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domingo, 6 de maio de 2012

Como estão as previsões sobre a temperatura?

Faço uma pequena pausa em minha análise da entrevista de Ricardo Felício, da USP, ao Programa do Jô. Mas continuo ainda no tema do aquecimento global.

O primeiro relatório do IPCC já tem 20 anos, atualmente estamos com o quinto relatório em andamento: os trabalhos serão liberados a partir do ano que vem.

Já é possível fazer um balanço das previsões anteriores sobre a evolução da temperatura média da superfície da Terra e comparar com os dados reais obtidos desde então.

A Figura 1 faz a comparação para as previsões dos três primeiros relatórios do IPCC - não incluí o 4o relatório, por ser relativamente recente: de 2007, haveria apenas uma meia dúzia de pontos para comparação efetiva.

Figura 1. Evolução da temperatura média global versus evolução predita nos modelos usados pelo IPCC. Para os dois primeiros painéis, em laranja, são os pontos da média do ano, em verde, os pontos da média de 5 anos; no terceiro painel, por causa do contraste, a média do ano está em amarelo e a média de 5 anos, em azul claro. Fonte: GISS/Nasa.

Como não tenho acesso aos valores numéricos ponto a ponto das previsões dos modelos usados pelo IPCC, plotei os valores reais calculados pelo GISS/Nasa - na verdade, a diferença ano a ano em relação ao valor base de 1990 - sobre as figuras dos gráficos das previsões*. Assim também o exame será só visual, não sendo possível um teste estatístico.

Os dados não acompanham muito bem as previsões do 1o IPCC - que ainda só considera dois cenários: um em que nada muda em termos de emissão e outro em que as emissões são reduzidas à metade. É possível se ver que os modelos ainda estavam razoavelmente pouco elaborados.

A partir do 2o IPCC, há mais cenários, incluindo aumento no ritmo de emissão, mas que não divergem muito de início. Os dados reais acompanham bem, especialmente a média de 5 anos, que elimina a grande variação interanual.

No 3o IPCC, os dados reais parecem estar bem dentro das projeções, que agora incorporam as regiões de incertezas. Mais um vez, os dados das médias de 5 anos se encaixam melhor.

E podemos acompanhar a melhora do poder preditivo dos modelos ao longo de pouco mais de uma década que separa o 1o relatório do 3o, mostrando o refinamento das simulações à medida em que mais conhecimento é incorporado. Ainda temos bastante incertezas a respeito de cenários mais longos de 20, 30 anos ou 100 anos, mas, pelos dados disponíveis e nosso nível de conhecimento atual, há uma tendência de aumento - bem como as alterações climáticas associadas. E, por mais que não haja certezas, é bom se precaver. Especialmente com as previsões de modelos que têm se mostrado robustos.

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O Concurso Cultural GR valendo um exemplar gratuito de "O que é vida?" de Lynn Margulis e Dorion Sagan continua. Tente decifrar o enigma ou arrisque um palpite.

*Upideite(07/mai/2012): adido a esta data.

*Upideite(08/mai/2012): Claudio Angelo, no Entre Colchetes, apresenta outros gráficos, entre os quais um que compara o ritmo de perda do gelo marinho do Ártico e o previsto no IPCC (a postagem comenta, e rebate, a entrevista de James Lovelock em que diz que não houve aumento de temperatura em anos recentes).
Carlos Orsi, também comentando sobre as declarações de Lovelock, apresenta outro gráfico de comparação entre o previsto e o obsevado - de temperatura, de James Hansen de 1981.

Upideite(10/dez/2012): Estudo recém-publicado na Nature Climate Change analisa as previsões feitas no 1o IPCC - os resultados batem de modo geral. E os gases estufa parecem estar dominando sobre outras forçantes radioativas. via @carlosom71.

Upideite(08/dez/2019): Em um estudo recém-publicado, Hausfather e cols. avaliaram as previsões de modelos criados entre 1970 e 2007. Dos 17 modelos avaliados, 10 tiveram previsões acertadas das temperaturas médias até 2017 - com a inclusão da variação real das emissões de CO2 (e não as projetadas à época), 14 modelos acertam a variação da temperatura no período. Via @MarceloNLeite tw.

10 comentários:

fravio disse...

http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/ah-quanta-revolta-por-causa-do-pum-dos-dinossauros-o-caminho-da-farsa-coletiva-voce-acredita-no-aquecimento-global-porque-as-pessoas-acreditam-e-as-pessoas-acreditam-porque-voce-acredita

none disse...

