Linhagem humana separou-se dos macacos antes do que se pensava
"O último ancestral compartilhado entre macacos e humanos viveu provavelmente entre 28 e 24 milhões de anos atrás, alguns milhões de anos depois do que se pensava."
O original, reproduzido pelo Yahoo!News, conta uma história bem distinta:
Human lineage split from monkeys later than thought: study
Antes vamos dar espaço para a patrulha purista vocabular. Em inglês, há a distinção entre monkey e apes. Monkey são macacos com cauda. É um termo não-taxonômico - agrupa os platirrinos (macacos do Novo Mundo - macaco-aranha, bugio, saguis, micos...) e parte dos catarrinos: cercopitecóides (macacos de cauda do Velho Mundo - macaco-verde, cólobo, reso...). Ape designa macacos sem cauda (ou de cauda curta): os hilobatídeos (gibões e siamango) e os hominídeos (orangotando, humanos, chimpanzés, bonobos e gorilas). (Figura 1.)
Em português não há essa distinção. Macacos (e símios) referem-se a todos esses grupos (com exceção de humanos). Então alguém que lesse a notícia em português ficaria espantado: já que Lucy e outros australopitecinos são datados em cerca de 4 milhões de anos e Ardipithecus ramidus cerca de 4,4 milhões de anos. Seria um salto gigantesco até os 24-28 milhões de anos.
O que o fóssil referido do Saadanius hijazensis, descrito por Zalmout et al. 2010, ajuda a datar é a separação entre monkeys e apes: na verdade, entre
Agora, later é "mais tarde". A separação correu mais cedo ou mais tarde? Se os dados anteriores disponíveis eram genômicos e indicavam uma data de 29,2 a 34,5 milhões de anos atrás, 24-28 milhões de anos é um tempo mais tardio e não mais cedo. Mas, por outro lado, os paleontólogos estimavam a divergência cercopitecoidea/hominoidea entre 23 e 25 milhões de anos atrás. O intervalo 24-28 milhões de anos é um pouco mais cedo - ainda que sobreposto parcialmente. Porém, como um fóssil registra o tempo máximo de divergência, não é impossível que fósseis mais antigos sejam encontrados e o tempo recue para o intervalo apontado pelos dados genéticos.
Em suma
Quem: grupo de pesquisadores dos EUA e da Arábia Saudita.
O quê: Fóssil de Saadanius hijazensis (do. ár. saadan, macaco e Al Hijaz, província ocidental da Arábia Saudita onde o material foi descoberto) - material cranial parcial.
Importância: preenche uma lacuna no registro fóssil entre os propliopitecóides (de 30-35 milhões de anos atrás) e os hominóides mais antigos (proconsulídeos de cerca de 23 milhões de anos atrás).
Referência
Zalmout, I., Sanders, W., MacLatchy, L., Gunnell, G., Al-Mufarreh, Y., Ali, M., Nasser, A., Al-Masari, A., Al-Sobhi, S., Nadhra, A., Matari, A., Wilson, J., & Gingerich, P. (2010). New Oligocene primate from Saudi Arabia and the divergence of apes and Old World monkeys Nature, 466 (7304), 360-364 DOI: 10.1038/nature09094
Copirraite da figura 2: 2467870826872
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*Upideite(16/jul/2010): corrigido a esta data.
4 comentários:
Ótimo texto!
Já escreveu para a Folha comentando o equívoco?
Abraço!
Valeu, Beijamini,
Acabei não escrevendo nada pra Folha - embora eu tenha o hábito de comunicar erros. É que ficaria complicado explicar isso tudo na caixa de texto do comunicar erros.
[]s,
Roberto Takata
Roberto, você tem alguma postagem falando sobre homossexualismo x evolução?
Salve, André,
Não tenho especificamente sobre isso. Há três postagens que tocam no tema, mas não de modo aprofundado:
http://genereporter.blogspot.com/2009/09/debaixo-dos-caracois-dos-teus-cabelos.html
http://genereporter.blogspot.com/2009/03/brendan-zietsch-responde-ruth-de-aquino.html
http://genereporter.blogspot.com/2009/03/o-roto-e-o-rasgado.html
[]s,
Roberto Takata
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