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quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Vilões da resistência: antibióticos e antissépticos: resposta

Minha resposta ao comentário de Karl do Ecce Medicus.

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Caro Karl,

Grato pelos comentários.

Quanto à terminologia, bem a literatura recente aplica o termo "resistente", "resistência" para o caso de antissépticos como o triclosano.

Pycke et al. 2010. Characterization of Triclosan-Resistant Mutants Reveals Multiple Antimicrobial Resistance Mechanisms in Rhodospirillum rubrum S1H. Applied and Environmental Microbiology 76(10): 3116-23.

Yu et al. 2010. Signature gene expression profile of triclosan-resistant Escherichia coli. J. Antimicrob. Chemother. doi: 10.1093/jac/dkq114

Zhu et al. 2010. Triclosan Resistance of Pseudomonas aeruginosa PAO1 Is Due to FabV, a Triclosan-Resistant Enoyl-Acyl Carrier Protein Reductase. Antimicrobial Agents and Chemotherapy 54(20: 689-698.
"Escherichia coli FabI is the prototypical triclosan-sensitive enoyl-ACP reductase, and E. coli is extremely sensitive to the biocide. However, other bacteria are resistant to triclosan, because they encode triclosan-resistant enoyl-ACP reductase isozymes. In contrast, the triclosan resistance of Pseudomonas aeruginosa PAO1 has been attributed to active efflux of the compound (R. Chuanchuen, R. R. Karkhoff-Schweizer, and H. P. Schweizer, Am. J. Infect. Control 31:124-127, 2003)."

Chen et al. 2009. Triclosan resistance in clinical isolates of Acinetobacter baumannii. J Med Microbiol 58: 1086-1091

Tanomaru et al. 2008. Antibacterial activity of four mouthrinses containing triclosan against salivary Staphilococus aureus. Brazilian Journal of Microbiology 39: 569-572
"Therefore, bacterial resistance to triclosan may occur due to multiple mechanisms, such as target mutations, increased target expression, active efflux from the cell, and enzymatic inactivation/degradation (14)."

Em relação à metodologia, sim, é importante ter uma visão crítica e sua observação nos traz uma alerta. Porém, como o que se faz normalmente é uma comparação - mudando-se apenas a linhagem testada, parece-me que não haveria tantos problemas assim.

Quanto à parte da deleção. Sim, quando o autor fez a deleção do gene acrAB, observou-se um aumento da susceptibilidade. Mas repare-se também que ele promoveu em outro experimento um *aumento* da expressão desse gene (e de outros) com a *diminuição* da susceptibilidade. Ele fez tanto um controle positivo quanto um negativo para implicar o acrAB (e outros genes) na resistência (ou insusceptibilidade) da linhagem de E. coli.
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7 comentários:

Unknown disse...

Takata, veja este estudo da Nature (que coloquei também no post do Karl) que traz uma nova compreensão da resistência/suscetibilidade das cepas:

http://www.nature.com/nature/journal/v467/n7311/abs/nature09354.html

none disse...

Érico,

Interessante, mas no caso de antissépticos não sei se a seleção por parentesco ajudaria a vida das linhagens resistentes (insusceptíveis), já que há um intercâmbio muito intenso com a recolonização por linhagens "selvagens" e o rápido esvanecimento do antisséptico.

[]s,

Roberto Takata

Unknown disse...

Takata,

Obrigado pela resposta. Entretanto, o conceito de resistência bacteriana a antibióticos é bastante diferente do de "resistência" a um antisséptico, em especial ao triclosan. Achar artigos em que os termos são utilizados não mudam os conceitos.

O ponto importante que acabou sendo levantado pelo artigo da veja e talvez, obscurecido por essa discussão, seria a "resistência" cruzada e a importância clínica de cepas "resistentes" aos antissépticos. Se achar alguma coisa sobre isso, por favor deixe-me saber.

none disse...

Karl,

Ainda na questão vocabular, apenas apontei q os termos são usados no contexto dos antissépticos. Verdade que pessoalmente não vejo utilidade na distinção entre resistência e insusceptibilidade se ambos se referem à capacidade de proliferar na presença de quantidade de compostos que normalmente inibem o crescimento de linhagens "selvagens" (ou as mata), sendo tal capacidade geneticamente herdável.

Em alguns artigos, inclusive aos que acabei linkando, falam na possibilidade de resistência cruzada - mas não vi nenhum que a demonstre. Se topar, certamente, avisá-lo-ei.

[]s,

Roberto Takata

Unknown disse...

São conceitos diferentes. Sua utilidade é a mesma utilidade de qualquer conceito. Fazem-nos ver as coisas.
Obrigado pelos esclarecimentos.

none disse...

Salve, Karl,

Podem fazer ver coisas que não existem tb. Ou deixar de ver coisas importantes. Como "resistência" é um termo mais geral - é usando tb no contexto de resistência de pragas à agrotóxicos - acho que é um bom termo para ter essa aplicação mais ampla.

Mas fique à vontade para fazer a defesa de se restringir o termo "resistência" para antibióticos.

[]s,

Roberto Takata

Unknown disse...

Desculpe, mas estava falando de "resistência bacteriana" e não resistência apenas. Conceitos...

Mudando de assunto: Um amigo infectologista me disse que leu um artigo no qual foi detectada uma resistência cruzada a antibióticos e antissépticos do tipo amônio quaternário. Vou atrás do artigo. Esse seria um dado interessante.

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