando as galáxias mais distantes observadas opticamente até então (isto é, por meio da luz visível emitida pelas galáxias).


Algumas das galáxias da imagem aparecem em um estado de quando o Universo tinha menos de 1 bilhão de anos de idade.

Olhando fixamente na imagem e tentando entender pela primeira vez a distância no espaço e no tempo que ela trazia e o fato da tecnologia ter conseguido nos fazer ver causou-me uma comoção profunda. Um sentimento de arrebatamento. Minha cabeça explodiu, parecia que todas as sinapses fervilhavam. E eu me senti tão intimamente unido não apenas àqueles pontos luminosos tão distantes, mas a todo o cosmo e a toda a Terra.

Chame de experiência mística se quiser, mas foi uma sensação como poucas vezes havia experimentado e voltei a experimentar (era a segunda vez que percebia e sentia essa comunhão cósmica de estar verdadeiramente integrado à toda ordem e caos do Universo). Sei que não é algo que eu poderei fazer alguém vivenciar com meras palavras - e deve ser melhor assim. Não é tampouco um sentimento que desperte em mim toda vez que olho a imagem.

Mas para a minha experiência privada essa imagem simboliza o quanto a ciência pode, ao contrário do que reza ladainha (re)corrente, tocar um ser humano (ei, eu sou um, ok? :p), emocioná-lo, comovê-lo, iluminá-lo, encantá-lo, maravilhá-lo, instigá-lo, cativá-lo, libertá-lo, transformá-lo.

Eu só tenho a dizer: obrigado, Hubble, excelente trabalho.*

E você, solitário(a) leitor(a) deste blogue, qual das imagens científicas foi mais marcante?

*Obs: naturalmente o Hubble aqui, o telescópio, representa toda a equipa de cientistas e engenheiros que o projetaram, lançaram, corrigiram, operaram, bem como os que analisaram e interpretaram os dados; mais ainda toda a geração anterior de mulheres e homens - Hubble, o astrônomo, incluído - que construíram o conhecimento necessário para que o HST pudesse ser posto em órbita e produzir essas maravilhas.
Obs2: esta postagem foi inspirada em um tweet do Prof. Dulcidio, do Física na Veia. Uma imagem da Terra (crescente ou minguante?) vista da Lua (claro, não é do Hubble): mostrando muito bem o que Buzz Aldrin chamou de "magnífica desolação" ("magnificent desolation").

Upideite(27/set/2012): O HST produziu ainda as imagens de campo ultraprofundo em 2004 e de campo extremamente profundo agora em 2012.

6 comentários:

Andre disse...

Muito bacana o seu texto.

A ciência também me "emociona", muito. Eu gostei muito de um vídeo recente produzido por um jornalista a caminho de Paris (saindo aqui dos USA), onde ele conseguiu captar imagens super bacanas da Aurora Boreal. Eu sei que o fenômeno já foi capturado várias vezes, mas essas imagens particularmente me deixaram bem fascinado!!! :-)

http://noticias.uol.com.br/ultnot/multi/2011/04/11/04028D9A3472DC990326.jhtm

Boa postagem!!!

none disse...

Salve, Souza,

É, auroras boreal e austral são coisas q um dia gostaria de ver in loco.

Valeu pela visita e comentário.

[]s,

Roberto Takata

Museu de Ciências Morfológicas disse...

nossa que foto linda!!

conheça nosso blog

mcm.cb.ufrn.br

Fernando Ariel Genta disse...

Parabéns Takata, teu blog tá muito chique!

Eu ainda me emociono muito com os dados e resultados, ou com alguma análise que revele um aspecto novo de qualquer coisa. Foi muito legal você ter compartilhado tua experiência, ainda mais num texto bem escrito assim, ótima leitura.

Grande abraço!

none disse...

Salve, Genta,

Valeu. Mas os parabéns devem ir para a equipe do HST.

[]s,

Roberto Takata

none disse...

Valeu, Genta!

[]s,

Roberto Takata

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