Lives de Ciência

Veja calendário das lives de ciência.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Divagação científica - divulgando ciências cientificamente 10

Em 1965, Edward K. Weaver e Eldred Black, baseados no trabalho de mestrado de Black, publicaram um artigo em que estudavam a correlação entre leitura de textos de ficção científica e o desenvolvimento do pensamento científico. Não encontraram nenhuma diferença significativa entre os leitores de FC e os de literatura não-FC.

Em 1977, Albert I. Berger publicou um estudo socioeconômico de fãs de FC. Entre outros resultados, obteve que (de 282 respondentes): 77 liam regularmente revistas científicas, 109 de modo irregular, 65 raramente, 27 nunca e 4 não responderam. Infelizmente não há dados disponíveis entre os que não são fãs de FC para comparar.

O sociólogo William Sims Bainbridge, em trabalho publicado em 1982, analisou a influência da FC sobre a atitude em relação à tecnologia. Ler livros ou assistir a filmes e séries de FC estava associado a uma maior probabilidade de apoiar a exploração espacial, porém não estava associado ao apoio a outras conquistas tecnocientíficas.

Em 2001, na pesquisa "Science and Engineering Indicators", foi feito um levantamento dos hábitos de leitura de FC entre os americanos adultos e o interesse em ciências. Esses dados estão sumarizados na tabela abaixo (Tabela 1).

Tabela 1. Leitura de FC por adultos americanos e interesse em ciências. Fonte: NSB 2002.

Há uma correlação entre o maior interesse em ciências e a leitura de FC, embora fraca. (Enquanto 30% do público em geral leiam FC; entre os que têm interesse por ciências, o número de leitores chega a 37%.) A relação de causa e efeito, claro, não é revelada por isso - a leitura de FC desperta interesse por ciências? Ou o interesse por ciências leva à leitura de FC? (As duas hipóteses são plausíveis e não são mutuamente excludentes.)

Referências
Bainbridge, W.S. 1982 - The Impact of Science Fiction on Attitudes Toward Technology. In E.M. Emme, ed. Science Fiction and Space Futures: Past and Present. San Diego, CA: Univelt. apud Hacker, B.C. 1984. Review [sem título]. Technology and Culture 25(3): 690-1. Disponível em: http://www.jstor.org/stable/3104239
Berger, A.I. 1977 - Science-Fiction Fans in Socio-Economic Perspective: Factors in the Social Consciousness of a Genre. Science Fiction Studies 4(3): 232-46. Disponível em: http://www.jstor.org/stable/4239132
National Science Board 2002 - Science and Engineering Indicators. Disponível em: http://www.nsf.gov/statistics/seind02/
Weaver, E.K. & Black, E. 1965 - The relationship of science fiction reading to reasoning abilities. Science Education 49(3): 293-6. Disponível em: http://www3.interscience.wiley.com/journal/112761993/abstract

4 comentários:

Osame Kinouchi disse...

Takata, acho que estes estudos tem o seguinte problema:

A questão é comparar os fãs de FC com os não-fãs de FC (chamarei de NFC) em termos de "letramento científico".

Faz-se dois grupos homogêneos (em termos de nivel educacional, renda etc).

Aplica-se um teste de letramento científico nos dois grupos.

Haverá tres possibilidades:

1. O grupo FC terá desempenho pior que o grupo NFC (por que a FC induz "misconceptions").
2. O grupo FC terá desempenho equivalente ao NFC (por que a FC é irrelevante para a formação de uma cultura científica)
3. O grupo FC terá desempenho superior ao NFC

Eu aposto um kit Colorado de que o resultado 3 será encontrado. Agora ficaremos com três hipóteses, pois afinal correlação não significa causação:

3a. Pessoas de melhor cultura científica acabam gostando de FC por hobby.
3b. Pessoas que gostam de FC adquirem, por meio dela, melhor cultura científica.
3c. FC e leitura de Divulgação Científica atuam em sinergia, ou seja, uma atividade estimula a outra e vice-versa. Entretanto, o letramento científico se dá pela DV, não pela FC.

Eu defendo a conclusão 3c. Foi nesse sentido que eu disse que a FC é um facilitador e contribui (de forma indireta, provendo vocabulário, interesse, curiosidade) para a DV. Será que fui mais claro?

none disse...

Kino,

Não vejo problema com esses estudos. Eles têm mesmo *outros* objetivos. Embora sejam questões afins: pensamento científico, apoio às tecnociências e interesse por elas.

O teste que vc sugere é respondido parcialmente pelo trabalho de Barnett et al. 2006.

[]s,

Roberto Takata

Unknown disse...

Acho que a tabela do post fornece evidencias mais fortes:

Observe as correlações:

Attentive: 63% (NFC) 37% (FC)
Interested: 66% (NFC) 33% (FC)
Residual: 77% (NFC) 23% (FC)

none disse...

É sugestivo, mas não é muito forte. Fazendo um teste de qui-quadrado de heterogeneidade para as classes "atencioso (muito interessado)" e "interessado" sob a hipótese nula de igual à média da população (70% e 30%), temos:

atencioso: 4,45
interessado: 5,87
total: 9,70

(atencioso+interessado)-total = 0,61

Para 2-1 = 1 grau de liberdade.

O qui-quadrado crítico para alfa = 5% é 3,84.

[]s,

Roberto Takata

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails