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terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Entrevista com um jornalista de ciências - Reinaldo José Lopes

Abaixo uma breve entrevista com o jornalista Reinaldo José Lopes (autor, vocês sabem, do Além de Darwin, do sciblogue: Carbono 14 e atualmente trabalhando como repórter da Folha de São Paulo) sobre ciências e jornalismo (dããã).

GR: O diploma de nível superior não é obrigatório para o exercício da profissão. Você acha que o diploma tem importância para o ofício de jornalismo? Por quê?

RJL: Acho que, da maneira como os cursos de jornalismo funcionavam até hoje, não. Por um motivo simples: eles estavam estruturados de um jeito ruim, sem dar uma formação sólida em nenhuma área pros estudantes. E o dia-a-dia da profissão era aprendido mesmo "na raça", já quando íamos para o mercado de trabalho. Acho que alguém formado num bom curso de letras, história ou mesmo biologia está mais preparado do que alguém formado num curso de jornalismo como eles são hoje.

GR: Como você faz para se manter atualizado de todas as novidades da área? É possível decifrar as publicações científicas ou se valem mais dos releases das publicações para entenderem o que foi feito?

RJL: Fazendo o que você disse: lendo as publicações científicas e conversando com cientistas. Os jornalistas têm a grande facilidade de poderem se cadastrar junto às grandes revistas científicas e lerem de graça os artigos de maior impacto. É possível decifrar ao menos o conteúdo principal desses artigos se você tiver uma base boa de ciência no ensino médio e vontade de aprender. Quanto mais você se dedica a entender as questões científicas, mais fácil fica decifrar tais textos.

GR: Com casos de fraudes e outros problemas, você considera que o conhecimento científico pode ser considerado confiável? Por quê? Como não sendo especialista no assunto pode conferir a correção do que é apresentado pelos cientistas? Acha que um cidadão comum tem mecanismos para fazer essa conferência?

RJL: De fato, é um conhecimento que não pode ser seguido cegamente -- mas isso vale para qualquer outro tipo de conhecimento. O importante é o sistema de autocorreção da ciência, em que resultados precisam ser replicados por outros pesquisadores para valer, e todos querem tentar achar as fraquezas nos dados e no raciocínio dos outros. Há uma certa seleção natural. Sobre não ser especialista: até aí, também dentro das ciências a especialização é tamanha que pouca gente seria capaz de se considerar expert em tudo. Creio que o importante é tentar entender o grande quadro teórico no qual uma pesquisa se insere, ver se há coerência dentro dele, e sempre ter em mente que aquele resultado é provisório. O mesmo vale para o cidadão comum: ele tem de estar ciente sobre como a ciência é provisória e tomar decisões com base nisso, inclusive não subordinando absolutamente políticas e diretrizes éticas apenas aos dados da ciência, embora recebendo o input dela.

GR: Qual a importância do conhecimento de ciências na vida do cidadão comum? E do jornalismo de ciências?

RJL: Claro que a inovação tecnológica e o crescimento econômico hoje dependem da ciência. Desafios éticos estão por todo o lado nas ciências da vida modernas. Mas o mais importante, creio, é a ampliação dos horizontes humanos que a ciência proporciona, e é isso que todos nós podemos e devemos ter em mente. Pro jornalista da área, além de ser uma ferramenta básica, o conhecimento de ciências é a principal arma para fomentar uma sociedade que entenda melhor o Universo e a si mesmo. E isso não tem preço.

2 comentários:

Maria Guimarães disse...

bela entrevista!
e fui legitimada: até uma formação em biologia presta!

none disse...

Oi, Maria,

Não perde por esperar sua vez. : ) (Sim, é uma ameaça.)

[]s,

Roberto Takata

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