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terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Divagação científica - divulgando ciências cientificamente 7

Retomando o tema, Osame Kinouchi, em seu Semciência, provoca: "Talvez o problema seja uma visão limitada do que seja 'divulgação'. Acredito que divulgar o vocabulário científico, 'acostumar o ouvido' como meus professores do IFSC diziam, como faz o sit-com The Big Bang Theory, é um trabalho anterior necessário ao ato de divulgação e educação científica (que correspondem a outros momentos de um processo). Primeiro a pessoa precisa ter ouvido falar em Big Bang ou Caos ou Fractais, depois se surgir a curiosidade ela irá atrás destes conceitos."

Nos comentários ele expande essa ideia de que até difusão de pseudociência no estilo "Quem somos nós" seria válida.

Usando o vocabulário padronizado dos estudos sobre divulgação científica (aqui), o caso do BBT e similares seriam de difusão científica, mais do que divulgação.

Eu sou reticente quanto ao primeiro caso - considerar o BBT como uma forma de difusão* - e totalmente contrário ao segundo caso - incluir QSN na história.

Kinouchi considera esse posicionamento que defendo dentro do modelo do déficit - estaria a assumir uma postura purista acadêmica. Discordo. Mas mantenho o comentário que fiz em resposta a uma manifestação da subprefeita Soninha Francine: divulgação/difusão ruim é pior do que divulgação/difusão nenhuma.

Creio que se eu mostrar que essa tese é sustentável possamos desconsiderar a acusação de elitismo - o pior ou o melhor não seriam um juízo de valor e sim um juízo de fato.

Podemos elencar inicialmente ao menos duas teorias a respeito da psicologia que apoiariam essa visão. Uma é a teoria memética: memes competem entre si, se há já um meme instalado, tal qual um organismo que ocupe previamente um nicho, ele terá uma vantagem inicial (não que jamais ele seja deslocado pelo novo meme, mas sim que dará mais trabalho ao novo meme do que se não houvesse nenhum meme anterior). A outra é uma certa interpretação da teoria piagetiana: em que o processo de aprendizagem se dá em cima das preconcepções trazidas pelos indivíduos.

Mas deixando a base teórica de lado, podemos recorrer aos dados empíricos. Eaton et al. 1984 acompanharam a evolução de 6 alunos do 5o ano escolar americano com erros de concepção a respeito da visão: achavam que os objetos eram visíveis porque a luz incidia sobre eles e não porque a luz refletida alcançavam seus olhos. Cinco deles não mudaram sua concepção ao fim da unidade a explicar o processo de visão. Manzey et al. 1996 apresentam um resultado de ensino-aprendizagem mais bem sucedida - alunos com erros de concepção a respeito de evolução mostraram mudanças de concepção, mas acabaram por desenvolver um conceito híbrido entre o que tinham antes e o que lhes foi ensinado. Kendeou e van den Broek (2005) estudaram 63 alunos de graduação matriculados em uma disciplina de introdução à psicologia (o segundo grupo de estudo preferido dos psicólogos - atrás apenas de alunos de pós-graduação): os alunos que apresentaram uma preconcepção errônea de conceitos científicos, no processo de relembrar o que foi estudado, apresentaram dificuldades da compreensão dos conceitos corretos.

Referências:
Eaton et al. 1984 - Student's misconceptions interfere with science learning: case studies of fifth-grade students. The Elementary School Journal 84(4): 365-79. http://www.eric.ed.gov/ERICDocs/data/ericdocs2sql/content_storage_01/0000019b/80/31/d5/01.pdf
Manzey et al. 1996 - Misconceptions in natural selection: conceptual change through time in biology classrooms. Proceedings of the 7th International Conference on Learning sciences. Pp: 958-9. Disponível em: http://portal.acm.org/citation.cfm?id=1150198
Kendeou & van den Broek 2005 - The Effects of Readers’ Misconceptions on Comprehension of Scientific Text. Journal of Educational Psychology 97(2): 235-45. Disponível em: http://people.mcgill.ca/files/panayiota.kendeou/Kendeou2.pdf

*Que não me compreendam mal. Não tenho nada contra a série. Ao contrário, gosto bastante dela. Apenas acho que não se deve inclui-la como uma forma de difusão - p.e. em um programa de aculturação científica incluir a produção de séries humorísticas no estilo. Penso até que, para se aproveitar por completo a série e suas tiradas, é preciso ter um conhecimento prévio de ciências - é um processo oposto, portanto.

Um comentário:

Osame Kinouchi disse...

Fiz a réplica em:

http://comciencias.blogspot.com/2009/12/divulgando-ciencia-cientificamente.html

Acho que este debate está sendo bem interessante e deveria contar com a participação de outros...

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