Parece que só a existência de G.O.D. explicaria então a disseminação e a prevalência de tais teorias conspiratórias de várias naturezas e ordens.
Em 1994, um estudo de Ted Goertzel, com 348 moradores do sudoeste de Nova Jérsei, EUA, mostrou que 93,9% dos respondentes a uma entrevista por telefone acreditavam em algum grau em pelo menos uma de uma lista de 10 teorias conspiratórias. (Tabela 1.)
Tabela 1. Crença de americanos da Nova Jérsei, EUA,
em diferentes teorias conspiratórias. n = 348. Ano: 1994.
em diferentes teorias conspiratórias. n = 348. Ano: 1994.
Entre os achados, havia uma ligação entre as crenças: quem cria em uma teoria da conspiração, tinha grande probabilidade de crer em outras - a média foi de 3,34 crenças por pessoa. Pertencer a uma minoria social estava correlacionado com uma maior propensão a crer em algumas das teorias da conspiração apresentadas; ter a sensação de falta de ordem (anomia) também; e uma correlação inversa entre crença interpessoal (ter confiança nas outras pessoas) e a crença nas teorias da conspiração. (Boa parte da relação entre fazer parte de uma minoria e acreditar nas teorias da conspiração apresentada poderia ser explicada pelo fato de indivíduos pertencentes a uma minoria tenderem a sentir anomia e a ter menor crença interpessoal.)
O quanto isso é generalizável?
Em 1999, Marina Abalakina-Paap e colaboradores fizeram um estudo com 156 estudantes da New Mexico State University, EUA. Apresentaram uma lista de 22 teorias conspiratórias. A média foi de 5,73 crenças por pessoa. Novamente, membros de minorias tendiam a acreditar mais em teorias conspiratórias. A anomia, mais uma vez, foi correlacionada com a crença em teorias conspiratórias. Outros fatores correlacionados: crença em um estado forte, baixa auto-estima, sensação de impotência, desconfiança, hostilidade e crença de que não se tem o controle sobre o destino da própria vida.
Então, ao menos o fator tempo, o fator etário e a localização não parecem afetar muito a questão da crença em teorias conspiratórias. Infelizmente esses estudos referem-se somente à situação americana. Seria a paranoia uma característica dos habitantes dos EUA? G.O.D. knows. G.O.D., bless America!
Referências
Abalakina-Paap, M. et al. 1999 - Beliefs in conspiracies. Political Psychology 20(3): 637-47.
Goertzel, T. 1994 - Belief in conspiracy theories. Political Psychology 15(4): 731-42.
Upideite(14/ago/2014): Um estudo italiano sobre padrões de consumo de notícias relacionadas a teorias da conspiração. (HT Marcelo Cortimiglia FB.)
Upideite(23/dez/2014): Um estudo americano em cima de 4 levantamentos realizados nos EUA de 2006 a 2011 mostra que cerca de 50% dos americanos acreditam em pelo menos uma teoria da conspiração e que a crença nessas ideias está ligada ao desejo de acreditar em forças invisíveis de intenções ocultas e atração por narrativas maniqueístas. Não está ligada ao autoritarismo, conservadorismo político ou ignorância. (Via Maurício Tuffani.)
Upideite(06/fev/2016): Estudo de modelagem matemática sobre a probabilidade de conspirações putativas manterem-se ao longo do tempo de acordo com o número de conspiradores envolvidos. Esquemas com mais de 1.000 indivíduos tendem a falhar em menos de 4 anos.
8 comentários:
Takata,
bacana o texto. Parabéns;
Acho que é da alma do ser-humano estas fantasias. Eu que condeno teorias conspiratórias, no último post de nossa discussão sobre aquecimento global acabei deixando lá uma peça ridícula: a teoria do buraco de ozônio foi forjada por motivações financeiras - ditas por Luiz C. Molion.
Até você já tropeçou nesta quando fez uma relação sem evidências entre os cartéis do petróleo e os céticos do AGA.
Abraço.
ps. estou na correria, com tempo continuarei nosso debate sobre o aquecimento. Inté.
Muito interessante!!!
Quase sempre esses eventos tem explicações banais, mundanas e quase sempre tem um componente: o acaso. Parece muito difícil para a mente humana aceitar que as coisas simplesmente acontecem...
Não sei de quem é a citação, mas gostei: pra que uma conspiração se uma cenoura basta?
Aranha,
Não fiz nenhuma relação - muito menos sem evidências.
O que eu disse foi:"A voz dos negacionistas ecoa na mente de leigos que consideram o alerta sobre o aquecimento global mera ação de propaganda. É também conveniente para muitos setores contrariados com as medidas sugeridas para o combate ao aquecimento global: como a indústria petrolífera e países e grupos cujos meios de produção dependem fortemente de atividades poluidoras da atmosfera."
http://genereporter.blogspot.com/2009/04/aquecimento-global-parte-1-de-3.html
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De todo modo, há indícios a rodo da ligação da indústria petrolífera e várias vozes negacionistas. Apenas q não analiso isso aqui.
[]s,
Roberto Takata
Sempre é bom tomar cuidado pra não se deixar levar pela imaginação. Mas deixar de levar em conta interesses ocultos e poderosos, seria ingenuidade.
Algumas das chamadas teorias de conspiração podem bem apontar para conspirações de fato, mesmo que de maneira exagerada.
www.feralscholar.org/blog/index.php/2005/11/01/conspiracy-theory/
Revolinker,
Certamente existem conspirações. A questão é apenas de provas/indícios.
[]s,
Roberto Takata
Eu não acho que indícios sejam o suficiente para tirar possíveis denúncias de conspirações da vala comum do ridículo, para onde elas são jogadas hoje em dia. Exemplo: Gary Webbs fez um bom trabalho de investigação sobre a ligação cia-drogas-los angeles, mas quem vê o quadro acima é levado pensar que essa é mais uma teoria de conspiração sem fundamento algum, pois está ao lado de "governo" criando hiv, "governo" espalhando hiv, etc.
Revolinker,
Só os indícios podem dizer se devemos tirar algo que foge muito do esperado da vala comum das teorias malucas.
Embora o modelo bayesiano nos sugira que os partidários de certas teorias conspiratórias tenham um valor de partida para a probabilidade apriorística bastante inflado. (Sem falar em outros fatores como seleção de indícios.)
[]s,
Roberto Takata
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