@fravio,

Grato pela visita.

O RA é engraçado. Mas está errado. Basicamente pelos mesmos motivos pelos quais apresentei que Felício (e Molion) estão errados. As diferenças entre eles são apenas de natureza político-ideológica, mas fatualmente estão igualmente em relação ao aquecimento global.

[]s,

Roberto Takata

fravio disse...

Grato tb, Roberto.
Indiquei o hipertexto do R.A. pq cita a entrevista do James Lovelock. (Este é o segundo ou terceiro texto dele sobre isto, em poucos dias).
Não acho que o texto dele esteja ERRADO. Ele brinca com a confissão do Lovelock sobre o alarmismo, e com as extrapolações estatísticas dos que criam cenários tanto pro nível do mar em 2100 como para o sistema digestivo dos brontossáuros (tendo que chutar seu número e pegando parametro do metano eliminado por mamíferos).
Eles podem até acertar na escala de grandeza MAS podem errar longe.
Estatística tende a sucks, né?

Abraço!

none disse...

@fravio,

Desculpe, não entendi o q vc quis dizer.

Há catastrofismo de uma parte, mas não por parte dos cientistas do clima. Os modelos, como procuro mostrar na minha postagem, são robustos.

O próprio Lindzen não nega o aquecimento, não nega a participação antrópica. Apenas achava que a variação seria relativamente pequena - de uns 0,5oC. Bem, em 20 anos, desde o primeiro relatório do IPCC, tivemos um aumento de cerca de 0,3oC... Provavelmente, Lindzen terá q rever sua projeção.

[]s,

Roberto Takata

fravio disse...

Takata,
Falei em alarmismo em referência ao título do texto sobre o Lovelock*.
Juntei Lovelock e efeito estufa causado por metano de alguns dinossauros pq em ambos foram usados modelos estatísticos para chegar às conclusões.
Entendi do texto que indiquei, que nem R.A. nem Lovelock dizem que o aquecimento não existe. Somente que previsões de 2m de subida do nível do mar até 2100 foram revisadas na compilação dos últimos dados para 0.8m.
Não que seja pouco 0.80m, mas 2m era alarmista (não científico, mais para Manchetesco).



* http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/guia-espiritual-da-turma-do-%E2%80%9Caquecimento-global%E2%80%9D-confessa-era-alarmismo-leia-dilma-antes-de-se-submeter-a-patrulha-no-caso-do-codigo-florestal/

none disse...

@fravop,

O alarmismo é ruim, sim. Mas a questão é que a comunidade dos climatologistas é bem serena em suas projeções.

O RA é um negacionista climático. Ele não acredita na influência humana significativa no clima. Se vc pegar a previsão do IPCC de 2007 (o 4o relatório), a elevação esperada do nível do mar é bem menor: 0,26 – 0,59 m.

Não se pode pegar *um* estudo de *um* cientista que faça uma previsão substancialmente menor pra falar que a *hipótese do aquecimento global antropogênico* ou que a *comunidade* que defende essa hipótese é alarmista.

O aquecimento global que o metano gerado pela digestão dos dinossauros causava não pode ser colocada na cota do alarmismo. Tirando as aves, hoje não existem dinossauros.

[]s,

Roberto Takata

André disse...

Tentei postar um comentário no link que você passou e caí aqui. Então vai aqui mesmo.
No texto "Como estão as previsões sobre a temperatura?" parece haver uma estabilização da temperatura a partir de 2003. Procede? Qual a explicação?

none disse...

Não dá pra falar em estabilização, André.

Veja que entre 1990 e 1995, p.e, tb temos um pequeno platô das temperaturas médias de 5 anos. Se recuarmos no tempo, encontraremos até intervalos em que a temperatura média caiu.

Essa variação é esperada: há vários fatores que influenciam (como a atividade solar, a atividade vulcânica, a nebulosidade, etc). Mas a tendência maior neste período de 200 anos é de aumento.

[]s,

Roberto Takata

André disse...

Ok, nove anos é pouco. E quanto ao período de 1940 a 1980?

none disse...

André,

Houve uma queda mais ou menos entre 1940 e 1950, e desde 1980 há aquecimento praticamente contínuo.

O período mais longo de queda foi entre 1880 e 1910.

Veja os gráficos em:
http://genereporter.blogspot.com.br/2009/04/aquecimento-global-parte-1-de-3.html

[]s,

Roberto Takata

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