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quarta-feira, 25 de março de 2009

Ruth de Aquino responde

A jornalista Ruth de Aquino respondeu a algumas manifestações no sistema de comentários de sua coluna no sítio web da revista Época. Nesta série reproduzo (e comento) as respostas da Sra. Aquino. Segue a primeira:

ruth de aquino | RJ / Rio de Janeiro | 25/03/2009 11:44
CLARO, RICARDO VENCIO
Oi, Ricardo. Pois é. Aparentemente você (e muitos leitores que me escreveram) entenderam que o texto se propõe sobretudo a ser bem humorado...Como alguns comentaram, como eu poderia ser contra a ciência se eu mesma fiz tese de mestrado na London School of Economics. Tenho muitos amigos acadêmicos. Dois deles - os principais - são pais de meus filhos, professores universitários, com pós-doc em Engenharia e Física Quântica. Tenho enorme admiração por pessoas assim - que dedicam sua vida a pesquisas, a ensinar nas universidades, ganham muito menos do que deveriam, e ajudam sim a humanidade a avançar. Mas, como em qualquer campo - jornalismo, medicina, direito, economia, literatura, cinema -, há alguns profissionais que se voltam mais para a atenção da mídia. Mais para o sucesso comercial. Tenho visto - na própria imprensa e nos sites, e isso inclui EPOCA online - um acúmulo de pesquisas que eu chamaria de pseudocientíficas, com amostragens muito pequenas e conclusões incríveis. Será um desvio das pesquisas realmente sérias? Cientistas verdadeiros também lamentam pesquisas aparentemente superficiais, lançadas para captar verba e provocar repercussão. De qualquer forma, essa crônica tem especialmente um lado de humor, que o Ricardo Vêncio, de SP, detectou - sem muita dificuldade. Acessem o IgNobel da Wikipedia, caso não gostem da coluna. É, sim, curioso e engraçado. Nada a ver com "estereotipar toda a classe científica e médica". Seria uma leviandade. E uma injustiça.
Que o texto pretendia ser engraçado é mais ou menos, como posso dizer... óbvio. Mas a tentativa de humor *não* isenta um texto de uma análise crítica. Uma coisa é um texto puramente humorístico, outra coisa é um texto jornalístico ou analítico que tenta fazer uma graça. Ademais existem piadas sem graça ou inoportunas. E, embora a jornalista admita que sua intenção não tenha sido de generalizar ou de estereotipar, o que ela fez foi efetivamente generalizar: "uma receita de riso certo". E reforçado com: "[q]uem acha que essas pesquisas estapafúrdias são exceção deve acessar o link...".

Fala em pesquisas com amostragem pequenas e conclusões incríveis. Das citadas pela Sra. Aquino, uma tinha 10 mil indivíduos (sobre os canhotos), outra mais de 10 mil (sobre o efeito dos intervalos no aprendizado), uma terceira mais de 5 mil gêmeos (sobre gosto de mulheres por características homossexuais masculinas) e apenas um com 21 indivíduos.

Esse estudo com 21 indivíduos, como comentado no post "O roto e o rasgado", certamente tem uma restrição no grau de generalização que se pode fazer das conclusões. Porém, podemos falar apenas que o número é relativamente baixo. E não que a conclusão é inválida ou "incrível". Embora o tamanho da amostra relacione-se com o poder de uma análise estatística, se uma dada variável tem uma dispersão baixa (é mais ou menos homogênea), uma amostragem relativamente pequena pode ter um poder de discriminação razoável. Por isso pode-se ter um bom grau de confiança a respeito da quantidade de sal de uma sopa com apenas uma colherada - desde que a sopa esteja bem homogênea. É o caso do estudo em questão? Não sei. Mas pode ser. Então, embora se possa levantar a restrição quando à generalização da conclusão, não é correto ridicularizar o estudo.

A autora desse trabalho, aliás, tem um currículo respeitável, com várias publicações com temas correlatos - sobre a desumanização e estereotipização social. Assim, ela certamente tem um bom embasamento para a conclusão que fez em cima dos resultados. Uma análise cuidadosa das explicações da Sra. Fiske para a mídia mostra que ela não vai além do que os dados permitem afirmar.

"This is just the first study which was focused on the idea that men of a certain age view sex as a highly desirable goal, and if you present them with a provocative woman, then that will tend to prime goal-related responses" - CNN. ("Este é apenas o primeiro estudo que foi focado na idéia de que os homens de certa idade veem o sexo como um objetivo altamente desejável, e se for apresentado a eles uma mulher provocante, então isso tende a deflagrar respostas relacionadas a esse objetivo".)

"So basically they are particularly likely to treat these women as objects, at least that is the interpretation of the data we have so far. It is a preliminary study but it is consistent with the idea that they are responding to these photographs as if they were responding to objects rather than people." - Independent. ("Então, basicamente eles são particularmente propensos a tratar essas mulheres como objeto, ao menos é a interpretação dos dados que temos até agora. Este é um estudo preliminar, mas é consistente com a idéia de que eles estão respondendo a essas fotografias como se respondessem a objetos em vez de pessoas.")

É verdade que cientistas sérios criticam estudos feitos apenas para angariar verbas e para chamar a atenção da mídia. Mas, convenhamos, esse aspecto foi tratado só marginalmente no texto da Sra. Aquino.

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