Lives de Ciência

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domingo, 4 de julho de 2010

"O maior erro da minha vida"*

Quem nunca errou? Cientistas e filósofos também erram - e, como dizem, quanto maior a altura maior a queda: seja a altura da grandeza científica e intelectual de quem diz, seja o tamanho da barbaridade dita. Esta é mais uma postagem com compilações temáticas: frases definitivas de cientistas e pensadores afirmando ou negando veementemente alguma coisa para depois mostrar-se que estavam redondamente enganados.

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"Quão triste, não é?, ver toda uma cidade tentar validar um conto popular... o leitor filosófico tirará suas próprias conclusões a respeito deste documento, que dá fé a um fato aparentemente falso, um fenômeno fisicamente impossível" - Pierre Berthelon, editor do Journal des Sciences Utiles, em 1791, a respeito de um documento assinado pelo prefeito e vereadores da cidade de Agen dizendo que 300 cidadãos viram a queda de uma bola de fogo (meteorito) do céu. Resultados de análises químicas publicados em 1802 por Edward Howard, químico britânico, e Jacques-Louis de Bournon, mineralogista francês, convenceram os cientistas da origem extraterrestre dos meteoritos.

"Jamais poderemos, por nenhum meio, investigar sua composição química" - Auguste Comte, filósofo francês, em 1842, sobre a possibilidade de se descobrir a natureza das estrelas. Em 1859, Gustav Kirchhoff, fisico alemão, iniciou o desenvolvimento da espectroscopia, vindo a descobrir a composição do Sol e de outras estrelas.

"Essa conclusão não afetou o desenvolvimento posterior da física e, provavelmente, jamais afetará" - Abraham "Bram" Pais, físico quântico teórico neerlandês, em 1982, a respeito do experimento mental EPR; no mesmo ano Alain Aspect, físico francês, publicou um experimento - baseado na inequação de Bell, que demonstrava que a conclusão de Einstein estava errada, demonstrando a validade dos princípios da mecânica quântica.

"Em pouco anos, todas as principais constantes físicas terão sido aproximadamente estimadas e... a única ocupação que restará aos cientistas será conduzir essas medições para outra casa decimal" - James Clerk Maxwell, físico inglês, 1871, em uma aula inaugural na Universidade de Cambridge. Três anos depois, Max Planck, físico alemão, anunciaria sua fórmula da radiação do corpo negro, um dos primeiros trabalhos que abriria a fronteira da mecânica quântica. Mas Maxwell não estava sozinho nessa opinião equivocada: "As leis e os fatos mais fundamentais das ciências físicas foram todos descobertos e estão tão firmemente estabelecidos que a possibilidade deles virem a ser suplantados em consequência de novas descobertas é extramemente remota" - Albert Michelson, físico americano, 1894, 1897 ou 1899 (encontrei variação na data atribuída - mas Lagemann 1959 joga um grão de sal nessa citação), em 1905, Einstein lançaria as bases da Teoria da Relatividade (por maior ironia, um dos trabalho de Michelson, em conjunto com Morley, teria um importante papel nessa teoria).

*"O maior erro de minha vida", foi o que declarou Einstein sobre a constante cosmológica quando ficou claro que o Universo estava em expansão. A constante cosmológica foi introduzida nas equações da relatividade geral de modo a cancelar o efeito global da atração gravitacional e impedir que um universo estático se colapsasse - com um universo em expansão tal constante não seria necessária. Mas mesmo nos erros grandes cientistas podem ser produtivos: a ideia da constante cosmológica - ou sua variação como a quintessência - foi resgatada com a descoberta de que o Universo provavelmente não está apenas de expandindo como essa expansão está acelerada. (Vide, p.e. Filippenko 2001.)
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São exemplos que mostram o perigo de afirmações peremptórias, de posições dogmáticas e mostram também caráter dinâmico do conhecimento científico. Mas não significam que qualquer contestação ao que se tem por bem estabelecido hoje é válida ou deva ser levada muito a sério: sim, teorias caem, porém não apenas por palavras de dúvida em relação à validade delas e, sim, por dados experimentais contrários às suas previsões (os dados de espectroscropia de estrelas, de análise química dos meteoritos, os resultados do experimento de Aspect...)

Referências:
Bertholon, P. 1791. Observation d'un globe de feu. Jour. des Sci. Utiles 4, 224-228.
Comte, A. 1842. Cours de philosophie positive.
Filippenko, A.V. 2001. Einstein’s Biggest Blunder? High‐Redshift Supernovae and the Accelerating Universe. Publications of the Astromonical Society of the Pacific 113: 1.441-8.
Lagemann, R. 1959. Michelson on measurement. American Journal of Physics 27(3): 182-4.
Pais, A. 1982. Subtle is the Lord. The science and the life of Albert Einstein, Oxford: Clarendon.

2 comentários:

Aluno da FAECAD e membro da Igreja de Nova Vida em Olaria RJ disse...

Deus está mostrando que ele criou todas as coisas e continua ativo.O elefante,um animal que foi criado no princípio ,seu fossil prova isso,o senhor Deus ama vcs,ouçam e vejam enquanto podem.Pesquisem ,há muitos animais que estão aparecendo sem nunca serem vistos ou estudados antes.Perdoe-me se fui grosseiro só me preocupo com a vida humana,obrigado.

none disse...

Prezado Seminarista Anônimo,

Grato pela visita e comentário.

[]s,

Roberto Takata

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