Não tenho por hábito comentar aqui no calor dos acontecimentos (em outros lugares sou menos, digamos, comedido) - na maior parte das vezes há ganho substancial: pois novos dados ajudam a esclarecer o que durante a hype ainda são apenas suposições ou mudam radicalmente as impressões iniciais.
Desse modo não queria comentar tão já a questão dos emails de pesquisadores da Climatic Research Unity que foram
roubados do servidor da University of East Anglia, mesmo após alguns blogues influentes terem dado guarida (acrítica, na minha opinião) à tese conspiracionista
de adulteração* por parte dos panelistas do IPCC:
aqui e
aqui. Mas um representante (representante aqui no sentido de espécime, indivíduo que pode ser classificado em um dado grupo)* dos negacionistas climáticos - cujas objeções à hipótese do aquecimento global já foram publicadas (e comentadas) no GR:
aqui,
aqui,
aqui e
aqui - adiantou-se nos
comentários do blogue.
Não tenho muito (nada) a acrescentar às análises já feitas alhures por outrem. Recomendo estes textos:
The hacked climate science email scandal that wasn'tThe CRU hack: ContextClimagate (só para assinantes)**
Climatologists under pressure***
ClimateGate: EXTRA! Cientistas conversam entre si!****
Esse episódio apenas reforça a minha impressão geral de que os negacionistas climáticos estão mais comprometidos com sua ideologia do que com bons dados: exatamente o que parte deles acusam os defensores da hipótese do aquecimento global antropogênico de serem.
Quanto à base de dados, os pontos gerais foram comentados na série sobre o aquecimento global:
aqui,
aqui e
aqui.
Não colocarei o link aqui para as fontes onde pode
m ser obtida cópia dos emails roubados. Mas pode
m ser facilmente obtida
s com uma busca rápida. São quase 62 MB abrangendo um período de 13 anos de troca de mensagens eletrônicas - mas está longe de ser uma base completa. Até o momento, o máximo que encontraram foi uma menção ao termo "trick" ("truque") para se referir a um modo de se compatibilizar duas bases de dados de temperatura.
From: Phil Jones
To: ray bradley ,mann@xxx, mhughes@xxx
Subject: Diagram for WMO Statement
Date: Tue, 16 Nov 1999 13:31:15 +0000
Cc: k.briffa@xxx,t.osborn@xxx
Dear Ray, Mike and Malcolm,
Once Tim's got a diagram here we'll send that either later today or
first thing tomorrow.
I've just completed Mike's Nature trick of adding in the real temps
to each series for the last 20 years (ie from 1981 onwards) amd from
1961 for Keith's to hide the decline. Mike's series got the annual
land and marine values while the other two got April-Sept for NH land
N of 20N. The latter two are real for 1999, while the estimate for 1999
for NH combined is +0.44C wrt 61-90. The Global estimate for 1999 with
data through Oct is +0.35C cf. 0.57 for 1998.
Thanks for the comments, Ray.
Cheers
Phil
Prof. Phil Jones
Climatic Research Unit Telephone +44 (0) 1603 592090 +44 (0) 1603 592090
School of Environmental Sciences Fax +44 (0) 1603 507784
University of East Anglia
Norwich Email p.jones@xxx
Para a explicação da expressão "hide the decline":
aqui. Na dendroclimatologia - que envolve a avaliação da temperatura passada por meio do crescimento em anéis das árvores -, os dados desde 1850 até 1960 são compatíveis com os obtidos a partir de modelos que usam esses anéis; mas a partir da década de 1970, os registros de temperatura passam a divergir: os dados extrapolados a partir dos anéis indicam uma temperatura em declínio e os registros diretos das temperaturas (direto não é o termo exato, já que se valem de termômetros - isto é, a leitura na verdade é indireta - depende da leitura dos termômetros, em particular da altura da coluna do fluido, mercúrio ou álcool) indicam aquecimento. Phil Jones desenvolveu um modo, um "truque", que faz com que os dados dendroclimatológicos sejam compatíveis com os registros diretos de temperatura -
esse a base desse* "truque" foi publicado no artigo de 1998 na Nature. Portanto, nada de escândalo real. Próximo!
*(29/nov/2009): atualizado a esta data.
**(29/nov/2009): atualizado a esta data. Observação impertinente: de fato, em alguns lugares, chamam a questão dos emails de 'climategate', bem ao gosto da Folha, que nomeia todo escândalo (real ou não) de X-gate: Collorgate, Dilmagate, Sarneygate... (qualquer dia ainda teremos: Colgate, Billgates, stargate).
***
(02/dez/2009): atualizado a esta data.
****
(03/dez/2009): atualizado a esta data.